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Nº 1395 - Ano 29 - 08.05.2003


História radiografada

Escola de Arquitetura finaliza inventário do patrimônio cultural
de Mariana e Ouro Preto

Ludmila Rodrigues

m meio às ameaças que pairam sobre o patrimônio histórico nacional - a mais recente foi o incêndio que destruiu um casarão em Ouro Preto - a conclusão do inventário de bens imóveis em Ouro Preto e Mariana, por uma equipe de pesquisadores da Escola de Arquitetura, é uma esperança. Com cerca de 1.600 imóveis analisados, o levantamento do estágio de conservação do casario dos séculos 18 e 19, nas duas cidades mineiras, é um instrumento que pode ajudar a evitar muitos incêndios.

Finalizado no final do ano passado, o Inventário compõe-se de um banco de informações com fontes documentais sobre a história da ocupação do território e da evolução urbana dos sítios; banco de dados de 1.104 imóveis - residenciais e não-residenciais - em Ouro Preto, e 456 em Mariana, incluindo levantamentos fotográficos, de lotes, de características arquitetônicas e de estado de conservação. O estudo também foi enriquecido com informações socioeconômicas da população dos dois municípios, com plantas cadastrais atualizadas dos sítios urbanos tombados e maquetes eletrônicas. "Fizemos um verdadeiro Raio X de Ouro Preto e Mariana", define o coordenador do projeto, professor Frederico Tofani, da Escola de Arquitetura.

Preocupação

O levantamento mostra que 40% dos casarões de Ouro Preto e 32% dos de Mariana apresentam problemas de conservação. "Ainda que fossem só 10%, seria um índice assustador", salienta Tofani. Infiltrações, rachaduras e outras falhas ameaçam as estruturas do casario tombado. De acordo com a professora Fernanda Borges, subcoordenadora do projeto, o casarão de Ouro Preto, alvo de incêndio em abril, por exemplo, tinha 80% de suas paredes ainda em pau-a-pique. "Por sorte, o incêndio não se alastrou para os casarões vizinhos, que também estão em situação precária", adverte a professora.

"O nível de fragilidade das construções é muito grande", acrescenta o professor Frederico Tofani. Segundo ele, as principais causas da precariedade são as pressões urbanas. "A falta de controle do adensamento e o impacto do mercado imobiliário fazem com que os lotes sejam ocupados de forma irregular. Também são freqüentes alterações nas fachadas e os famosos puxadinhos", completa Fernanda Borges. Além disso, diferentemente dos monumentos, os imóveis residenciais são permanentemente descaracterizados, pois estão em constante contato com os habitantes. "É um desafio lidar com a conservação dos casarios", afirma Tofani. Em Ouro Preto, as dificuldades são agravadas pelo relevo acidentado, que provoca instabilidades geológicas.

Resistência

Apesar do esforço da equipe da Escola de Arquitetura, nem todo o casario das duas cidades foi inventariado. O índice chegou a 70% em Ouro Preto e a 53% em Mariana. A professora Fernanda Borges afirma que os pesquisadores enfrentaram forte resistência dos moradores. "As pessoas temiam a presença do Iphan, nosso parceiro, e acreditavam que seriam punidas com multas e advertências, mesmo alertadas de que as pesquisas não tinham caráter fiscalizatório", explica a professora.

Para Frederico Tofani, a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nas cidades de Ouro Preto e Mariana, é dificultada principalmente pela falta de recursos humanos. "O Iphan distanciou-se das comunidades, e isso atrapalha muito", argumenta, lembrando que pesquisa socioeconômica que integra o inventário constatou que as ações do órgão foram muito criticadas. Das 550 pessoas entrevistadas nas duas cidades pela equipe do projeto, cerca de 80% reprovam a atuação do órgão.

 

Primeiro inventário foi em Porto Seguro

A equipe da Escola de Arquitetura da UFMG é pioneira na preparação de inventários de imóveis de cidades históricas. Em 1999, ela realizou trabalho do gênero na região de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, na Bahia, berço do descobrimento do Brasil. Por conta dessa bem-sucedida experiência, o Iphan encomendou ao grupo coordenado pelo professor Frederico Tofani um levantamento dos bens imóveis dos sítios urbanos tombados de Mariana e Ouro Preto. O projeto faz parte do programa Monumenta, desenvolvido pelo Instituto.

No ano passado, depois de dois meses de cursos e treinamentos, uma equipe de cerca de cem pessoas, entre professores dos departamentos de História, Sociologia e Antropologia, arquitetos e estagiários, iniciou a atividade de campo. A partir de abril de 2002, os dados da pesquisa foram digitalizados e analisados. Na Escola de Arquitetura, o inventário desdobrou-se numa pesquisa que utiliza os dados do levantamento para detalhar ainda mais a situação dos imóveis.

 

Pesquisa: Inventário nacional de bens imóveis nos sítios urbanos tombados de Ouro Preto e Mariana
Unidade: Escola de Arquitetura
Equipe: professores Frederico Tofani (coordenador) e Fernanda Borges de Moraes (subcoordenadora), da Escola de Arquitetura e Urbanismo, e Rodrigo Otávio De Marco Meniconi (subcoordenador), da PUC-MG. O projeto contou com a colaboração de cerca de cem profissionais, entre arquitetos, pesquisadores, estagiários, fotógrafo e publicitário da UFMG, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), de Ouro Preto e Mariana.