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Nº 1413 - Ano 29 - 23.10.2003

O combustível do futuro

UFMG e governo de Minas firmam parceria para implantar unidades produtoras de biodiesel

Fiorenza Carnielli

conta é simples e dramática. Simples porque, para cada 1% de acréscimo no Produto Interno Bruto (PIB), é necessário um incremento de 1,7% no consumo de energia. Dramática porque, daqui a 40 anos, as reservas de petróleo, principal fonte de energia, estarão esgotadas. Sem petróleo, como o mundo irá se mover? Uma resposta pode estar no biodiesel, combustível obtido a partir de matéria orgânica rica em óleo, como mamona, pinhão-manso, girassol, soja, dendê, e até mesmo do esgoto residencial.

A produção em larga escala do biodiesel em Minas Gerais é o objetivo da parceria entre a UFMG e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sudese). E esse horizonte não está distante. O programa brasileiro de biocombustíveis, coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, prevê que, até 2005, o diesel fóssil vendido nos postos de combustíveis conterá 5% de biodiesel. O que equivale a uma economia de 1,3 bilhão de litros de diesel importado.

Só em Minas, esse percentual misturado ao diesel significaria uma economia anual de US$100 milhões. O biodiesel será utilizado na frota de transportes coletivos e de cargas, podendo também ser aplicado em motores estacionários para geração de eletricidade, irrigação de lavouras, tratores e colheitadeiras.

O professor Inácio Loiola Campos, do departamento de Engenharia Nuclear da Escola de Engenharia, e que trabalha junto à Sedese no desenvolvimento do programa mineiro de biodiesel, afirma que é viável a substituição total do diesel fóssil pelo combustível vegetal. "O biodiesel é uma alternativa capaz de fazer frente à demanda energética renovável", afirma o pesquisador.

O biodiesel já é utilizado nos Estados Unidos e na Europa. Só que nesses lugares o custo de produção é elevado, e as áreas agrícolas, escassas. Problemas que, segundo Inácio Campos, o Brasil não enfrenta. "Nos Estados Unidos e na Europa, a produtividade de óleo por hectare não ultrapassa uma tonelada. No Brasil, ela é, no mínimo, duas vezes maior ", compara.

Outra vantagem competitiva do Brasil reside na proposta de uso do etanol (álcool obtido a partir da cana-de-açúcar, por exemplo) e não do metanol (subproduto do petróleo), utilizado como reagente para o biodiesel em outros países. "Cem por cento do biodiesel brasileiro virão da biomassa, o que assegura uma qualidade ecológica superior", afirma Campos.

Modelo mineiro

Em Minas Gerais, as plantas oleaginosas viáveis para a obtenção do biodiesel são a mamona e o pinhão-manso. Este é uma espécie nativa que hoje não apresenta qualquer aplicação econômica. A mamona apresenta índice de 46% de óleo e produtividade média de 1,2 tonelada de sementes por hectare, podendo chegar a quatro toneladas com a aplicação de técnicas agrícolas. O pinhão-manso leva de três a quatro anos para atingir a idade produtiva, que se estende por 40 anos, e produz, no mínimo, duas toneladas de óleo por hectare. "Num primeiro momento, a idéia é associar as duas culturas. Enquanto as árvores de pinhão-manso crescem, usaremos a mamona", diz o pesquisador Inácio Loiola Campos.

O modelo proposto pela Sedese prevê a instalação de cooperativas de produção de biodiesel. O órgão aguarda a liberação do Ministério da Ciência e Tecnologia de R$ 3 milhões para custear o desenvolvimentro do programa. As unidades terão capacidade para produzir até um milhão de litros de combustível por ano e atenderão a demandas locais pelo produto. Os municípios de Ouro Branco e Florestal deverão abrigar as duas primeiras cooperativas de produção. A UFMG está encarregada de oferecer suporte técnico e científico ao programa.

As vantagens

A adoção do combustível traz muitas vantagens. Em relação ao diesel fóssil, a queima de biodiesel reduz em 55% a emissão de fuligem e em 35% a liberação de hidrocarboneto, substância cancerígena. Além disso, o gás carbônico gerado na queima é consumido no processo de fotossíntese realizado nas lavouras de plantas oleaginosas e devolvido à atmosfera como oxigênio. Dessa forma, há um ciclo fechado de produção sem sobras poluentes (veja infográfico).

O processo químico de obtenção do biodiesel, a transesterificação, baseia-se na reação do óleo vegetal com o álcool, facilitada por um catalisador. Dois subprodutos resultam desse processo: uma torta orgânica, que pode ser utilizada como adubo, e a glicerina, aplicada na fabricação de cosméticos.

1. Gás carbônico (CO2) gerado na queima de combustível é lançado na atmosfera;

2. CO2 é consumido no processo de fotossíntese realizado nas lavouras de plantas oleaginosas. O oxigênio é devolvido à atmosfera, e o carbono passa a fazer parte da composição do óleo;

3. Sem sobras poluentes, o ciclo se fecha com a geração do biodiesel.