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Nº 1618 - Ano 34
28.07.2008

Natureza redesenhada

Ilustração científica ainda é a melhor forma de representar
espécies do ecossistema

Pâmilla Vilas Boas Costa Ribeiro*

O olhar do ilustrador ainda é o principal recurso para dar vida à representação de plantas e animais, promovendo o encontro entre percepção, arte, rigor científico e realidade. Nem mesmo o advento das tecnologias, representadas por câmeras fotográficas e recursos da computação, conseguiu superar a importância da ilustração científica para a representação da natureza.

O objetivo dos profissionais desse campo é documentar espécies e perpetuar o conhecimento. Sua atribuição vai muito além de retratar a realidade, razão pela qual a fotografia não pode substituir a ilustração. Ao representar determinada espécie, o ilustrador adapta o desenho a uma linguagem científica para incorporar vários elementos que serão importantes para a caracterização daquela espécie. “Quase sempre um pássaro não está na posição adequada para uma foto. Na ilustração, é possível mostrar as medidas e proporções corretas, o número de penas das asas e a forma do bico”, exemplifica Rosa Alves, coordenadora do Programa de Extensão em Ilustração Científica da UFMG.

flor
Ilustração científica da Bromelia Vriesea feita por Rosa Alves

A ilustração também é imprescindível para o registro das novas espécies e para a publicação de revistas e artigos científicos que tratam delas. A professora Rosy Mary dos Santos Isaias, do Departamento de Botânica do ICB, explica que muitas espécies já extintas são identificadas e estudadas a partir das ilustrações. Em alguns casos, são as melhores referências disponíveis. “Algumas ilustrações são tão bem feitas que é como se você estivesse diante de um exemplar da espécie”, argumenta.

Segundo Rosy Mary, o número de ilustrações é pequeno diante da grande diversidade biológica. “A velocidade de devastação é maior do que a nossa capacidade de estudar e ilustrar as espécies que nem conhecemos”, ela diz.

Pioneirismo

Mesmo com essa demanda, a bibliografia sobre o assunto e os cursos para formação de ilustradores científicos são praticamente inexistentes no Brasil. O Programa da UFMG é pioneiro na criação de cursos para formação de ilustradores e na publicação de cadernos que tratam do tema. Foi criado no início de 2005 e já certificou 230 ilustradores. Os cursos são oferecidos semestralmente e, a partir de agosto, o programa contará com um módulo sobre ilustração zoológica.

Um dos principais desdobramentos do Programa é a publicação de cadernos, que alia normas técnicas com o conhecimento desenvolvido durante os cursos. O primeiro caderno editado traz uma apresentação geral do campo da ilustração científica, e aborda técnicas de desenho em grafite. O segundo trata da ilustração botânica e suas aplicações e ensina a montar uma prancha botânica. O terceiro volume, intitulado Aquarela, de autoria da artista e ilustradora Dilce Laranjeira, foi lançado em julho, durante o II Encontro Brasileiro de IIustração Científica, em Curitiba.

*Estagiária da Assessoria de Comunicação da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG

Treinando o olhar

Orientados por professores e servidores técnicos e administrativos, quatro bolsistas da UFMG estão ministrando oficinas de arte-educação ambiental para alunos das escolas municipais Aurélio Pires, no bairro Jaraguá, e Lídia Angélica, no Planalto. Mais de 500 crianças já participaram das atividades que tiveram início no ano de 2006.

Segundo o bolsista Josias Marinho, aluno do curso de Artes Visuais, o grande objetivo da oficina é treinar o olhar das crianças em relação ao ambiente. “Meu plano de trabalho baseia-se na observação de objetos mais próximos dos alunos. Por isso, eu os levo para caminhar e colher plantas e frutas secas. Depois, eles começam a desenhar”, explica.
Esse é o primeiro passo da ilustração científica. Os alunos observam a natureza e, por meio de desenho, desenvolvem novas percepções sobre detalhes importantes do ambiente. Para Rosa Alves, um olhar treinado é o recurso mais importante de que dispõe um ilustrador científico, já que ele fica mais tempo observando do que desenhando.

Elena Moreira, 14 anos, aluna da oficina Arte-educação-ambiental, diz que hoje vê a natureza com outros olhos, o que fez com que aprimorasse sua técnica de desenho e seu interesse pelo meio ambiente. “A partir do desenho ficou mais fácil entender a natureza”, ela conta.