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Nº 1628 - Ano 35
06.10.2008

Soy latino-americano

Grupo de teatro formado por ex-alunos da UFMG evoca a cultura latino-americana e, com pouco mais de um ano de existência, já registra vários prêmios no currículo

Léo Rodrigues

Somos brasileiros, mas somos também latino-americanos. Foi com esse pensamento que cinco alunos de Artes Cênicas se uniram em maio do ano passado para pesquisar sobre o teatro dos países vizinhos. A motivação foi a disciplina ministrada pela professora chilena Sara Rojo. Após aprofundar os conhecimentos sobre as artes cênicas na América Latina, Marcos Coletta, Sérgio Nicácio, Ítalo Laureano, Rejane Faria e Polyana Horta decidiram levar os estudos para a prática. Surgiu assim o grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum. Os alunos se graduaram, mas a convicção no projeto fez que eles mantivessem o grupo.

Segundo Marcos Coletta, os Estados Unidos exercem maior influência cultural no Brasil do que os nossos vizinhos. Aqui, o sentimento latino-americano é menos intenso. “Temos uma história comum. Fomos colonizados e depois explorados das mais diversas formas. O povo da América Latina, seja qual for o país, sofre as mesmas dificuldades. Por isso, precisamos nos unir. Não é por termos uma língua diferente que temos menos identidade com as demais nações latino-americanas”, explica Marcos.

A presença da abordagem política é um traço presente em todas as cenas que o Quatroloscinco – Teatro do Comum produziu até o momento. O grupo trabalha a política diluída nos dilemas pessoais. Marcos Coletta, porém, considera o termo “teatro político” um pleonasmo. “Todo teatro é político. Por mais isento que se tente ser, algumas visões de mundo sempre estarão presentes nas peças teatrais”, ele explica. O ator reconhece que existem níveis diferentes de engajamento e identifica no teatro latino-americano uma ligação íntima com as questões políticas vivenciadas no continente.

Cena vencedora no IX Festival de Cenas curtas do galpão cine horto 2008

Prêmios

O grupo também é influenciado pelo dramaturgo polonês Grotówski (1933–1999), para o qual os cenários, os figurinos e a iluminação são elementos desnecessários ao significado central da cena. Assim, a ênfase recai sobre o trabalho do ator e a sua interação com o público. Nasceu daí a idéia do nome Teatro do Comum. Grotówski também defendia que os atores não interpretassem terceiros e sim a si mesmos. Foi com base nesses princípios que o grupo elaborou uma proposta vitoriosa para o Projeto Laboratório Textualidade Cênica, iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte e do Teatro Francisco Nunes. Intitulada Descaminhos, convidava o público a se retirar do teatro e caminhar pelo Parque Municipal, tomando vinho e conversando sobre temas diversos.

Motivado pelo sucesso da cena, o Quatroloscinco decidiu participar do concurso Cenas Curtas do Grupo Galpão, em junho deste ano. Apresentou o diálogo É só uma formalidade, no qual o protagonista divide com o público os seus fracassos. Uma crise pessoal o impede de cumprir o papel social que desejava. Nessa esfera, misturam-se críticas ao capitalismo e à igreja. A cena foi inspirada no monólogo Só os babacas falam de amor, do argentino César Brie, membro do grupo boliviano Teatro de los Andes. Vitorioso no concurso, o grupo ganhou prêmio de R$ 1 mil e a viabilização de temporadas em Belo Horizonte e em Ipatinga.

O mesmo diálogo foi também vitorioso no Festival de Esquetes de Cabo Frio, no mês passado. Foi escolhido nas categorias de melhor cena e de melhor texto, o que valeu premiação de R$ 1.300. Como o grupo ainda não tem patrocínio, essas conquistas, aliadas a algumas parcerias, têm garantido a sua existência. A mais nova parceira é a Companhia Clara, que se comprometeu a emprestar sede e infra-estrutura para que o grupo trabalhe em seu novo projeto. Trata-se da adaptação da cena vitoriosa nos concursos do Galpão e de Cabo Frio para um espetáculo com duração de uma hora. A expectativa é que o trabalho seja levado ao público em abril de 2009.