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Nº 1654 - Ano 35
25.5.2009

Nem tão exata assim

Curso de graduação em Estatística chega aos 30 anos celebrando tempos de prosperidade

Léo Rodrigues

Um ditado popular diz que a vida começa aos 30 anos. Dificilmente haverá consenso sobre até que ponto há verdade nesta afirmação. Contudo, ela parece fazer sentido ao se analisar a história do curso de graduação em Estatística da UFMG, que acaba de comemorar três décadas de existência. Dono de uma trajetória marcada por percalços, o curso conseguiu se organizar para superar as dificuldades e hoje é reconhecido nacionalmente pela sua excelência.

Parte dessa história foi rememorada entre os dias 20 e 22 de maio, durante o Fórum Mineiro de Estatística e Probabilidade: os 30 anos do curso de Estatística da UFMG, realizado em parceria com a Capes, a Fapemig e a própria UFMG, através do Programa de Apoio Integrado a Eventos (Paie) e do ICEx. Embora o curso tenha completado 30 anos no ano passado, foi neste evento que ocorreu a celebração do aniversário. O auditório III do ICEx sediou diversas conferências com convidados nacionais e internacionais. “Além de comemorar a data, o objetivo foi divulgar a nossa pesquisa e internacionalizar o curso”, conta Rosângela Loschi, chefe do departamento.

O desejo de internacionalização evidencia um curso consolidado, pronto para dar passos ousados. Mas, no passado, a resolução de problemas internos exigiu muito trabalho dos docentes. A taxa de evasão do curso alcançou 90% em 1992. A situação começou a mudar em 1998, quando foi aprovado um plano de metas para combater o problema. O acompanhamento mais próximo dos professores, o incentivo às atividades de pesquisa e extensão, a realização de eventos da área e o surgimento da Empresa Júnior são fatores que contribuíram para mudar o quadro. Em 2008, a evasão foi de apenas 3%.

“Um dos primeiros desafios foi a capacitação dos docentes, já que muitos vieram de áreas distintas e apenas o professor José Francisco Soares tinha formação em estatística”, conta Sueli Mingoti, professora do departamento desde 1982. “Outra dificuldade era a ausência de tecnologia. Apenas no Centro de Computação da UFMG (Cecom) existia um computador que processava os dados. Alunos e professores precisavam recorrer a ele, o que resultava em filas. Aos poucos o curso foi se equipando”, acrescenta ela.

Possibilidades

O currículo do curso será modificado no segundo semestre para se adequar às novas diretrizes do Ministério da Educação. Mas a estrutura deve ser pouco alterada. Nos dois primeiros períodos, há conteúdos básicos de matemática, como cálculo e geometria analítica. Daí em diante, a atenção se volta principalmente para a metodologia estatística. “No início, há maior taxa de reprovação. Os alunos têm saído do ensino médio com pouca base matemática e isto precisa ser trabalhado. Quem não gosta de matemática deve pensar melhor antes de optar pelo curso de Estatística”, aconselha Ela Mercedes, coordenadora do colegiado do curso.

A grade curricular, segundo a coordenadora, permite a capacitação tanto de quem deseja ingressar no mercado como daqueles que pretendem seguir carreira acadêmica. “O mercado é amplo e muitos alunos já saem do curso empregados, geralmente nos mesmos lugares onde fizeram seus estágios”, conta Ela Mercedes. Segundo ela, um diferencial importante é a boa redação. Isso porque não basta ao profissional da área apenas levantar e processar os dados estatísticos. É necessário apresentar relatórios interpretando as características dos dados.

A professora Ela Mercedes conta ainda que o curso é interdisciplinar, pois seu conteúdo pode ser utilizado em diversas áreas do conhecimento. “Alunos da Ciências Econômicas, da Administração, da Engenharia de Produção e de diversos outros cursos fazem disciplinas conosco. Nós já ofertamos também uma disciplina para a Comunicação Social. Hoje, isso não acontece mais. Acho que um jornalista que vai noticiar dados estatísticos diariamente deveria ter conhecimento específico”, argumenta Ela Mercedes.

Ampliação

Em 1996, o departamento criou o mestrado e, em 2006, o doutorado. Já são mais de 100 dissertações defendidas e a primeira defesa de tese acontecerá ainda este semestre. Há também um curso de especialização, voltado para estatísticos de instituições públicas e empresas privadas que desejam aprofundar seus conhecimentos. A pós-graduação recebeu conceito 4 na Capes, assim como a Unicamp. No país, apenas a UFRJ recebe avaliação melhor, com conceito 5. “A relação com o exterior é um dos quesitos analisados. Por isso, buscamos a internacionalização e o Fórum, ao trazer vários nomes internacionais, contribuiu nesse sentido”, acrescenta Rosângela.

O curso de graduação expandiu suas vagas. No ano passado, foram selecionados, pela primeira vez, 45 candidatos no Vestibular, 10 a mais do que eram aprovados anteriormente. Em contrapartida, um concurso público selecionará novo docente, e outros dois devem ser contratados em breve. Os laboratórios e as salas de seminário estão sendo reestruturados. Evidências de que esse estado de prosperidade promete vigorar nos próximos 30 anos.