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Nº 1734 - Ano 37
18.04.2011
Pedro Paulo Vieira |
Crianças da etnia hupdá, na fronteira com a Colômbia, uma das 20 abordadas pela equipe da UFMG |
As técnicas utilizadas pelo grupo para descobrir variações genéticas de interesse histórico incluem a genotipagem e o sequenciamento genético. O primeiro procedimento consiste em encontrar marcas no DNA conhecidas como microssatélites. Esses locais acumulam as mutações transmitidas entre as gerações de indivíduos. “A metodologia que desenvolvemos racionaliza a técnica, reduzindo custos e uso de amostras, que são raras. Para isso, nosso passo inicial foi testar amostras de, pelo menos, oito indivíduos. Após verificar a existência de mutação, o teste foi repetido e, na sequência, ampliado o número de amostras analisadas”, relata Marilza Jota.
O procedimento seguinte incluía a realização de PCR (Reação em Cadeia de Polimerase) em tempo real. Nessa reação química, o DNA original coletado é analisado e diferentes nucleotídeos, marcados com fluorescências distintas. “Em poucas horas são feitas análises de quase 400 indivíduos”, diz a pesquisadora.
O novo Adão americano apareceu a partir de mutação observada no chamado haplogrupo Q-M3. “Um haplogrupo representa indivíduos que possuem correlação geográfica e histórica e têm seus cromossomos Y derivados de um pai ancestral que sofreu mutação no passado”, explica Fabrício.
Os grandes grupos humanos possuem haplogrupos distintos. Pelo menos 60% dos europeus, por exemplo, pertencem ao haplogrupo R1b1 – subgrupo do R, relacionado aos homens do paleolítico, os Cro-Magnons, que viveram na Europa há pelo menos 40 mil anos.
Nas Américas, o grupo predominante é o Q-M3 (ou Q1a3a – cada haplogrupo e seus subtipos são representados por letras seguidas de números). “Ao redor de 30 mil anos, a mutação M242 originou o haplogrupo Q, cujos descendentes são representados hoje por indivíduos da Índia, Sibéria e a quase totalidade dos nativos americanos”, explica o pesquisador. A mutação SA1 dos Andes criou o Q1a3a4, um subtipo do Q-M3.
Segundo Fabrício, a preferência pelo estudo do DNA do cromossomo Y decorre de uma evidência histórica: nas guerras, os homens são eliminados e as mulheres das culturas conquistadas, assimiladas pelo grupo vitorioso. “Por esse motivo, a história das etnias está mais correlacionada com a genética paterna”, observa. Outro artigo sobre o povoamento dos Andes que o grupo deverá concluir este semestre deverá endossar essa evidência. “Estamos comparando linhagens maternas e paternas e estas últimas parecem estar mais associadas à história cultural dos Andes. Mas os dados são apenas preliminares”, informa o professor.
Para quem se interessar em conhecer a história de sua linhagem genética, a National Geographic oferece informações pela internet. A repórter do BOLETIM foi contemplada com kit para teste pela coordenação do Genográfico da América do Sul. Os resultados para essa modalidade de serviço ao grande público não integram a pesquisa científica.