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Nº 1756 - Ano 38
7.11.2011

INTEGRADAS pela educação

Doutorado latino-americano envolve 11 universidades de diferentes países da América Latina

Gabriella Praça

Depois de vir ao Brasil quatro vezes para participar de eventos, o professor peruano Ronal Garnelo Escobar, 46, fixou residência em Belo Horizonte no segundo semestre de 2011. O motivo foi a aprovação no Programa de Doutorado Latino-Americano da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, onde está desenvolvendo projeto de pesquisa sobre políticas públicas e trabalho docente.

Segundo ele, a partir de 1992, houve, no Peru, uma mudança nas diretrizes educacionais, com adoção de políticas marcadas pela forte presença do empresariado na educação. Docente na Universidade Mayor de San Marcos, no Peru, Escobar pretende passar um ano e meio no Brasil e, então, retornar a seu país, para analisar documentos oficiais do governo, fazer entrevistas e estudar as correlações de força envolvidas nesse processo.

O pesquisador é um dos sete alunos estrangeiros regulares do Programa, concebido com contribuições de 11 instituições de ensino superior. Cinco atuam como sedes: UFMG, que foi a primeira a implantar o programa em março deste ano, e as universidades Pedagógica Nacional do México, Pedagógica Nacional da Colômbia, Pedagógica Libertadora Experimental da Venezuela e a Fronteira do Chile. Estas quatro deverão instalar o programa em 2012. A coordenação pedagógica internacional é exercida pela UFMG e pelas instituições mexicana e colombiana.

Segundo a professora Adriana Duarte, coordenadora do Programa pela FaE, os estudantes de outros países da América Latina que se matriculam na UFMG devem obrigatoriamente ficar no Brasil por 12 meses e fazer aqui as disciplinas obrigatórias.

A coordenação do Programa busca na tecnologia uma forma de encurtar a distância. “A partir da implantação do doutorado em outros países, vamos tentar que os nossos alunos e os deles façam as disciplinas via teleconferência”, conta a professora. Os alunos brasileiros, prossegue Adriana, estão sujeitos a estágio de pelo menos seis meses em instituições de educação superior na América Latina, de preferência naquelas em que o doutorado for implantado. “Enquanto estiver fazendo o estágio, o aluno será acompanhado por um professor responsável, que exercerá a função de cotutor”, explica.

Estudos comparados

A experiência na área de docência é um dos requisitos para ingresso no Programa. O colombiano Luiz Fernando Vásquez, 35, aluno da turma de 2011, trabalhava em uma secretaria de educação em seu país, além de ser professor universitário. Em seu projeto de pesquisa, Educação, democracia e trabalho docente, estuda o papel da educação na construção democrática das políticas públicas na América Latina, fazendo uma comparação com as do Brasil. Vásquez pretende passar dois anos no país, pois tem planos de fazer uma parceria com outra universidade brasileira, para conhecer melhor a educação aqui.

Já a brasileira Maria José Batista Pinto, 32, discente do Programa desde março do ano passado, era pedagoga no Projeto Giz, da UFMG, que busca aprimorar as metodologias de ensino superior utilizando novas tecnologias e promovendo a reflexão contínua da prática docente. A pesquisadora optou pelo Programa porque já vinha acompanhando as discussões sobre ensino superior na América Latina e queria fazer estudo comparativo entre Brasil e Argentina. “Hoje em dia, há um intenso debate a respeito da internacionalização da pós-graduação, o que problematiza a discussão em torno da América Latina”, lembra Maria José. Como espaço de troca, as aulas do Programa proporcionam contato com a diversidade latino-americana. “Vivemos uma experiência muito rica a partir da convivência com alunos estrangeiros, aprendendo outra língua e conhecendo hábitos culturais de outros países”, avalia a pedagoga, que embarcará para a Argentina no próximo ano.

No sentido inverso, a argentina Ana Maria Sagrario Tello, 55, professora da Universidade Nacional de San Luis, ingressou no Programa em agosto deste ano, para pesquisar o trabalho docente nas universidades. Seu objetivo é investigar de que maneira as novas regulações, estabelecidas a partir da década de 1990, influenciam e transformam a docência na Argentina, que, de acordo com ela, passa por um processo de revisão das diretrizes educativas. Após cursar as disciplinas na FaE, Ana Maria retornará a seu país de origem, onde desenvolverá a parte empírica da pesquisa.