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Nº 1759 - Ano 38
28.11.2011
Zirlene Lemos*
O intelectual português Boaventura de Souza Santos defende uma tese que a princípio pode soar estranha: a de que a legitimidade da universidade só será completa quando as atividades hoje enquadradas como de extensão desaparecerem enquanto tais e passarem a ser parte integrante das rotinas de investigação e ensino. Esse entranhamento da extensão na vida acadêmica, perseguido há décadas pela UFMG, será um dos eixos de discussão do seminário Extensão Universitária: avaliação e perspectivas, marcado para o próximo dia 6, na Escola de Engenharia.
“O objetivo é discutir os diversos aspectos da extensão com foco no planejamento e avaliação. A ideia é incentivar um fórum permanente, que possibilite que a área desenvolva todas as suas potencialidades”, analisa em entrevista ao BOLETIM a pró-reitora adjunta Maria das Dores Pimentel Nogueira, a Marizinha. Presidente da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão (CPAE) do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (Forproex), ela faz um balanço dos avanços da área na UFMG e no Brasil.
Como a senhora avalia a Extensão no atual contexto das universidades públicas brasileiras?
O cenário é bastante positivo, entre outros fatores por causa da boa interlocução com o Ministério da Educação mantida nos últimos oito anos. Há um Plano Nacional de Extensão em elaboração ao mesmo tempo em que o Plano Nacional de Educação para o período 2011/2020 está sendo votado no Congresso Nacional. A destinação de recursos para a área é crescente. Desde a sua criação em 2003, os recursos destinados ao Programa de Extensão Universitária (Proext) saltaram de R$18 milhões para R$70 milhões, em 2011. E ainda há um novo programa de fomento à extensão prestes a ser lançado, que é o Josué de Castro. No caso do Proext, dos R$ 70 milhões liberados para as universidades públicas, a UFMG recebeu mais de R$ 2 milhões, empregados em 19 ações com propostas alinhadas ao ensino e à pesquisa.
Como avalia o impacto social das ações vinculadas ao Proext?
Sobre isso uma boa nova é que, por meio da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão [presidida pela UFMG], conseguimos assegurar recursos da Secretaria da Educação Superior (Sesu) para coordenar um programa que, a partir do Diagnóstico da extensão universitária do Brasil nas universidades públicas brasileiras, feito em 2005, vai atualizá-lo, avaliando, entre outros aspectos, o impacto do Proext. Outro projeto também em andamento é a elaboração de um curso de especialização em extensão, de âmbito nacional, cujo objetivo é qualificar professores e servidores das universidades para avaliação da extensão em sua própria instituição.
E a UFMG nesse cenário?
Cada vez mais a extensão tem se consolidado institucionalmente. Nossa primeira grande vitória foi conseguir que o indicador de extensão para alocação de vagas docentes tivesse o mesmo peso que na pesquisa, por exemplo. A medida, aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), em outubro do ano passado, está em fase de implementação. Outro ganho é a finalização do curso de metodologias de monitoramento e avaliação da extensão universitária. Ofertado nas modalidades aperfeiçoamento e atualização, será destinado aos profissionais do quadro da UFMG, de diversas áreas, que atuam na gestão da política de extensão, na Proex e nos centros de extensão (Cenex) das unidades.
Como a Universidade está regulamentando o dispositivo do Plano Nacional de Educação que determina que 10% da carga horária de alunos de graduação devem ser integralizados em ações de extensão universitária?
Esta é de fato outra conquista que tem gerado bons resultados. Estamos trabalhado com os cursos da UFMG para normatizar essa creditação curricular por atividade de extensão. De acordo com levantamento preliminar da Proex, de 85 cursos, cerca de 70 já têm isso normatizado. Cabe agora trabalhar junto aos professores e alunos, estimulando que tenham uma extensão de qualidade e que a creditação das atividades seja feita de forma planejada, acompanhada e avaliada pelo docente. Não incentivamos que qualquer coisa seja contada como crédito; é preciso observar critérios de qualidade acadêmica. Outra estratégia relevante é a realização, desde o ano passado, do Seminário Anual de Extensão, que se insere num processo de valorização da área como dimensão acadêmica de peso equivalente ao do ensino e da pesquisa. Mas para que isso tudo se consolide é fundamental que a comunidade universitária tenha domínio sobre o que é extensão: programa, projeto, curso, evento e prestação de serviço. Este seminário é mais uma estratégia de fortalecimento institucional da extensão universitária.
*Jornalista da Pró-reitoria de Extensão