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Nº 1917 - Ano 42
26.10.2015

Memória do mundo

Bibliotecária da UFMG integra comitê da Unesco que avalia documentos e patrimônios candidatos a obter selo de projeção internacional

Carla Pedrosa*

O Comitê Nacional do Programa ­Memória do Mundo, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), nomeou, no início deste mês, os membros do Comitê no Brasil (Memory of the World/MoW-Brasil) para o biênio 2015-2017. A bibliotecária Diná Marques Pereira Araújo, coordenadora da Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras da UFMG, representa o segmento de associações de ensino e pesquisa. Ela será responsável, entre outras atividades, pela avaliação dos projetos submetidos ao Comitê e pelos treinamentos e cursos para auxiliar instituições e pessoas interessadas no selo de Memória do Mundo concedido pela Unesco.

O selo confere visibilidade mundial ao patrimônio avaliado e à instituição na qual ele se encontra. "Trata-se de um instrumento de reconhecimento do patrimônio bibliográfico e documental de empresas e instituições", afirma Diná Araújo.

O Programa Memória do Mundo foi criado em 1992 com o objetivo de preservar e difundir documentos, arquivos e bibliotecas de grande valor. A intenção é despertar a consciência coletiva para a importância de preservar os registros da evolução dos descobrimentos, conquistas e do pensamento da sociedade humana.

O MoW-Brasil foi criado no âmbito do Ministério da Cultura em 2004, e o registro nacional foi inaugurado em 2007. Desde então, o trabalho voluntário dos membros do comitê é exercido por dois anos, cabendo recondução. A escolha da bibliotecária Diná Araújo foi embasada na experiência que ela acumula na área de preservação de coleções especiais e obras raras. Diná tem ministrado cursos no exterior sobre o tema.

Além do eixo Rio-SP

Pesaram também na escolha o vínculo da profissional com a Escola de Ciência da Informação e o trabalho que realiza na Biblioteca Universitária. "A indicação de uma bibliotecária fora do eixo Rio-São Paulo está relacionada justamente à importância de ampliação do contato com instituições, sobretudo bibliotecas, de outras localidades do país. Meu principal desafio será sensibilizar as bibliotecas universitárias e públicas de Minas Gerais e dos demais estados a apresentarem projetos para obtenção do selo da Unesco", explica Diná. Segundo ela, a maior parte dos acervos que detêm o selo é de caráter arquivístico, e o maior número de nominações ainda está concentrado nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os gestores da Biblioteca Universitária da UFMG (BU), Wellington Marçal de Carvalho (diretor) e Anália Gandini Pontelo (vice-diretora), destacam a importância institucional de ter uma bibliotecária da UFMG como representante do MoW Brasil. "Além de dar maior visibilidade à BU e, naturalmente, à própria UFMG, essa indicação possibilitará interlocução com outras instituições, que é fundamental, por exemplo, para o compartilhamento de políticas e práticas de preservação", afirma Wellington.

Regras

Entidades públicas ou privadas e pessoas físicas que detenham patrimônio documental ou bibliográfico de valor inquestionável para a memória documental brasileira podem se candidatar no Comitê Nacional do Programa Memória do Mundo da Unesco.

Os documentos podem ser textuais (manuscritos ou impressos) e audiovisuais (registros sonoros, vídeos), iconográficos (fotografia, gravura e desenho) ou cartográficos, em suporte convencional ou digital. Para submissão, devem estar em bom estado de conservação, catalogados e acessíveis ao público.

O Edital do Programa Memória do Mundo da Unesco no Brasil será divulgado no site, no primeiro semestre de 2016.

Possíveis candidatos pela UFMG

A UFMG possui vários acervos que podem se candidatar à obtenção do selo da Unesco. É o caso do Acervo Curt Lange, abrigado na Biblioteca Central, que reúne coleção pessoal do musicólogo teuto-uruguaio Francisco Curt Lange. Fruto da intensa atividade do pesquisador, o conjunto abrange, além de pequenas coleções, material arquivístico que registra o cotidiano da produção musical nas Américas de 1928 a 1996. "Integrado em 1995 à UFMG, o Acervo Curt Lange é um importante centro de documentação para a pesquisa sobre a música nas Américas. Sua importância histórica não está restrita ao Brasil; ela encontra repercussão na musicologia que se pratica hoje em diversos países do mundo", afirma a professora Ana Cláudia de Assis, coordenadora do Acervo.

A Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras, também localizada na Biblioteca Central, reúne acervos que podem ser indicados para concorrer ao selo da Unesco. Wellington Marçal de Carvalho destaca um livro datado de 1671, que cita, pela primeira vez, o Brasil no contexto do Vaticano, em um processo de canonização de um jesuíta. A obra foi impressa em Roma, na Itália, em papel com fibras de algodão. Ao dispor essa obra sobre uma mesa de luz – aparelho destinado a facilitar o exame dos negativos radiográficos –, é possível visualizar as fibras, as polpas e a filigrana, marca de autenticidade do artesão que confeccionou o papel.

*Jornalista do Sistema de Bibliotecas da UFMG