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Nº 1923 - Ano 42
07.12.2015

Resoluções

Concretismo: modos de fazer

Evento no campus Pampulha vai debater a arte concreta e abordar projeto que investiga técnicas e materiais

Itamar Rigueira Jr.

No final da década de 1940 e nos anos de 1950 – marcados pelo desenvolvimento industrial e pelo início das atividades de instituições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e os museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio –, inaugurou-se uma nova concepção de produção e compreensão da obra de arte, por meio do movimento concretista. Ganhavam espaço elementos como linha, cor e superfície, formas geométricas puras e materiais não tradicionais, como a tinta automotiva e o eucatex.

Ainda há muito o que conhecer sobre os modos de produção do construtivismo no Brasil, e essa é a motivação do projeto Arte concreta brasileira: a materialidade da forma, patrocinado por The Getty Foundation e coordenado no Brasil pelos pesquisadores do Laboratório de Ciência da Conservação (Lacicor), vinculado ao Centro de Conservação-Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Escola de Belas Artes. O projeto é assunto de simpósio que será realizado nos dias 14 e 15 de dezembro, no Centro de Atividades Didáticas 2, campus Pampulha.

A arte construtivista em acervos como os do MAM-RJ, da Pinacoteca de São Paulo e do Museu de Arte da Pampulha, assim como desafios para caracterização de materiais e técnicas pictóricas e resultados preliminares do projeto serão temas em pauta.

A pesquisa se concentra na tecnologia de construção de obras exemplares da arte concreta brasileira, e a metodologia de trabalho combina ferramentas e conhecimentos tradicionais da história da arte e métodos científicos de análise de materiais e documentação científica por imagem. Os resultados serão tratados em perspectiva interdisciplinar, aliando história, arte e a materialidade das obras, sem perder de vista o contexto econômico, político, histórico e social do período de sua produção.

O projeto integra iniciativa mais ampla, implementada pelo Programa Científico do Getty Conservation Institute, na qual serão estudadas peças da Coleção Patricia Phelps de Cisneros, que inclui obras e artistas brasileiros, modernos e contemporâneos.

Preservação

De acordo com o professor da Escola de Belas Artes Luiz Souza, que dirige o Lacicor e é coordenador geral, no país, do projeto Arte concreta brasileira, as obras do concretismo tinham pouco valor à época em que nasceu o movimento e hoje ocupam lugar de destaque em museus e coleções importantes. "Nossa pesquisa representa ótima oportunidade para entender melhor um movimento que não apenas tinha proposta estética diferente, mas também inovou em materiais e técnicas, cujo conhecimento também é importante para expor as obras de forma adequada e tomar medidas certas para preservá-las", afirma Souza.

A professora Alessandra Rosado, também envolvida na coordenação do projeto, lembra que o estudo de peças de Lygia Clark que integram o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói possibilitou definir a tipologia de degradação. "As tintas automotivas usadas na composição de algumas obras passaram por processo de deterioração, devido às condições ambientais dos locais onde se encontram expostas. Isso modificou suas características, afetando de forma negativa a visualização e o conceito dos trabalhos. Num caso como esse, utilizamos recursos como análises físico-químicas, pesquisa histórica e documental", explica a professora. Segundo ela, é raro encontrar informações sobre materiais e modos de trabalho dos artistas. "Temos mais acesso a biografias e análises formais e estilísticas das obras. Cruzamos essas informações com nossas técnicas para chegar ao diagnóstico de conservação", explica.

Luiz Souza ressalta que a coordenação do projeto sediada em Minas Gerais ajuda a trazer à tona a participação e as contribuições de artistas mineiros – como Mário Silésio e a própria Lygia Clark – ao concretismo. Na seção do simpósio em que serão apresentados os resultados preliminares da pesquisa, obras de outros artistas de Minas, como Maria Helena Andrés, Ângelo Aquino, Décio Noviello e Eduardo de Paula, estarão em destaque.

Outras informações sobre o simpósio Arte concreta brasileira – A materialidade da forma: industrialismo e vanguarda latino-americana estão disponíveis na página do evento no Facebook.