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Estudos Culturais

UFMG sedia, em 2026, primeira edição da conferência ‘Crossroads in cultural studies’ na América do Sul

Propostas de apresentação de trabalhos podem ser submetidas até 20 de dezembro

Por Ewerton Martins Ribeiro

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO)
Evento será realizado na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG
Foto: Lucas Braga | UFMG

De 27 a 31 de julho de 2026, a UFMG receberá a conferência internacional Crossroads in cultural studies, evento que, desde a sua primeira edição, realizada em 2002, tem desempenhado papel fundamental na promoção de uma discussão global do campo dos Estudos Culturais. Realizada pela primeira vez na América do Sul, a conferência – que é bienal – terá o tema Descolonizando os estudos culturais: lazer, corpos, performances, territórios e universidades na edição de 2026.

A temática escolhida “reflete uma agenda crítica e contemporânea que busca questionar e repensar as estruturas hegemônicas de conhecimento no campo dos Estudos Culturais, emergindo de um contexto global em que movimentos decoloniais ganham força, especialmente no Sul Global, propondo novas epistemologias que valorizem saberes historicamente marginalizados”, informa-se no site da conferência. Detalhes sobre o evento podem ser encontrados em seu site.

A organização está sob a responsabilidade do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer (PPGIEL), que tem sede na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG – o primeiro e único programa interdisciplinar brasileiro dedicado aos estudos do lazer, pioneiro na América Latina. A realização conta ainda com o apoio da Rede Internacional em Estudos Culturais (Riec), que integra dez universidades de cinco países de língua portuguesa.

A coordenação da conferência está a cargo de Elisângela Chaves e de Hélder Ferreira Isayama, professores do Departamento de Educação Física da EEFFTO. Os dois também estão à frente da comissão científica do evento, que conta com mais de 50 professores e pesquisadores de diferentes universidades do mundo – alguns, naturalmente, também da UFMG.

Inscrições
Os interessados em apresentar trabalhos na conferência têm até 20 de dezembro para submeter suas propostas. Os resultados das candidaturas serão divulgados no dia 30 de janeiro, e os aprovados terão até 30 de abril para confirmar sua participação.

É possível submeter propostas para participação em painéis temáticos ou para apresentações individuais, sejam de temas livres, sejam de temas submetidos a eixos temáticos pré-estabelecidos. As apresentações poderão ser em português, espanhol ou inglês.

Os trabalhos selecionados serão publicados em coletânea com acesso aberto.

O evento
A Crossroads in cultural studies é promovida pela Associação de Estudos Culturais (ACS), organização internacional sem fins lucrativos fundada em 2002 e registrada na Finlândia, com sede na Universidade de Tampere. Seu objetivo é consolidar uma comunidade mundial interessada no campo dos Estudos Culturais, construindo conexões interdisciplinares e transnacionais entre pesquisadores e profissionais com diferentes formações, oriundos de diferentes disciplinas, países e regiões do mundo.

Capa do livro 'Da diáspora: identidades e mediações culturais', do sociólogo jamaicano Stuart Hall
Livro ‘Da diáspora: identidades e mediações culturais’, do sociólogo Stuart Hall

Ao longo de suas mais de duas décadas, a conferência foi realizada na Universidade de Tampere, na Finlândia (em 2002 e 2014), na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, nos EUA (2004), na Universidade Istanbul Bilgi, na Turquia (2006), na Universidade das Índias Ocidentais, em Kingston, na Jamaica (2008), na Universidade de Lingnan, em Hong Kong (2010), na Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris, na França (2012), na Universidade de Sydney e na Western Sydney University, na Austrália (2016), e na Universidade de Xangai, na China (2018).

“Todas essas universidades realizam um trabalho de excelência internacionalmente reconhecida, e agora a possibilidade de realizar a Crossroads in Cultural Studies na UFMG, uma das mais prestigiadas universidades públicas do Brasil e reconhecida internacionalmente por sua excelência em pesquisa, ensino e extensão, coloca o Brasil numa posição destacada”, registra-se no site do evento.

Em suas edições bienais, a Crossroads in cultural studies costuma reunir acadêmicos de todos os cinco continentes, interessados em compartilhar pesquisas, visões e percepções acerca do campo dos Estudos Culturais. Em 2020, a conferência não foi realizada em razão da pandemia. Em 2022, foi realizada uma versão on-line, coorganizada pela Association for Cultural Studies (ACS) e pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa, de Portugal, que tem sede na sua Faculdade de Letras.

Em tempo: Em 2003, a Editora UFMG lançou Da diáspora: identidades e mediações culturais, do sociólogo jamaicano Stuart Hall, um dos mais proeminentes nomes dos Estudos Culturais. Teórico das identidades culturais na modernidade tardia, com foco especial na dispersão e mistura do negro em outras culturas, Hall relata, em entrevista contida no livro, sua própria experiência e o que significou “para um caribenho negro como qualquer outro” conseguir escrever “sobre e a partir dessa posição”.

Na obra, Hall afirma que a política de identidade essencialista é uma luta importante, mas não necessariamente leva à libertação da dominação. Esta se constrói em várias frentes, em um território cultural amplificado, que inclui a vida cotidiana, a cultura popular e a cultura de massa.

Mas o que são, afinal, os Estudo Culturais?

Não se trata de uma pergunta fácil de responder, o que se sinaliza pela dificuldade de se encontrar, na própria internet, uma definição da expressão ao modo de um verbete. “Os Estudos Culturais são, agora, um movimento ou uma rede: eles têm seus próprios cursos em diversas universidades bem como seus próprios periódicos e encontros acadêmicos”, escreve Richard Johnson em O que é, afinal, Estudos Culturais? (Editora Autêntica, 2014).

“Para mim, os Estudos Culturais dizem respeito às formas históricas da consciência ou da subjetividade, ou às formas subjetivas pelas quais nós vivemos ou, ainda, em uma síntese bastante perigosa, talvez uma redução, os Estudos Culturais dizem respeito ao lado subjetivo das relações sociais.” Dito de outro modo, os Estudos Culturais se interessam pelo papel exercido pelo poder no estabelecimento social de significados e na regulação das práticas significantes.

Simplificando, trata-se de uma área ou um campo de investigação (eventualmente, também de intervenção) de caráter interdisciplinar que explora as formas de produção ou criação de significados e de difusão deles nas sociedades atuais. “Os Estudos Culturais não se configuram exatamente como uma disciplina distinta, mas como uma abordagem ampla dentro das disciplinas constituídas”, anota-se no Wikipédia, em verbete que se embasa em livros que conceituam o tema.

Em geral, esse campo exerce particular influência sobre alguns cursos da grande área das Humanidades, como os Estudos de Mídia e Comunicação, os Estudos Literários, a Sociologia, a Linguística e a História. O entendimento, nessas abordagens, é o de que a cultura se realiza como um campo de luta em torno da significação social, do que decorre o papel importante que a crítica, como procedimento de abordagem das tradições, terá nos Estudos Culturais.

“Parece-me que os Estudos Culturais [assim como o postulado marxista] também estão preocupados com sociedades inteiras (ou formações sociais mais amplas) e como elas se movimentam. Mas eles examinam os processos sociais a partir de um outro ponto de vista [se comparados com o ponto de vista do projeto intelectual de Karl Marx, do qual recebeu significativa influência]. ‘Nosso’ projeto é o de abstrair, descrever e reconstituir, em estudos concretos, as formas através das quais os seres humanos ‘vivem’, tornam-se conscientes e se sustentam subjetivamente”, sintetiza Richard Johnson.

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