UFMG, 98 anos: um sonho que nasce a cada hora
Várias gerações de pessoas – algumas de grande projeção, outras quase anônimas – são responsáveis pelo que a Universidade se tornou
Por Sandra Regina Goulart Almeida | reitora da UFMG
Um dos projetos dos inconfidentes que deflagraram a Conjuração Mineira, no século 18, era a criação de uma universidade em solo mineiro. No entendimento daqueles visionários, uma universidade lançaria as bases intelectuais para o novo país, garantindo a independência, a liberdade, a soberania e a democracia por eles tão desejadas. Não é sem propósito que o aniversário da UFMG coincide com a data da independência do país, consolidando, mesmo que de forma tardia, o desejo dos inconfidentes.
Esse sonho levou quase 140 anos para se tornar realidade. Em 7 de setembro de 1927, um projeto de lei de autoria de Antônio Carlos Ribeiro de Andrade criou a Universidade de Minas Gerais (UMG), a primeira do estado. Localizada na jovem capital mineira, Belo Horizonte (então com 30 anos), teve como seu primeiro reitor o professor Francisco Mendes Pimentel, materializando o compromisso inarredável da nova Universidade com seu país, seu estado e sua cidade.
Sabiam os inconfidentes e nossos fundadores que qualquer projeto de nação soberana está condicionado à existência de universidades fortes, autônomas e geradoras de conhecimento de ponta. A intenção era promover a convergência de projetos simbióticos: o de um Brasil livre, independente e soberano, o de um estado que preza o conhecimento científico, o de uma cidade acolhedora do saber e o de uma universidade autônoma.
Sabiam os inconfidentes e nossos fundadores que qualquer projeto de nação soberana está condicionado à existência de universidades fortes, autônomas e geradoras de conhecimento de ponta.
Noventa e oito anos depois, a Universidade mantém-se fiel aos valores dos nossos pioneiros liderados por Mendes Pimentel, dos inconfidentes que os inspiraram e das personalidades homenageadas na exposição UFMG centenária: memoráveis, aberta ao público no saguão da Reitoria. Trata-se de uma metáfora visual da identidade de nossa Universidade, configurada por meio de um mosaico de faces de artistas, escritores, cientistas, ativistas e líderes políticos que dá um rosto à instituição à qual estão indelevelmente ligados. Um rosto vincado pelos ideais democráticos e republicanos, pela liberdade da qual depende a democracia e pela soberania como atributo para qualquer nação que se quer independente e próspera. Um rosto diverso e plural. Os rostos dos presidentes Afonso Pena, Arthur Bernardes, Carlos Luz, JK, Dilma Rousseff, Tancredo Neves; os rostos de Ailton Krenak e Célia Xakriabá, a primeira mulher indígena a se tornar doutora pela UFMG; os rostos de Fernando Brant, Samuel Rosa e Fernanda Takai; os rostos de Guimarães Rosa e Pedro Nava; o rosto de Alzira Nogueira Reis, a primeira mulher formada em Medicina em nosso estado, e tantas outras faces que simbolizam nossa UFMG e o seu compromisso com a sociedade. Várias gerações de pessoas – algumas de grande projeção, outras quase anônimas, mas não menos valorosas – são responsáveis pelo que a UFMG se tornou hoje, uma universidade que oferece soluções para os grandes desafios contemporâneos.
Um rosto vincado pelos ideais democráticos e republicanos, pela liberdade da qual depende a democracia e pela soberania como atributo para qualquer nação que se quer independente e próspera.
A UFMG se destaca como uma das universidades mais bem avaliadas do país, com o ensino de destaque e com uma oferta crescente de vagas nos cursos de graduação e de pós-graduação, considerados de padrão internacional. Foi uma das instituições brasileiras mais atuantes no enfrentamento da pandemia de covid-19 e mantém-se firme no desenvolvimento de estratégias para a formulação de políticas públicas e ações no campo da saúde e da inovação tecnológica. Tornou-se ainda referência no atendimento hospitalar e no apoio a grupos vulneráveis por meio de projetos de extensão. Sedia uma das mais robustas infraestruturas de ciência do país, ancorada em uma moderna política de inovação, que possibilita, por exemplo, que figure entre as instituições que mais registram patentes no Brasil. É também uma das instituições mais proeminentes no campo das artes e da cultura.
Ao celebrarmos mais um aniversário, comemoramos a renovação e a inovação. Outro de nossos “memoráveis”, Carlos Drummond de Andrade, registrou, no poema O tempo passa? Não passa, que passado e presente “são mitos de calendário”, enquanto o “teu aniversário é um nascer a toda hora”.
Assim é a UFMG. Uma instituição que nasce a cada hora e faz valer cada letra do seu lema, Incipit vita nova (Uma vida nova principia). Vida longa à UFMG, o sonho inconfidente que virou patrimônio dos brasileiros.
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