Dissertação escrita em língua indígena conta a história da escola maxakali
Trabalho desenvolvido na Faculdade de Educação é tema do episódio de estreia da nova temporada do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa
Para o povo tikmũ’ũn, mais conhecido como maxakali, qualquer lugar pode ser a escola. O aprendizado começa na kuxex, que pode ser traduzida como casa de religião ou de ritual. Lá, os indígenas aprendem a cantar, pintar e pescar, entre outras habilidades.
É o que relata Lucio Maxakali, autor da primeira dissertação de mestrado escrita em língua indígena defendida na UFMG, em maio de 2025, no Programa de Pós-graduação em Educação, Conhecimento e Inclusão Social. Em apresentação bilíngue, alternando o português e a língua maxakali, o pesquisador resgatou a história da escola maxakali, e também as violências sofridas pelo seu povo.
‘Caminho de pesquisa’
Para desenvolver a pesquisa, ele conversou com professores do passado e do presente, além de ouvir o pajé e outras lideranças de sua comunidade. Lucio contou que, na cultura maxakali, a terra também tem muito a ensinar. “A terra é a nossa mãe”, disse.
Alguns dos professores ouvidos pelo pesquisador integram o Programa de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da UFMG (Fiei). Segundo Lúcio, eles contaram que aprenderam primeiramente na kuxex, na mata, e depois foram para a escola “escrever a história, os desenhos”.
Dos mais velhos, Lúcio ouviu relatos sobre a violência sofrida com a chegada da “escola dos brancos”, especialmente em decorrência da atuação do Serviço de Proteção Indígena (SPI), em 1940. “Não respeita a nossa cultura, porque, quando entra o SPI, já ensina as crianças em língua portuguesa”, contou.
No fim dos anos 1960, a Funai, atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas, levava professores que ainda ensinavam em português. Mais tarde, em 1997, veio a Secretaria de Estado de Educação, e os professores indígenas começaram a assumir as escolas e a ensinar na língua indígena.
Escola ideal
Apesar das mudanças recentes, a escola ainda não é como os maxakalis gostariam: o prédio não se parece com as casas tradicionais tikmũ’ũn, ainda há professores não indígenas dando aulas e o calendário não respeita as tradições de seu povo. Lúcio discutiu com os professores, o pajé e outras pessoas da comunidade o que seria o ideal para eles. “Nós fizemos um calendário para os não indígenas entenderem que a nossa escola que tem que caminhar junto com a kuxex”, diz.
Na UFMG, a pesquisa contou com a orientação da professora Vanessa Tomaz, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação, atual coordenadora do Fiei na Universidade.
Raio-x da pesquisa
Título: IXTOT ŨXUKTUX TAPPET PET YÕG, TAPPETPET ŨGAMŨYÕG YÃPÃHÃ – Conta a história da escola tikmũ’ũn: a escola para nós é qualquer lugar
Autor: Lucio Flávio Coelho Maxakali
Programa de Pós-graduação: Educação, Conhecimento e Inclusão Social
O que é: Primeira dissertação de mestrado defendida em língua indígena na UFMG conta a história da escola tikmũ’ũn (maxakali), a partir da perspectiva de um representante desse povo que ouviu outras pessoas de sua comunidade.
Orientadora: Vanessa Sena Tomaz
Ano da defesa: 2025
O episódio 201 do Aqui tem ciência tem produção, roteiro e apresentação de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade.
Em novo horário, o Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 12h45, com reprises às quartas, às 17h45, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.
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