Na manhã desta segunda-feira, o professor Carlos Frederico de Brito d’Andrea, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, ministrou conferência com o tema Universidade, cidadania e defesa da democracia, no auditório do Centro de Atividades Didáticas (CAD) 1. Foi a primeira de várias atividades que compõem a programação da semana de recepção aos calouros.

O tema central da exposição foi a crise de desinformação causada pela deliberada propagação de notícias falsas nas mídias digitais. Segundo Carlos d’Andrea, é necessário ampliar a percepção sobre o ‘caos informacional’, “deslocando o olhar do produto para as dinâmicas informativas”.

O fenômeno da desinformação, como explica o docente, envolve uma complexa rede de monetização — que culmina com a parte mais visível, que é o conteúdo das mensagens produzidas, por exemplo, pelos “gabinetes de ódio”.

O caos causado pelas fake news, portanto, “tem engenheiros, que são estrategistas atentos a cada oportunidade para alavancar um movimento supostamente espontâneo”. Como acrescenta o professor, “existem financiadores, financiados, lobistas especializados em implantar dúvidas, diversos agrupamentos de pessoas obcecadas em descobrir, em meio ao caos, meias verdades, fatos alternativos”.

Carlos d’Andrea alertou para o perigo que tem relação com a infinidade de fontes de informações disponíveis na rede. Como sublinha, “se conduzida de modo sistemático, a máxima ‘faça sua própria pesquisa’, que é uma das práticas fundadoras da internet, pode gerar a impressão de que temos descobertas legítimas sobre qualquer assunto”.

“Ao atribuir algum sentido ao caos, as pesquisas podem fazer emergir fatos alternativos, teorias conspiratórias. Não raramente, os resultados dessas versões da realidade questionam os consensos científicos”, pondera.

Informação sem fonte
Carlos d’Andrea apresentou aos calouros um caso emblemático da crise de desinformação que prevalece no país, protagonizado pelo portal Terra Brasil Notícias, que replica conteúdo produzido por mídias diversas e tem alto índice de compartilhamento em aplicativos como Telegram e WhatsApp.

“Por reproduzir, frequentemente, conteúdos das redes bolsonaristas, esse site ganhou visibilidade e chegou a ser recomendado pelo ex-presidente. Uma matéria sobre a suposta eficácia da ivermectina no combate ao coronavírus, publicada em 2020, rendeu ao Terra Brasil 1 milhão de acessos em um único dia. Mas o site não revela quem são os responsáveis por essa informação”, disse o professor.

De acordo com Carlos d”Andrea, na página de termos de uso do Terra Brasil Notícias, há um tópico intitulado “isenção de responsabilidade”, que diz: “o portal não garante ou faz qualquer representação relativa à precisão, aos resultados prováveis ou à confiabilidade das publicações”. “Estamos falando de um suposto site de notícias que alcança milhões de pessoas, mesmo não se comprometendo com a verdade e não tendo cuidado com a informação que veicula”, lamentou.

Educação é abertura para todos os direitos
Em seu pronunciamento de boas-vindas, a reitora Sandra Goulart Almeida conclamou os calouros a ser ativos na promoção da visibilidade do trabalho da UFMG.

“Defendam a nossa instituição, que pertence ao povo brasileiro. É importante que vocês alerdeiem por todos os cantos o que fazemos. Conheçam nosso site e nossas mídias sociais, divulguem em seus próprios perfis, repercutam para familiares e conhecidos o quanto contribuímos para um país melhor, uma sociedade mais equânime e mais desenvolvida em todos os sentidos”, disse Sandra.

A reitora destacou a amplitude de possibilidades que a Universidade oferece — incluindo atividades extracurriculares, de pesquisa, extensão e cultura. “É importante que vocês desfrutem de todas as oportunidades. Façam pesquisas em programas de iniciação científica, concorram a bolsas de monitoria e de extensão, trabalhem nos projetos da UFMG. Contem com a orientação dos professores para obter, além da formação de conhecimento, uma formação cidadã”, aconselhou.

Sandra Goulart concluiu sua fala citando um antigo docente da casa, segundo o qual “a educação é uma abertura para todos os outros direitos”. “Com a educação, a gente vai longe, pois aprendemos que somos sujeitos de direitos”, afirmou.