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Afinal, cometa tem cabelo?

 

Luminosos e coloridos, os cometas, assim como os asteroides, meteoros e meteoritos, viajam pelo o espaço dando um show de luzes! Vamos saber um pouco mais sobre eles no texto de hoje!

 

Cometas são bolas de neve cósmica compostas por poeira, rocha e gelo. Seus tamanhos podem variar de alguns quilômetros a dezenas de quilômetros. Eles se localizam no Cinturão de Kuiper, uma área do Sistema Solar que se estende desde a órbita de Netuno até 50 UA do Sol (você pode ler mais sobre UA aqui), e na Nuvem de Oort, uma região ainda mais distante que o Cinturão de Kuiper, entre 1.000 UA e 100.000 UA do Sol! A quantidade atual de cometas conhecidos, até 15 de dezembro de 2020, é de 3.697, e esse número continua aumentando! 

 

Além de serem interessantes pelo show de luzes que deixam no nosso céu, cometas são alvos de pesquisas que podem nos dar pistas a respeito da formação do nosso Sistema Solar. Sabe-se que algumas moléculas encontradas em cometas se formaram antes mesmo do nascimento do Sol e, ao estudar sob quais condições isso se deu, os cientistas compreendem melhor como era o ambiente do nosso Sistema em seu surgimento, dando pistas sobre sua evolução.

 

Existem muitos cometas orbitando nosso Sol que estão em uma viagem muito longa, e por isso ainda não foram observados por nós. Mas, ao longo da história, a humanidade já viu, registrou e estudou a passagem de vários outros!  Embora eles também se movimentem em torno do Sol, assim como os planetas, suas órbitas têm formas bastante diferentes. Enquanto a órbita planetária é uma elipse, como no caso da Terra muito semelhante a uma circunferência, a órbita dos cometas pode ser uma elipse bem mais achatada que a órbita de Netuno ou então uma parábola:

 

Créditos: domínio público

 

Ter uma órbita elíptica quer dizer que há épocas que aquele corpo está mais próximo do objeto que orbita e épocas em que está mais distante. Conforme o cometa se aproxima do Sol, mais rápido se move, e sua temperatura aumenta. Com esse aquecimento, ele expele gases e poeira do seu núcleo e esse material forma uma atmosfera ao redor de seu corpo, a coma ou, como também podemos chamar, a cabeleira, que pode ter cores variadas, dependendo dos gases que a compõem. O vento solar empurra esses gases e a poeira da cabeleira na direção oposta ao Sol, fazendo com que o cometa tenha uma cauda, que é formada pelo mesmo material e se estende por milhões de quilômetros.

 

Créditos: SimgDe

 

Percebemos os cometas a olho nu quando eles estão próximos do Sol, no caminho de ida ou de volta da sua órbita, quando brilham muito no céu. Isso é possível porque as partículas de gelo refletem a luz solar e as moléculas de gases na coma liberam energia absorvida dos raios do Sol. Quando vemos um cometa no céu, até parece que ele tem brilho próprio, mas o que vemos é só a reflexão da luz solar!

 

A humanidade tem observado esses astros desde muito tempo. Um dos cometas mais conhecidos, o Halley, aparece na tapeçaria de Bayeux, um tapete de 70 metros datado do século XI que registra eventos históricos da região de Normandia, local que corresponde, atualmente, ao noroeste da França. Naquela época, o cometa ainda não era nomeado de Halley; isso aconteceu somente em março de 1759, depois que a previsão do astrônomo Edmond Halley se comprovou. Seus cálculos mostraram que os cometas observados nos anos de 1531, 1607 e 1682 tinham órbitas muito semelhantes, e então ele sugeriu que se tratava do mesmo cometa que retornava a cada 76,1 anos, e previu a passagem dele em 1758.  Ele estava correto! Infelizmente, Halley morreu antes de ver o cometa passar. 

 

Quando se retorna, através de cálculos astronômicos, para um passado ainda mais remoto da viagem cósmica do cometa Halley, sabemos que ele esteve visível também em 1066, sendo assim registrado no tapete de Bayeux:

 

Tapeçaria de Bayeux, Domínio Público.

 

Em março de 2020, um cometa foi descoberto por telescópio espacial, poucos meses antes de sua aproximação, recebendo o nome de C/2020 F3 Neowise. O astro chamou bastante atenção por poder ser observado a olho nu durante alguns dias de julho de 2020, já que o brilho da sua cabeleira estava muito intenso.

 

Neowise fez sua aproximação máxima do Sol em 3 de julho de 2020, passando a 43 milhões de quilômetros de distância dele e a 250 milhões de quilômetros da Terra – são 0,29 UA e 1,67 UA, respectivamente. Ele foi amplamente fotografado por observadores e pôde ser observado até mesmo em regiões próximas dos grandes centros das cidades – ou seja, locais onde há muita poluição luminosa. 

 

Como já vimos, o registro da passagem de cometas faz parte da nossa cultura há tempos, mas quando os veremos novamente?

 

A última passagem do cometa Halley foi em 9 de fevereiro de 1986 e a próxima será em 28 de julho de 2061. Já o Neowise tem uma órbita parabólica, o que significa que ele vai demorar bem mais tempo para se aproximar novamente do Sol, por volta de 6800 a 7000 anos! Será que os futuros terráqueos conseguirão observá-lo?

 

Se você quiser saber mais sobre os viajantes do Sistema Solar (cometa, asteroide, meteoro ou meteorito), esse já foi um tema de uma live do projeto Descobrindo o Céu! Assista por aqui.

 

Para saber mais:

Comets. NASA. Disponível aqui. Acesso em 9 de novembro de 2020.

1P/Halley. NASA. Disponível aqui. Acesso em 9 novembro 2020.

FARRARENSE, Lucio Carlos; REIS, Jaime Estevão dos. ODO DE BAYEUX: PATRONO DA TAPEÇARIA DE BAYEUX?. Centenários. Disponível em aqui. Acesso em 10 de novembro de 2020.

Os Cometas, a Cintura de Kuiper e a Nuvem de Oort. Universidade de Coimbra. Disponível aqui. Acesso em 11 de novembro de 2020.

Comets, the Kuiper Belt and the Oort Cloud. Las Cumbres Observatory. Disponível aqui. Acesso em 11 de novembro de 2020.

 

[Texto de autoria de Samantha Jully, estagiária do Núcleo de Astronomia]