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Pixação x Pintura Rupestre

03 de maio de 2022

 

Você sabe o que a pixação e a pintura rupestre têm em comum? Não? Hoje, descobriremos juntos aqui no Blog do Espaço!

 

Basicamente, as pinturas rupestres se relacionam a vários momentos da pré-história, podendo representar o dia a dia em diferentes tipos de linguagens e expressões. Podemos encontrá-las em locais como o complexo de cavernas de Lascaux, na França, ou o Vale do Peruaçu, em Minas Gerais. Elas estão em diversos lugares do mundo!

 

Pense numa pintura de um círculo com traços em volta. O que ela significa? Pensou em um sol? Acredite ou não, em pontos de vista diferentes do nosso, essa pintura pode ser a imagem de uma aldeia. O círculo representaria o conjunto das casas e os traços seriam caminhos na mata.

 

 

A pichação, ao contrário do que imaginam, também é antiga e tem diversos fins. É um meio de comunicação e expressão, que aparece em muitos lugares e épocas diferentes. Há registros dela no ano 79 d.C., na cidade de Pompéia, na Itália. (Exatamente, já existiam pichações há 2099 anos!

 

A antiga Pompéia, abandonada após a erupção de um vulcão, tem escritos em suas paredes textos com ofensas, declarações de amor, propaganda política e até horários de lutas de gladiadores. A humanidade se transformou e a pichação também.

 

 

Muitos anos depois, na década de 1970, no Brasil, o pixo foi uma importante ferramenta de crítica no período da Ditadura Militar. É, até hoje, uma forma de se manifestar adotada pela população. Pelas ruas, vemos a pixação e quase nunca conseguimos ler ou saber o significado. Isso é proposital e acontece porque não somos parte do grupo que produziu aquele código. Os pixadores, geralmente, escrevem para outros pixadores. É como falar inglês. Para mandar ou receber mensagens nesta língua, é preciso ter experiência com ela e saber como lê-la. 

 

Mas calma. Pixadores, pixo, pixação… com X? Sim, você não leu errado! Existem duas formas de escrita da palavra. Picho com “ch” é algo espontâneo, uma ação de rabisco de alguém que passou por ali. Já pixo com “x” é o nome de um movimento, que tem uma estrutura bem específica.

 

O pixo e as pinturas rupestres possuem, ao mesmo tempo, significados culturais, sendo a assinatura de um coletivo e a memória da passagem humana pelo espaço. Por exemplo, os pixos da cidade de Salvador, Bahia, têm entre si códigos e formatos comuns típicos de lá. Essas formas únicas firmam um pixo de Salvador, um de Belo Horizonte, um de São Paulo, e assim por diante. Nas pinturas rupestres isso também ocorre. Elas variam entre si, de acordo com seus grupos, locais e épocas.

 

Quando pensamos em materiais, diferenças podem ser notadas! Nas pinturas rupestres, existem evidências do uso das mãos no lugar do pincel. E, ao invés de tinta comprada em loja, elementos naturais ajudavam na criação de pigmentos, como vegetais ou minerais adicionados a coisas grudentas, como saliva e sangue. As tecnologias foram variando. Hoje, o pixo, graffiti, bomb ou stencil tem muitos materiais a sua disposição. Canetões, tinta spray, rolinho de pintura, entre outros. Porém, há quem ainda prefira usar os pigmentos orgânicos naturais.

 

 

Deixar marcas no mundo é algo natural e hábito antigo da humanidade: marcar território por necessidade de sobrevivência, por necessidade de comunicação ou para expressar a imaginação. Ela, a imaginação, estava lá, guiando “o pintor” rupestre. O ato de riscar e criar coisas pulsa em nós, humanos. É o que nos leva a rabiscar a parede quando bebês ou a “desenhar a mamãe e o papai” na infância. A imaginação está conosco 24 horas por dia, na hora dos estudos e nos momentos de trabalho.

 

O pixo e as pinturas rupestres carregam um valor cultural enorme, assim como o grafitti. Registram ideias de sua época, traduzem identidades e mostram o impacto de ações coletivas. São a lembrança de que o tempo é frágil e que nada dura para sempre.

 

[Texto adaptado por Fernando Silva, assistente do Núcleo de Comunicação e Design, a partir da thread escrita pelas mediadoras Bianca Quaresma, aluna de Antropologia, e Ana Elisa Neves, aluna de Artes Visuais]

 

Para saber mais:

Artigo “A cognição imaginativa na formação de professor@s artistas/ Experiências em diálogo”, de Lúcia Gouvêia Pimentel

Documentário de longa metragem “PIXO” 

Dissertação “Pichação carioca: etnografia e uma proposta de entendimento”, de David da Costa Aguiar de Souza

Dissertação “Entre prezas e rolês: pixadores e pixações de/em Belo Horizonte”, de Rodrigo Amaro de Carvalho

Dissertação “Agora é a vez do pixo”: cenas de dissenso e subjetivação política nas relações entre pixação e arte”, de Ana Karina Oliveira

Episódio “A arte e a cidade”, do podcast Cidades Possívei
Monografia “Pichações e pichadores na cidade de Belo Horizonte”, de Andrei Isnardi 

“O que é arte rupestre?

“O que é arte rupestre brasileira?”