Conheça um pouco da história de uma das maiores competições esportivas do mundo, que acontece há mais de 100 anos
03 de setembro de 2024
A torcida para os nossos atletas brasileiros ainda não acabou. Agora é hora de vibrar pelos atletas paralímpicos!
Os Jogos Paralímpicos estão entre os maiores eventos esportivos do mundo, atraindo cada vez mais espectadores e atletas, e ampliando ainda mais o reconhecimento das pessoas com deficiência no esporte. Mais do que uma competição, as Paralimpíadas são uma fonte de inspiração e mudanças sociais significativas para a inclusão.
Neste ano, os Jogos Paralímpicos de Paris reuniram mais de 4.400 dos maiores atletas paralímpicos do mundo, representando 185 confederações nacionais na disputa. Em 11 dias de competições, serão disputadas 22 modalidades, em 18 locais, com 549 eventos e mais de três milhões de espectadores acompanhando os jogos. No entanto, os Jogos Paralímpicos nem sempre foram tão populares assim. Os esportes para pessoas com deficiência têm uma história relativamente recente, em comparação com o legado de milênios dos Jogos Olímpicos.
Os desportos paralímpicos existem há mais de 100 anos, com o surgimento do primeiro clube desportivo para surdos no ano de 1888, em Berlim. Porém, foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que os esportes paralímpicos começaram a ter mais visibilidade. Na década de 40, em Stoke Mandville, na Inglaterra, o Dr. Ludwing Guttman incluiu as atividades esportivas no programa de reabilitação de seus pacientes – a maioria composta por soldados feridos durante a guerra. Com o tempo, a prática de esportes evoluiu da reabilitação para competições.
Em 1960, em Roma, na Itália, aconteceu o primeiro evento que mudaria o mundo dos esportes: os primeiros Jogos Paralímpicos. Com a participação de mais de 400 atletas de 23 países, a primeira competição estabeleceu bases para um evento que, como os Jogos Olímpicos, seria realizado a cada quatro anos.
Atletismo nos Jogos Paralímpicos. (Créditos: Daniel Zappe/CPB).
Desde então, muitas mudanças ocorreram, como o aumento no número de países e atletas participantes, a diversidade de locais de realização e, especialmente, a evolução das tecnologias assistivas utilizadas pelos competidores. Nas últimas competições, testemunhamos um avanço impressionante na qualidade e tecnologia aplicada nestes instrumentos, que possuem um papel crucial no desempenho dos paratletas.
As tecnologias assistivas, segundo o Artigo 3 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), são definidas como
[…] produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (Brasil, 2015) .
Isso inclui qualquer auxílio, físico ou de serviços, desenvolvido com foco nas necessidades específicas de cada indivíduo. Para os atletas paralímpicos, as tecnologias assistivas são desenvolvidas para atender às necessidades específicas de cada atleta em sua modalidade, desde cadeiras de rodas esportivas até próteses avançadas.
O uso de materiais leves e resistentes, como a fibra de carbono nas próteses, potencializa ainda mais as capacidades funcionais dos atletas, permitindo que alcancem novos patamares de desempenho. O desenvolvimento dessas tecnologias também contribui positivamente para a melhoria na qualidade de vida das pessoas com deficiências que não estão envolvidas nas competições paralímpicas. Isso porque os resultados alcançados no avanço das próteses utilizadas em competições podem contemplar as necessidades de reabilitação motora e física de todas as pessoas, como uma cadeira de rodas leve e fácil de manusear ou próteses de alta qualidade e baixo custo.
As tecnologias assistivas nas Paralimpíadas evoluíram de maneira impressionante, trazendo impactos positivos e impulsionando tanto o esporte quanto a qualidade de vida das pessoas com deficiência. Os Jogos Paralímpicos representam a fusão entre tecnologia e esportes na busca pela inclusão das pessoas com deficiência, em todos os espaços da sociedade, superando barreiras físicas e sociais.
Para os jogos deste ano, a delegação brasileira realizará um feito histórico! Serão 117 atletas femininas compondo a equipe formada por 255 atletas, sendo a maior delegação feminina da história do país na competição. As mulheres são maioria nas disputas de levantamento de peso, taekwondo, remo, triatlo e no tênis de mesa.
Desafio CPBCBAt, realizado no CT Paralímpico em São Paulo. (Créditos: Marcello Zambrana/CPB).
Temos destaques no atletismo, tênis de mesa e natação. No tênis de mesa, seremos representados por Bruna Alexandre, que se tornou a primeira atleta brasileira a disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, conquistando três medalhas de prata e uma de bronze. Na modalidade de atletismo, contamos com Jerusa Gerber, recordista mundial dos 100m da classe T11 (deficiência visual), Beth Gomes (classe F52, cadeirante) e Lorena Spoladore, também da classe T11. Nas águas, teremos Carol Santiago, da classe S12 (baixa visão) e Edênia Garcia, da classe S3 (comprometimento físico-motor).
Também seremos representados por três atletas do Centro de Treinamento Esportivo da UFMG (CTE-UFMG) na disputa pelas medalhas. O CTE-UFMG é referência nacional na seleção, desenvolvimento e aprimoramento de atletas olímpicos e paralímpicos. Nos Jogos de Paris, o Centro conta com quatro representantes: Ana Caroline da Silva, que competiu no arremesso de peso; Arthur Xavier Ribeiro, na natação; Ana Carolina Silva de Moura, no taekwondo; e Izabela Campos, que ainda disputará sua medalha no arremesso de peso. Arthur e Ana já conquistaram medalhas em suas modalidades paralímpicas nos jogos deste ano.
Até o início de Paris 2024, o Brasil acumulava 373 medalhas na história dos Jogos Paralímpicos — sendo 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes. Em 1° de setembro, dia histórico, o país subiu ao pódio quatro vezes, alcançando a marca de 400 medalhas nos Jogos Paralímpicos.
Atleta Izabela Campos, medalhista de bronze no arremesso de disco F11 nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. (Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil).
Quer saber mais sobre o assunto? Ouça o Papo em Pauta, um podcast sobre sobre cultura, cidadania, ciência e bem-estar do Espaço do Conhecimento UFMG. O episódio que abre a segunda temporada do projeto contou com a participação da Izabela Campos — atleta paralímpica no Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG e assistente social, que conquistou uma série de medalhas em eventos esportivos. O episódio está disponível aqui.
[Texto de autoria de Maria Helena Teixeira Ribeiro , estudante do curso de Terapia Ocupacional e estagiária do Núcleo de Ações Educativas e Acessibilidade]
Referências
Como a Tecnologia Assistiva Está Revolucionando a Inclusão No Esporte?.
Esporte Paralímpico: Tecnológico e Inclusivo.
Jogos Paralímpicos Paris 2024.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 7 jul. 2015.
SOUSA R.P.A.; FREITAS D.A.; DANTAS T.L.F.S. Tecnologia assistiva no esporte paralímpico: cadeira de rodas, próteses, órteses e implementos. In: Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física; BITTENCOURT N.F.N.; LIMA P.O.P., (orgs.). PROFISIO – Programa de Atualização em Fisioterapia Esportiva e Atividade Física: Ciclo 9. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2020. p. 147–83. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2).