7º Festival de Verão da UFMG

Vadiar é preciso, o resto é improviso

Centro Cultural UFMG
Av. Santos Dumont, 174 - Centro
Carnaval 2013
8 a 12 de fevereiro

Repentistas e MCs duelam hoje no Centro Cultural; Cine 0800 exibe 'Estamira'

10 de fevereiro de 2013 · 5h59

Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa: cantoria é criada no improviso
Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa: cantoria é criada no improviso

O Rap de repentes, duelo de MCs e de violeiros repentistas, é a atração desta noite da programação do 7º Festival de Verão da UFMG, que está sendo realizado no Centro Cultural UFMG. O encontro, marcado para 19h, reunirá a dupla pernambucana Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa e cinco representantes do movimento Duelo de MCs, de grande relevância na atual cena cultural de Belo Horizonte.

O violeiro Antônio Lisboa explica a lógica do repente. "Na cantoria de viola, não existe repertório. O cantador repete um tema pré-estabelecido, um mote, mas canta tudo de improviso. Se o público pede para cantarmos sobre amor, por exemplo, é claro que falamos de abraços, de carinho, sentimento. Mas, a cada vez que abordamos o tema, fazemos uma cantoria nova. Criamos no momento", esclarece Antônio Lisboa.

Lisboa conta que existem mais de cem modalidades de cantoria, como sextilhas, mourões, oitavas, décimas. São formas básicas de estruturas poéticas que se subdividem em muitas outras, sem contar as variantes dentro da mesma métrica. "Cantamos sextilhas, mourões, martelo alagoano, martelo agalopado, martelo miudinho etc. E cantadores cantam o que o público mais pede: a saudade, o amor, a seca, os temas sociais", detalha.

Juntos há 18 anos, Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa já realizaram três turnês pela Europa. Os cantadores contabilizam 245 primeiros lugares nos tradicionais festivais de repentistas que acontecem país afora.

Desafio e improviso
Junto com os repentistas, vão se apresentar alguns expoentes do Duelo de MCs, realizado desde 2007 sob o viaduto Santa Tereza, no centro de Belo Horizonte. O Festival receberá os MCs Monge, PDR, DIN e Ozléo. "No hip hop, os duelos entre MCs acontecem em diversos formatos, mas o mais comum é termos dois rounds de 45 segundos para cada MC, em um sistema de ataque e resposta", explica MC Monge. No primeiro round, um MC ataca e seu adversário responde. No segundo, eles invertem os papéis. "No final, uma votação decide o vencedor daquele duelo", conta.

Duelo de MCs é um importante movimento cultural de Belo Horizonte (Foto: Rafael Vilela) Duelo de MCs é um importante movimento cultural de Belo Horizonte (Foto: Rafael Vilela)

Monge explica que os MCs farão uma brincadeira entre o freestyle, o improviso dos MCs no hip hop, e o improviso feito pelos repentistas. Antônio Lisboa destaca que, na apresentação da dupla, o público de Belo Horizonte também poderá conferir uma espécie de duelo. "Em Recife, chamamos de desafio. É algo que dura entre cinco e seis minutos, também uma modalidade de repente", diz.

Com duração prevista de duas horas, o show tem entrada franca, limitada à capacidade do auditório do Centro Cultural (avenida Santos Dumont, 174). Mais informações pelo telefone 3409-8278 e pelo e-mail festivalveraoufmg@gmail.com.

Cine 0800
O filme Estamira, do diretor Marcos Prado, dá continuidade neste domingo, dia 10, à programação do projeto Cine 0800 do Festival de Verão. O documentário será exibido a partir de 12h30, no Centro Cultural UFMG.

A produção retrata a vida de Estamira, uma senhora com distúrbios mentais que vivia e trabalhava no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Considerado o maior "lixão" a céu aberto da América Latina, o local foi desativado em junho do ano passado.

Estamira, que morreu em 2011, ficou famosa pelo seu discurso filosófico, resultado de uma mistura de lucidez e loucura. Ela discorre sobre a vida, Deus e o trabalho, além de fazer reflexões existenciais sobre si mesma e sobre a sociedade dos homens.

"Estamira acreditava ter a missão de trazer os princípios éticos básicos para as pessoas que viviam fora do lixo, onde ela viveu por 22 anos. Para ela, o verdadeiro lixo são os valores falidos em que vive a sociedade", comenta Marcos Prado. O documentário teve grande repercussão internacional, tendo conquistado 23 prêmios e o reconhecimento da crítica especializada.

A programação cinematográfica do Festival de Verão está em sintonia com a proposta do evento de trabalhar com o resto, com aquilo que a princípio não tem serventia. Na segunda-feira, será exibido Os catadores e eu, da diretora francesa Agnès Varda.

Na terça-feira, dia 12, a atração é Lixo Extraordinário, filme que aborda o trabalho do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário de Jardim Gramacho.

A entrada para os filmes do projeto Cine 0800 também é gratuita e limitada à capacidade da sala de exibição do Centro Cultural.