Bruno Leal, do Departamento de Comunicação da UFMG.
Foto: Yan Marques – IEAT/UFMG
O professor Bruno Souza Leal, do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, apresentou sua pesquisa de residência durante o terceiro encontro da Mostra de Residentes do IEAT, realizada no dia 07 de maio de 2025.
Bruno Leal falou sobre o tema Catástrofes cotidianas: explorações analíticas das articulações entre textualidades, acontecimentos e temporalidades. Ele iniciou sua fala destacando a formação do campo de comunicação no mundo, com destaque para o contexto brasileiro. Segundo ele, no Brasil, a comunicação social, como área acadêmica, emergiu historicamente vinculada à ideia de modernização nacional. A formação na graduação, desde os primeiros cursos, esteve vinculada a ideia de formar profissionais aptos a atuar em um mercado de trabalho em expansão, por conta do avanço da indústria cultural no país.
Segundo ele, o projeto de criação das redes nacionais de comunicação, que se situa em um modelo de comunicação hiper-centralizado, nasce nos anos 1960/70 num alicerce com forte apelo político e econômico. “Esses dois fatores são importantes para entender o cenário da comunicação no Brasil, o surgimento dos grandes oligopólios de rádio e televisão e seu papel na história do país. Contudo, a ideia de que a mídia [de massa] poderia exercer grande influencia sobre a opinião da população, atuando como quarto poder, vai aos poucos perdendo força, especialmente no contexto das chamadas novas mídias”, destacou.
Avançando em sua apresentação, Bruno Leal tratou da ideia do próprio alargamento do conceito de mídia, que é modificado. Com o desenvolvimento de novas correntes teóricas da comunicação, o conceito de mídia evoluiu para designar qualquer suporte, tecnologia ou dispositivo capaz de possibilitar materialmente a circulação de signos em um dado processo comunicacional. Assim, diferentes objetos e tecnologias podem ser compreendidos como mídias, na medida em que se integram a um dado processo de comunicação.
Na parte final de sua apresentação, Bruno Leal destacou as noções de interação, mediação e experiência, que são comumente tomadas como dimensões para se pensar a produção de sentido nos processos de comunicação contemporâneos. Para ele, é preciso se pensar a comunicação a partir da experiência, com todas as suas lacunas e contradições.
A partir da dimensão da experiência, Bruno Leal explicou que busca compreender certos acontecimentos e realidades problemáticas, que são naturalizados no dia a dia, como catástrofes cotidianas, que são objeto de sua pesquisa. Ele explicou que, perpassado os desafios iniciais de articulação teórica e metodológica, sua pesquisa tem se desdobrado em torno de três eixos: as catástrofes que ocorrem pela experiência cotidiana, em especial a urbana, os desastres ambientais e a violência contra a mulher.
Segundo Bruno Leal, a pesquisa visa compreender a experiência das catástrofes do dia a dia, como uma interpolação de sentidos, partindo da ideia da heterogeneidade social, das forças, dos poderes e das temporalidades que por elas perpassem e nelas emergem. Não se trata de entender o acontecimento como elemento constitutivo de uma determinada realidade isolada, mas de compreender um dado evento ou situação como articulado a outros. Os acontecimentos estão interligados e incorporados uns aos outros. É nesta visada que ele apresentou várias imagens para exemplificar o que chamou de naturalização das catástrofes cotidianas, como, por exemplo, fotos de bancas de revistas, os memes que circularam durante a pandemia de covid-19, imagens de lixões sanitários e de pessoas às voltas com as consequências dos rompimentos das barragens de rejeitos. Essas imagens materializam como que novelos temporais que agregam passado, presente e futuro e uma busca pela reinvenção em situações ou cenários desafiadores, num mundo cada vez mais digitalizado.
Para finalizar, Bruno Leal situou a pesquisa, também, como um movimento crítico: trata-se de olhar para esses acontecimentos como um questionamento ao próprio acontecimento jornalístico. “A pesquisa nasce de uma crítica ao próprio jornalismo tradicional e à ideia dos critérios de noticiabilidade de um determinado fato, pois não se trata de mostrar algo que é excepcional, mas indicar o lugar de posição do ordinário e do cotidiano na própria constituição da vida humana”, finalizou.