MB:
O senhor se interessa por outras coleções?
OC: Coisa assim de museu, não, mas gosto
de gente que guarda coisas engraçadas.
Tem uma pessoa que vem aqui que guardou todas
as notas de todas as compras que ele fez em
cinco anos. Depois ele organizou os itens das
compras, as quantidades e preços. Ele
agora faz uns gráficos de quantidade
de cada coisa que ele comeu, numas tabelas.
Em cinco anos ele sozinho gastou 79 pacotes
de café. Fiquei impressionadíssimo.
MB: O senhor conhece mais alguém
que coleciona jornais?
OC: Parece que muita gente guarda recortes de
jornal. Um amigo meu guarda todas as palavras
cruzadas; começou muito antes de mim,
mas nunca falou disso. Ele nunca fez palavras
cruzadas e nem vai saber fazer. Fala que é
para quando se aposentar. O jornal fica poeirento
e vai dar alergia. Tem uma mulher que ajuntava
as receitas todas e de vez em quando experimentava
fazer uma. Ela disse que costumavam não
dar certo; começou a achar que era tudo
mentira.
MB: O senhor também desconfia?
OC: Desconfio é dela como cozinheira.
MB: O senhor tem um sistema de
preparo e rotina para o seu trabalho?
OC: Ah! Sim... Diariamente compro e faço
uma leitura superficial, sem cortar o jornal
novo. Guardo por alguns dias, vou empilhando
e retirando dali aos poucos, de baixo pra cima,
sempre em dívida com a coleção.
Assim muitas vezes leio notícia velha,
velhíssima. Os recortes, vou guardando
numa caixa até separar, classificar,
agrupando e dando nomes. |