Empresa incubada na UFMG desenvolve protótipo de geladeira solar

Que tal uma geladeira que utilize uma fonte de energia gratuita, abundante e não-poluente? O protótipo já existe e seus idealizadores preparam-se para colocar o produto no mercado em pouco mais de dois anos. É a geladeira solar, que não vem com compressor nem motor e atinge temperaturas adequadas à estocagem de alimentos.

O projeto é dos estudantes da UFMG Fabiano Drumond Chaves, doutorando em Engenharia Mecânica, e Fernando Vollu Cyríaco, aluno da graduação em Matemática. Proprietários da empresa Paz Engenharia, uma das onze atualmente incubadas na Inova - Incubadora de Empresas da UFMG, eles pretendem produzir não apenas a geladeira, mas também o coletor de energia solar que acompanha obrigatoriamente cada aparelho.

"Nossa intenção é utilizar o período de incubação na Inova, que é de dois anos, para montar a planta da indústria e desenvolver outros produtos que utilizem energia solar", diz Fernando Cyríaco.

Simplicidade
Entre as várias tecnologias disponíveis, os pesquisadores optaram por utilizar, no projeto da geladeira solar, o processo de absorção, método mais antigo já usado pelo homem para gerar frio. A grande novidade no projeto da Paz Engenharia é resgatar o processo da absorção, sem depender de energia elétrica. O projeto da geladeira solar tem outras especificidades: côncavo, seu coletor solar não é plano como as placas utilizadas para aquecer água, e transforma diretamente a luz solar em frio, sem a necessidade de produzir eletricidade.

A geladeira acumula energia térmica durante o dia, para possibilitar seu funcionamento noturno. E para longos períodos de céu encoberto, possui um sistema auxiliar que utiliza outro combustível - gás, álcool ou biomassa. A placa, que pode ser instalada no telhado ou no terreiro da casa onde funcionará a geladeira, tem um dispositivo que acompanha o movimento dos raios solares.

A idéia de criar uma geladeira solar surgiu de conversas entre os dois amigos, exatamente durante a crise de energia elétrica, em 2001. Para pôr o projeto em prática, Fabiano Chaves e Fernando Cyríaco contaram com o apoio do Sebrae e do Ministério de Ciência e Tecnologia. Por intermédio da UFMG, os jovens pesquisadores participaram de programa de consultoria tecnológica que disponibiliza recursos não-reembolsáveis para estudos de viabilidade técnica e econômica (EVTE) de produtos, processos ou serviços que contenham inovação tecnológica.

"O programa nos deu uma noção de mercado e possibilitou a construção do protótipo", afirma Fernando Cyríaco. O estudo foi realizado com a consultoria dos professores Márcio Fonte-Boa e Geraldo Campolina, da Escola de Engenharia, respectivamente orientador e co-orientador da pesquisa de doutorado de Fabiano Chaves.

Montado com material comprado a varejo, o protótipo indicou que uma geladeira padrão, de 200 litros, terá o custo aproximado de R$2 mil, incluindo o coletor solar. Os pesquisadores acreditam que a produção em escala vai baratear o custo da unidade. "Além disso, podemos fabricar modelos menores e mais baratos", comenta Fabiano Chaves.

Mas a grande economia da geladeira está mesmo na sua manutenção, devido ao custo zero com a fonte energética. "Sem contar a durabilidade, muito maior que a dos aparelhos a energia elétrica. E com a vantagem de não poluir nem fazer qualquer tipo de ruído", acrescenta o pesquisador.

Função social
Mais do que chegar ao mercado, a meta da Paz Engenharia é cumprir uma função social, dizem seus proprietários. Levar a comodidade da geladeira a comunidades rurais onde não há energia elétrica e minimizar a crise energética, com o estímulo ao uso de fontes renováveis e não-poluentes, são alguns dos aspectos da missão da empresa, resumida no lema "o sol nasceu para todos".

A dupla, inclusive, tem outras idéias para ampliar o acesso de comunidades ao conforto propiciado por equipamentos de refrigeração. Eles sugerem, por exemplo, que o governo financie a instalação de congeladores de uso coletivo para comunidades de pescadores ou a compra de pequenas geladeiras para a conservação de vacinas em povoados rurais. "Por tudo isso, não pensamos em vender nosso projeto, mas em produzir por nossa conta, porque há muita idéia boa arquivada, pelo poder das grandes empresas", afirma Fabiano Chaves.

Como funciona
Operando como uma grande lupa, o coletor recebe os raios solares e os converge para o aquecimento de um fluido até a temperatura de 250C; Esse fluido quente é responsável pela vaporização de um produto (amônia, por exemplo) misturado à água; O vapor é direcionado para uma parte do protótipo, onde vira líquido; O líquido segue para a câmara fria do protótipo, onde novamente é vaporizado, "roubando" o calor da geladeira; O ciclo recomeça.

Inova já graduou seis empresas
As incubadoras dão suporte a empresas nascentes, disponibilizando espaço físico, serviços básicos, assessorias e consultorias, com o objetivo de incentivar o empreendorismo, produzir empresas que sejam multiplicadores de empregos e renda, além de propiciar o crescimento empresarial, gerando empresas com potencial de inovação e desenvolvimento tecnológico.

Após um período de incubação de dois anos, as empresas são graduadas, isto é, passam a operar no mercado. A Inova - Incubadora de empresas da UFMG, já graduou seis empresas e atualmente atua com sua capacidade máxima, abrigando onze empresas.

Além das empresas graduadas, a Inova já gerou 40 empregos diretos, 60 projetos com possibilidade de inovação tecnológica e inúmeras oportunidades de estágio para alunos da UFMG.