Uma homenagem aos quatro alunos da UFMG mortos pela ditadura militar marcou a abertura, na tarde de quinta-feira, dia 9, da exposição Liberdade, essa palavra, que comemora os 77 anos da Universidade e celebra a resistência do movimento estudantil a um dos períodos mais autoritários da história brasileira. A memória dos estudantes Gildo Macedo Lacerda, Idalísio Soares Aranha Filho, José Carlos Novaes Mata Machado e Walkíria Afonso Costa ganhou um monumento no gramado da Biblioteca Universitária, materializado por quatro troncos cortados, que simbolizam as vidas ceifadas pelo autoritarismo. Homenagem Participaram da cerimônia o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda - que descerrou junto com Borato a placa do monumento que homenageou os estudantes - o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, o deputado federal Sérgio Miranda, além de três ex-reitores da Universidade: Aluísio Pimenta, Tomaz Aroldo da Mota Santos e Celso Vasconcelos Pinheiro. Ativo militante do movimento estudantil da época, o prefeito Fernando Pimentel disse que a luta dos quatro estudantes e de tantos outros que perderam suas vidas ou foram torturados, cassados e exilados não foi em vão. "Olhando para trás e observando tudo o que passamos, tenho a certeza de que o sacrifício valeu a pena". Tradição de luta De Walkíria, Mauro Braga não esquece o "riso barulhento e franco" e de Idalísio guarda as noitadas embaladas com o seu violão e a lembrança de ter compartilhado com ele a notícia de um acontecimento que marcaria para sempre aquela geração: a edição do AI-5, em 1968. A mostra foi preparada pelo Projeto República, que organizou o seu acervo, e pelo Centro de Comunicação (Cedecom), responsável pela produção do catálogo. A curadoria é do professor Fabrício Fernandino. A mostra está dividida em dois ambientes. Em um deles, mais "soturno", ficarão imagens e documentos referentes aos conflitos entre estudantes e representantes do regime militar. No outro, serão reveladas ao público as manifestações culturais e artísticas que alimentavam o sonho de liberdade. Mais informações no hotsite do evento: www.ufmg.br/liberdade.
Na abertura da cerimônia, o reitor em exercício, Marcos Borato, lembrou que a homenagem aos quatro estudantes "condensava" a reverência feita pela Universidade ao movimento estudantil, que sempre se envolveu em grandes causas, como a resistência à ditadura militar.
Já o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, destacou a tradição de luta da Universidade pelas liberdades democráticas. "Esta universidade nunca se curvou. Ela sempre soube resistir ao autoritarismo", disse o secretário, que também enalteceu o caráter acolhedor da UFMG. "Logo que saí da prisão, em 1975, fui reintegrado à Universidade. Isso ocorreu quatro anos antes da anistia", relatou Nilmário.
A cerimônia foi encerrada com um testemunho do chefe de gabinete, Mauro Braga, outro de intensa atuação no movimento estudantil. Braga relembrou sua convivência com os quatro homenageados. "Com José Carlos participei do Congresso de Ibiúna, de Gildo fui companheiro de prisão", relatou o professor, que foi mais próximo de Walkíria e Idalísio. "Deles, não fui apenas companheiro de militância. Foram meus amigos".
A exposição
A exposição Liberdade, essa palavra, em cartaz até o dia 13 de outubro no saguão da Reitoria, reúne cerca de 90 imagens, entre fotos, cartazes, charges e panfletos, que retratam momentos marcantes do movimento estudantil, de 1964 a 1984. Outro destaque está na montagem de uma "trilha sonora", com mais de cem músicas entoadas pelos estudantes da época.