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O 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária teve na tarde de terça-feira, 14, a mesa-redonda Universidade e desenvolvimento social: a expectativa da sociedade, coordenada pelo diretor de Programas de Extensão da Universidade Católica de Brasília, Luís Síveres. Participaram o representante da Universidad de San Buenaventura, Victor Manuel Quintero (Cali, Colômbia), a presidente da Associação de Mulheres Batalhadoras, Rosalina Batista (Londrina, PR) e o presidente do Instituto de Desenvolvimento e Investimento Social (São Paulo, SP) Marcos Kisil. Falando sobre parceria com a universidade a ex-trabalhadora rural Rosalina Batista, disse que as instituições de ensino podem contribuir muito para o fortalecimento dos movimentos sociais. "Há uma relevância muito grande quando a extensão universitária nos chama para participar e poder colocar o que a gente pensa e as necessidades que a gente tem, como neste Congresso", acredita. Rosalina observou, contudo, que o autoritarismo de algumas instituições de ensino pode prejudicar essa parceria. "O campo que a gente trabalha com o aluno tem que ser conhecido como o campo da prática de produção de conhecimento", assinalou. Isto é, uma relação de parceria, de mão dupla, sem imposições. Marcos Kisil por sua vez comentou as dificuldades que existem por parte das instituições de ensino em lidar com a sociedade civil. Para ele, "a universidade poderia ser muito mais ativa em procurar parcerias, e ela não o faz porque, às vezes, tem um nível grande de ignorância sobre como a sociedade civil funciona". Kisil acredita que a universidade ampliaria seu número de parceiros se estivesse disposta a entendê-la melhor. "A sociedade pode ser também financiadora de projetos, e não só executora de serviços", afirma. Victor Quintero abordou a avaliação dos impactos da extensão universitária. Ele afirmou que todos os envolvidos com o 2º Congresso cresceram muito na questão da avaliação da extensão, da união dela com a investigação e a docência e de como a extensão deve ser parte fundamental do currículo. "No século 19, a universidade centrou-se na docência; no século 20, centrou-se na investigação e aqui vemos que a universidade do século 21 terá muito que ver com a extensão, porque é a forma como a universidade se renova permanentemente", concluiu. Ciclos de debates Participaram da mesa o professor da Universidade Federal do Estado de São Paulo, Nildo Alves Batista, e o representante do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG, João Antônio de Paula. Nildo Alves afirmou que "a idéia de grade curricular impede os avanços da interdisciplinaridade. O currículo é a cultura da escola, da qual selecionamos e organizamos aquilo que queremos dela. Ele deve funcionar como uma metodologia possibilitadora da interdisciplinaridade". No caso da extensão, acha ele, a interdisciplinaridade deve estar presente na articulação das dimensões institucionais e sociais, na articulação entre as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão, possibilitando a construção de novas práticas, afirma o professor. João Antônio de Paula disse que é necessário "reconhecer a necessidade não só de novas estruturas curriculares, mas, sobretudo, de novas práticas, de uma nova cultura em que a extensão seja uma referência não apenas para o ensino de graduação e pós-graduação, mas também uma das dimensões das atividades de pesquisa, na medida em que a extensão é, essencialmente, a possibilidade da permeabilidade da universidade às demandas sociais". Comunicação Patrícia Souto apresentou a história e o funcionamento do projeto Universia, iniciativa do Banco Santander. O Portal Universia é um site que oferece informações e serviços à comunidade acadêmica, com o objetivo de disseminar o conhecimento entre as universidades. Com cerca de 760 instituições de ensino parceiras no mundo, busca combater a exclusão digital e informacional. Para Patrícia, "as empresas são co-responsáveis no desenvolvimento social do país". Osvair Englaub falou sobre o início do Sife, em 1995, quando grupo de universitários do Texas (EUA) implementou trabalho acadêmico sobre empreendedorismo, educação e sociedade em comunidade carente próxima à universidade e obteve resultados surpreendentes. A organização atua em mais de 40 países e não tem fins lucrativos. Seu objetivo é a melhoria do mundo através do apoio a projetos na área de desenvolvimento social, elaborados por estudantes de universidades parceiras. "A busca do Sife é por uma verdadeira transformação da sociedade", disse Odair. O representante da Une, Tiago Ferreira, iniciou sua participação levantando temas como o papel da universidade dentro do tripé (universidade, empresa e poder público) que sustenta a responsabilidade social e como essa proposta pode ser levada à frente. Tiago questionou que as exposições destacaram o papel das empresas, mas não o das universidades e o do poder público. Para ele, "o conceito de responsabilidade social só será aprofundado quando o Estado for o principal indutor de políticas públicas, definindo parâmetros e projetos nessa área". (Ana Paula Ferreira e Cláudia Mendonça, bolsistas de extensão do curso de Jornalismo da UFMG)
Na parte da manhã aconteceram dois ciclos de debates. Num deles, Metodologia e interdisciplinaridade, a coordenadora, reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio), Malvina Tuttman, disse que a questão da interdisciplinaridade, apesar de ser um tema antigo, está mais no campo das idéias que no exercício, e é através do "embate fértil das idéias que poderemos construir e caminhar no processo de construção da universidade que queremos".
O outro ciclo de debates contemplou o tema Responsabilidade social: comunicação e interação. Coordenado pela pró-reitora de Extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Lúcia Guerra, o debate contou com a participação da diretora de Relacionamentos do Portal Universia, Patrícia Souto e do diretor da Sife Brasil (Students In Free Interprise) Osvair Englaub. Como debatedor, foi convidado o representante da União Nacional dos Estudantes (Une) Tiago Alves Ferreira.