Começa o V Encontro Internacional de Performance

Após um ritual de boas-vindas dos índios Caiapó e da bênção dos Maxacali, realizada em nome do bom andamento dos trabalhos, foi aberto oficialmente, nesta sexta-feira, 11 de março, na UFMG, o V Encontro Internacional de Performance, que será realizado, em Belo Horizonte, até o dia 19, através de parceria entre a Universidade e o Instituto Hemisférico de Performances Políticas das Américas, sediado em Nova York.

Os participantes do evento, que lotavam o auditório da Reitoria, receberam as boas-vindas da reitora Ana Lúcia Gazzola e das professoras Leda Martins, coordenadora nacional do Encontro, e Eliane Mendes, diretora da Faculdade de Letras da UFMG. Ouviram, ainda, o depoimento de Diana Taylor, diretora do Instituto Hemisférico, e de Roberta Uno, responsável pelas iniciativas de cultura, mídia e arte da Fundação Ford. Ao final da cerimônia, os presentes assistiram à apresentação, a capela, da cantora peruana Suzana Baca.

A professora Ana Lúcia Gazzola ressaltou a importância da realização do Encontro, "iniciativa na contramão das obviedades", em uma instituição de ensino superior. Para a Reitora, é preciso que as universidades sejam progressivamente "seduzidas" pela diversidade. "Elas têm a obrigação de acolher a diferença e de se tornarem fóruns políticos e espaço para os movimentos sociais", afirmou.

Além de manifestar a satisfação da UFMG em sediar o evento, a reitora alertou para a tentativa empreendida por grupos hegemônicos de transformar a educação e outros patrimônios intangíveis em itens da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em seu depoimento, a professora Leda Martins agradeceu, nominalmente, os responsáveis pela realização do Encontro. Em seguida, ressaltou a importância do tema Performances e raízes: práticas indígenas contemporâneas e mobilizações comunitárias, principalmente para os brasileiros. "As práticas indígenas nos importam há 500 anos. Discuti-las é uma forma de abordar o país e suas questões: a educação, a fome, a religião, a arte", ressaltou. Por fim, comentou a atualidade da discussão sobre o conhecimento mediado pela prática corporal.

Diretora do Instituto Hemisférico de Performances Política das Américas, Diana Taylor apresentou aos participantes o portal eletrônico da entidade, além de comentar as outras quatro edições do Encontro. Além disso, destacou a importância de reunir representantes de diversas partes do mundo, em um país latino-americano, com o objetivo de ampliar o diálogo sobre práticas políticas, diversidade e performance. "Este é o momento do intercâmbio, em que podemos trabalhar juntos e pensar políticas de desenvolvimento social e cultural", disse.

Roberta Uno, da Fundação Ford, comentou a abrangência internacional da entidade que representa a importância do desenvolvimento de iniciativas nos diversos países latino-americanos. Em relação ao Encontro, ressaltou a possibilidade de a cultura "ir além de fronteiras e métodos intelectuais". "Trata-se de espaço e momento únicos e transformadores, em que reunimos artistas e intelectuais de todo o mundo para a organização de políticas para a diversidade", completou.

O evento
Cerca de 300 artistas, pesquisadores e ativistas de diversos países das Américas participam do V Encontro Internacional de Performance, cujo tema será Performances e raízes: práticas indígenas contemporâneas e mobilizações comunitárias. Entre eles, nomes como Jesusa Rodriguez, premiada atriz mexicana, e Susana Baca, uma das maiores intérpretes peruanas, Grammy Latino na categoria world music, em 2002, além de grupos bastante conhecidos como Galpão e Giramundo.

Apesar de a palavra "performance" estar comumente vinculada às artes cênicas, o Instituto Hemisférico explora os sentidos possíveis das práticas performáticas, que envolvem o corpo como agente de expressão e construção. "Em vez de focalizar preferencialmente a cultura escrita, optamos pela abordagem da cultura corporificada. No lugar do discursivo, o performático", explica Leda Martins, coordenadora do evento pela UFMG.

Mescla de gêneros
Assim, o encontro vai mesclar gêneros artísticos diversos, como dança, música, artes cênicas, produção de vídeos e artes plásticas. Durante o evento, entre as atividades práticas e teóricas, haverá oficinas, conferências, grupos de trabalho e mesas-redondas. Os temas giram em torno das tradições culturais indígenas, o patrimônio imaterial, a relação entre a arte e o mercado e as formas de inserção dos agentes culturais.

Esta é a segunda vez que o Encontro Internacional de Performance acontece no Brasil. O primeiro foi realizado no Rio de Janeiro, em 2000; o segundo em Monterrey, no México (2001); o terceiro na peruana Lima (2002), e o quarto na cidade de Nova York. Todas as edições tiveram programa intensivo de dez dias, realizado em diferentes locais nas Américas. Além dos seminários e conferências acadêmicas, há espaço para performances ao vivo e oficinas de estratégias ativistas.

O evento conta com coordenação das professoras Leda Martins, da UFMG, e Diana Taylor, da Universidade de Nova York. Já a produção é realizada pela Nó de Rosa, de Belo Horizonte, sob coordenação de Tatiana Rubim, Márcia Ribeiro e Ângela Castanheira.

Programação
Parte da programação do evento será restrita às pessoas que se inscreverem mediante pagamento de taxa. Para o Brasil, foram abertas 100 vagas, e 200 estão reservadas a outros países. As atividades práticas irão abordar a produção e circulação das noções de identidade, tradições, autenticidade, direitos, acesso cultural e propriedade na era da globalização. Todas as performances noturnas contam com entrada franca. A retirada de senhas para os espetáculos, nas bilheterias dos teatros, será realizada a partir do dia 10 de março.

Inscrições
As inscrições para o Encontro podem ser feitas, com antecedência, na sala 4017 da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG ou durante o evento na Secretaria Executiva - Conservatório de Música da UFMG (av. Afonso Pena, 1.534 , 2º andar - sala 17).

Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3409-5132.

Locais de realização
A programação será realizada em diversos espaços da cidade: Conservatório de Música da UFMG (av. Afonso Pena 1.534 , 2º andar - sala 17) , Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal, s/nº – Centro), Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537 – Centro), Teatro da Cidade (rua da Bahia, 1.341 – Centro), Centro Cultural da UFMG (av. Santos Dumont, 174 – Centro), Campus da Reitoria da UFMG (av. Antônio Carlos, 6.627 – Pampulha), Centro de Cultura de Belo Horizonte (rua da Bahia, 1.149 – Centro), Parque Municipal (av. Afonso Pena, s/nº - Centro) e Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte.

Apresentações gratuitas
O V Encontro Internacional de Performance contará com uma série de apresentações gratuitas, abertas ao público. Confira algumas:

11 de março - Campus da Reitoria da UFMG: para dar boas-vindas aos participantes, os povos indígenas Kaiapó, Maxacali e de outras tribos envolverão todos os presentes com suas performances (15h); haverá abertura da exposição Fragmentos de uma Nação: o Povo Maxacali e da instalação Megalíticos, sob a curadoria de Fabrício Fernandino (19h); e a performance dança do povo Mebengokrê, ao ar livre (19h30).

12 de março – A partir das 17 horas, haverá abertura de exposições de fotografias, aquarelas, estandartes e outros, em diversos locais da cidade. Às 21h, o Quarteto Pamyua, do Alasca,apresenta-se, no Teatro Francisco Nunes. O grupo mescla Jazz, funk e outros ritmos mundiais para criar um estilo nativo novo e único.

13 de março –Zeca Ligièro apresenta Desabrigo, no Teatro da Cidade (19h15). Às 21 horas, no Teatro Francisco Nunes, Larry Yazzie, dos Estados Unidos, apresenta Fancy Dancing; David Pleasant, dos Estados Unidos, apresenta The Language of the Soul; Rulan Tangen, dos Estados Unidos, apresenta Dancing Earth, com a participação musical de Quetzal Guerrero. Logo após, haverá debate com Raquel Chapa, dos EUA.

14 de março –Companhia de dança do Palácio das Artes apresenta Coreografia de Cordel, no Grande Teatro do Palácio das Artes, às 18h15. No Teatro Francisco Nunes, às 21h, apresentação do FOMMA (Fortaleza de la Mujer Maya), do México, com Soledad y Esperanza. Às 22 horas, Coatlicue Theatre, EUA/México, apresenta Caracol Corazón de la Tierra – Flor de la Esperanza/Caracol Heart of the Earth – Flower of Hope. Em seguida, debate com Tamara Underiner, dos Estados Unidos.

15 de março – A premiada atriz e diretora de teatro, a mexicana Jesusa Rodriguez, apresentará com Liliana Felipe, da Argentina, a performance Cabaret PreHispánico: El Ombligo de las Diosas, às 21 horas, no Teatro Francisco Nunes.

16 de março – O Grupo Galpão apresentará o espetáculo Um Molière Imaginário, no Grande Teatro do Palácio das Artes, às 21 horas.

17 de março – Uma das maiores intérpretes peruanas, Grammy Latino na categoria world music, em 2002, Susana Baca, fará única apresentação no Grande Teatro do Palácio das Artes, às 21 horas. Após o concerto, o compositor Fernando Brant conduzirá debate sobre performance.

18 de março – A partir de 15h45 até às 19 horas, ocorrerão diversas performances ao ar livre, na Praça da Estação, com a presença de artistas do Peru, México, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Às 21 horas, o Grupo de Teatro de Bonecos Giramundo apresentará Cobra Norato, no Teatro Francisco Nunes.

A programação completa do V Encontro Internacional de Performance pode ser conferida na Internet.