A fotossíntese de frutos e folhas do jacarandá-do-cerrado (Dalbergia miscolobium), árvore nativa muito comum no cerrado mineiro, é tema de investigação científica inédita dos pesquisadores José Pires e Rosy Isaías, do departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. A novidade consiste em conhecer a atividade de fotossíntese em frutos da flora brasileira. Segundo revela resultados preliminares da investigação, a fotossíntese nos frutos é necessária ao seu desenvolvimento inicial, na formação da semente e desempenha papel importante na respiração dos tecidos do fruto A divulgação da pesquisa foi feita pelo informativo Ciênciassim, do ICB, em sua edição de dezembro. Veja a seguir, a reprodução do artigo: Sempre que ouvimos falar em fotossíntese, logo associamos como sendo o processo pelo qual as folhas das plantas captam a luz para a produção de oxigênio e glicose. Mas, o que se sabe hoje é que as folhas não são as únicas a realizar a fotossíntese, qualquer tecido verde nos vegetais também é capaz, inclusive os frutos. Baseado nesse conhecimento é que os pesquisadores José Pires e Rosy Isaías do Departamento de Botânica do ICB resolveram fazer um estudo para comparar a atividade fotossintética das folhas e dos frutos da Dalbergia miscolobium, uma árvore nativa, muito comum no cerrado mineiro, conhecida popularmente como jacarandá-do-cerrado. "A fotossíntese em frutos comerciais como pera e abacate já é bem conhecida e estudada. A novidade é o estudo com plantas nativas da flora brasileira", conta o pesquisador Pires. Para saber se realmente o fruto do jacarandá-do-cerrado é capaz de realizar a fotossíntese foi preciso a mensuração de sua condutância estomática - medida que permite quantificar as trocas gasosas realizadas pelo tecido vegetal. Para essa aferição foi usado o Porômetro, um aparelho que mostra a quantidade de vapor d'água que sai pelos estômatos. "Sob condições não limitantes de luz, uma condutância estomática alta significa que os estômatos estão abertos, permitindo não somente a saída do vapor como a difusão do gás carbônico para dentro da folha, a matéria-prima da fotossíntese", explica Pires. O proômetro revelou que as folhas possuem uma condutância em torno de dez vezes maior de estômatos nas folhas do que nos frutos. Um outro parâmetro usado para avaliar a fotossíntese foi a fluorescência. Esta é uma medida relacionada com a quantidade de luz utilizada durante o processo. "Utilizamos o Fluorímetro que consegue avaliar a atividade fotoquímica que é a fase da fotossíntese correspondente à captura da luz e à sua utilização para a produção de compostos ricos em energia química que serão utilizados na fse posterior de incorporação do gás carbônico em açúcares', diz o pesquisador. A taxa de conversão da luz em energia foi duas vezes maior nas folhas do que nos frutos. Ficou comprovado que os frutos da Dalbergia miscolobium fazem fotossíntese, mas esta é insuficiente para seu desenvolvimento, por isso utilizam também carbono que vem da fotossíntese das folhas. Outra coisa muito importante que se deve saber é que com amadurecimento, os frutos perdem a capacidade de fazer fotossíntese. O pesquisador ainda ressalta que, apesar de uma taxa fotossintética menor nos frutos, ela é muito importante. "A fotossíntese nos frutos é necessária no seu desenvolvimento inicial, principalmente, na formação da semente e também o oxigênio produzido é utilizado na própria respiração dos tecidos do fruto", reforça Pires.