Para a população local, ela é a "cidade do não", devido à precariedade na oferta de serviços públicos e benefícios sociais. Mas o que não falta, afirmam, é fome. O quadro de miséria é confirmado pelas estatísticas oficiais: o município está entre o 50 piores no Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI), com 0,284 pontos, e ocupa uma das mais baixas colocações em rankings que medem a qualidade de saúde, educação e renda da população, com 0,36 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Numa escala de 0 a 1, a marca de 0,499 pontos já sinaliza baixo desenvolvimento em ambos os indicadores. O quadro é bastante desfavorável, mas São João das Missões - essa é a cidade - pretende enfrentá-lo agora com um forte parceiro. A partir dessa quinta-feira, 12 de janeiro, a UFMG inaugura o internato rural no município, localizado a cerca de 900 km de Belo Horizonte, no norte de Minas. O programa vai beneficiar os 11 mil habitantes da localidade, prestando assistência nas áreas de Medicina, Odontologia, Farmácia e Enfermagem. "Para a UFMG esta é uma experiência inédita, pois permite estender um de seus mais importantes programas de inclusão social a grupos minoritários e étnicos", diz o pró-reitor de Extensão da Universidade, Edison José Corrêa. Ele lembra que o diferencial da população de São João das Missões reside no fato de pelo menos 80% dela ser formada pelo povo Xakriabá. Os grupos indígenas moram em 27 aldeias da reserva, que ocupa uma área de cerca de 500 quilômetros quadrados na região do município. O trabalho da UFMG será realizado por estudantes com a supervisão de professores. De acordo com Edison Corrêa, entre os projetos que serão implantados na cidade consta a realização de diagnósticos sobre as condições de oferta de medicamentos e fitoterápicos para a população, a cargo da Faculdade de Farmácia. Já a Faculdade de Odontologia vai levar o programa conhecido como Sorriso no campo, de educação e prevenção de doenças bucais. "Além de promover ações de assistência integral à saúde, o internato funcionará como uma espécie de laboratório regional e espaço de integração entre ensino, pesquisa e extensão", explica o pró-reitor. Financiamento Além do internato rural, a UFMG também está levando ao povo Xacriabá outros projetos na área de economia, meio ambiente, agronomia e educação - no caso, com oferta de curso de formação de professores indígenas, pela Faculdade de Educação. Carateristicamente engajados nessa área, os Xakriabá obtiveram, recentemente, desempenho excepcional no vestibular para o curso de licenciatura indígena promovido pela UFMG, e vão ocupar 99 vagas das 121 oferecidas. Nessa linha de ação multidisciplinar, o Núcleo de Ciências Agrárias da Universidade, localizado em Montes Claros, já implantou atividade de piscicultura na reserva indígena, prestando, ainda, assistência técnica rural à comunidade. Outro trabalho importante que deverá gerar benefícios é a realização do Diagnóstico da Economia Xacriabá pela Faculdade de Ciências Econômicas (Face). A expectativa é que todas essas iniciativas contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população local. "As propostas de trabalho da Universidade surgiram a partir de demanda da própria comunidade de São João das Missões" relata Edison Corrêa, ao lembrar que a UFMG foi chamada a colaborar na área de saúde, educação e gestão municipal pelo prefeito, José Nunes - também Xakriabá -, em visita ocorrida há cerca de seis meses à Instituição. A inauguração do internato vai contar com a presença de técnicos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), supervisores do internato rural, além de dirigentes municipais de São João das Missões e do pró-reitor de Extensão da UFMG.
O internato rural em São João das Missões é um dos três projetos dessa modalidade que a UFMG está implantando na região do Jequitinhonha e do Norte de Minas. Os programas vão receber R$ 400 mil do Ministério da Saúde e da Organização Panamericana de Saúde (Opas). Na Universidade, a coordenação das atividades está a cargo do Núcleo Interdisciplinar de Educação Permanente em Saúde (Nieps).