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Transcorre nesta quinta-feria, 26, o centenário de nascimento de Arthur Versiani Vellôso, filósofo e professor, mestre de várias gerações, cuja trajetória profissional e intelectual transcorreu quase que integralmente na UFMG. Nascido em Ouro Preto em 26 de janeiro de 1906, Arthur Versiani Vellôso graduou-se em Direito pela UFMG, onde também se doutorou, e estudou filosofia no Instituto Católico de Estudos Superiores, no Rio de Janeiro. Foi um dos fundandores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFMG (hoje Fafich) onde, em 1948, conquistou a cátedra de filosofia, que exerceu até a aposentadoria compulsória, em 1976. Publicou inúmeros livros, entre eles A Filosofia e seu estudo (Agir, 1947), Introdução à história da filosofia (Agir, 1947), A Vida de Kant (Itatiaia, 1956). Foi também autor de várias traduções e artigos em jornais e revistas especializadas, uma das quais Kritérium, criada na Fafich sob sua inspiração. Era membro da Academina Mineira de Letras. Faleceu 11 de fevereiro de 1986 Paixão filosófica Vellôso era um professor vocacional e, além da Fafich, foi também fundador do Colégio Marconi e lecionou filosofia nos colégios Municipal e Estadual de Belo Horizonte. É unânime entre seus ex-alunos a convicção de que, sem a figura do mestre, a filosofia não teria frutificado em Minas como disciplina acadêmica, nem produzido tantos discípulos de talento. Um deles é o também filósofo e ex-reitor da UFMG, José Henrique Santos, cuja formação foi tributária do grande mestre, a quem sucedeu na cadeira nº 18 da Academia Mineira de Letras. "O professor Vellôso fez do magistério o sentido de sua vida; dele retirou riquezas espirituais insuspeitadas, mais importantes e duradouras que qualquer riqueza material, que jamais possuiu", opinina o acadêmico, que conclui: "Acima de tudo formou um extenso círculo de amigos e alunos, dos quais foi o mestre incontestável". Outro aluno seu, Antônio Ribeiro de Almeida (leia a íntegra do depoimento na Internet), assim lembra a figura do mestre: "O que logo se destacava era sua vasta cabeleira, algo desorganizada, revolta, e a voz poderosa. A eloquência com que ministrava suas lições ia num crescendo para terminar num clímax que a todos encantava. Os seus olhos quase não eram vistos. Grossas lentes, marrons ou verdes, os ocultavam da nossa curiosidade." Personagem de proa da vida cultural da cidade, Vellôso foi retratado em dois romances ambientados na Belo Horizonte de seu tempo. Em O Amanuense Belmiro, ele é o filósofo Silviano, personagem à clef de Cyro dos Anjos. Em Um Artista aprendiz, de Autra Dourado, ele é o filósofo Sinval de Souza, assim descrito nas páginas do romance: "... a porta ruidosamente se abriu e entrou na sala um homem alto e forte, de grossos óculos rosa de míope. O cabelo muito preto e liso, penteado para trás, ele caminhou em largas passadas até o quadro negro, onde escreveu em letras enormes KANT". O centenário de nascimento de Arthur Versiani Vellôso será comemorado com inúmeros eventos ao longo deste ano, organizados pela Escola Municipal Arthur Versiani Vellôso, pelo Colégio Marconi, Acadaemia Mineira de Letras e pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.
Apaixonado pela filosofia e adepto incondicional do pensamento de Immanuel Kant, viajou duas vezes à Alemanha para realizar, em Koenisberg, com o corpo docente da universidade, a famosa stoa kantiana ao túmulo do mestre alemão, mandando fazer, em Belo Horizonte, uma réplica em granito da sua pedra tumular. Era dotado, contudo, grande rigor intelectual, sendo conhecido por sua exigência como professor, apesar de sua cordialidade no trato social.