Luiza Boaventura/ Divulgação |
Recebe alta do Hospital das Clínicas da UFMG, nesta terça-feira, 21, o paciente sumetido, em 18 de dezembro do ano passado, a uma cirurgia para transplante duplo de pâncreas e rim, primeiro do gênero realizado pelo HC. Waldeck Pereira Guimarães, 61 anos, aposentado, que há 25 anos sofria de diabetes tipo 1 (doença caracterizada por falha na produção de insulina pelo pâncreas), passa bem. Diabéticos tipo 1 têm possibilidade de desenvolver insuficiência renal como conseqüência da doença. Foi o que aconteceu com Waldeck. Após anos diabético, ele desenvolveu nefropatia diabética que evoluiu para insuficiência renal. O paciente possui hoje dois pâncreas e três rins. Isso porque a técnica de transplante duplo de pâncreas e rim preserva os órgãos do paciente que não são retirados, mesmo que estejam funcionando precariamente. Técnica Ele explicou que "o pâncreas fica acomodado junto ao duodeno, próximo ao estômago e baço, numa região delicada para a realização de uma extração. Além disso, ele continua produzindo normalmente a secreção pancreática exócrina, rica em enzimas necessárias à digestão dos alimentos, especialmente das gorduras, e por isto ele é mantido. O fato de se manter pâncreas e rins intactos em nada prejudica a saúde do paciente. Os órgãos transplantados ficam bem acomodados e funcionando normalmente porque criamos uma via alternativa para eles". Histórico Marcelo Sanches destaca que o início das atividades da equipe de transplante de pâncreas e rim do Hospital das Clìnicas da UFMG só foi possível devido ao comprometimento dos profissionais de saúde envolvidos e a experiência técnica acumulada nos 12 anos de atuação do Grupo de Transplante do Instituto Alfa e dos serviços de Urologia e Nefrologia HC/UFMG, que realizam transplantes de rim há mais de 30 anos. O Grupo de Transplante do Instituto Alfa de Gastroenterologia do HC/UFMG é um dos que mais realizam transplantes de fígado no Brasil. "A experiência desses profissionais foi essencial para que conseguíssemos formar a equipe de transplante de pâncreas-rim", comenta. Novos transplantes Segundo Sanches, os candidatos ao transplante duplo são aqueles que, além da falta de produção de insulina pelo pâncreas, desenvolvem nefro, retino e/ou neuropatia diabéticas. Isso porque os medicamentos imunossupressores (para evitar rejeição), utilizados pelo resto da vida pelos transplantados, aumentam a predisposição à infecções e o risco de desenvolvimento de tumores. Além disso, o paciente requer mais cuidados que os submetidos a outros tipos de transplantes, pois a incidência de complicações nesse tipo de cirurgia é maior. "O transplante de pâncreas poderá vir a ser, no futuro, o tratamento de escolha para o diabetes tipo 1 mas, atualmente, só é indicado para pacientes que, devido a falta de produção de insulina pelo pâncreas, têm complicações que justificam a realização de um transplante e a conseqüente administração de imunossupressores", esclarece o médico. (Com Assessoria de Comunicação do HC)
De acordo com o professor Marcelo Sanches, coordenador do Transplantes de Pâncreas do HC/UFMG e chefe da equipe que realizou a cirurgia, o novo pâncreas foi implantado no lado direito e o novo rim no lado esquerdo do abdome, ambos conectados à bexiga. O abdome do paciente é capaz de abrigar mais dois órgãos sem nenhum problema. O ideal é que o paciente receba a doação dupla de um mesmo doador para que possa haver melhor detecção de uma possível rejeição.
O primeiro transplante duplo de rim e pâncreas no mundo aconteceu na década de 1960 nos Estados Unidos. Mas somente nas décadas de 1980 e 1990, com a evolução da técnica cirúrgica e a descoberta de novos imunossupressores, mais eficazes e com menos efeitos colaterais, é que a cirurgia passou a ser melhor sucedida. O índice de sobrevida atual gira em torno de 90%.
O Hospital das Clínicas/UFMG tem hoje 25 pacientes em avaliação para este tipo de transplante, sendo que nove já estão inscritos no MG Transplantes. Destes, dois já estão ativos, ou seja, com todos os exames prontos à espera de uma doação. Segundo a previsão do coordenador do transplante de pâncreas, o hospital pretende realizar este ano cerca de 15 transplantes.