Integrante da entidade Conservation International e um dos principais ambientalistas do mundo, o professor Gustavo Fonseca, do departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), realizou palestra, na última terça-feira, 23, sobre o tema Conservação da biodiversidade em um mundo globalizado: desafios e prioridades. Diante de aproximadamente 200 alunos e professores da unidade acadêmica, Fonseca apresentou detalhado panorama das possibilidades de preservação do meio ambiente no planeta. No início de seu depoimento, o pesquisador Gustavo Fonseca comentou que a Conservation International realiza projetos em 44 países. O número indica a abrangência da entidade, que, entre outras ações, busca analisar a possibilidade de implementação de áreas de conservação no mundo. “Hoje, contamos com grande possibilidade de recolhimento de dados. Isso nos permite pensar estratégias para implementar ações efetivas de preservação”, disse. Um dos primeiros esclarecimentos da palestra de Gustavo Fonseca disse respeito à diferença entre os conceitos de extinção global e local. Se um animal vive em diversas partes do planeta e desaparece de determinada região, ele não é extinto globalmente. “Neste caso, falamos de extinção local”, explicou o pesquisador. Ao contrário, se determinada espécie, típica de área específica, é exterminada, tem-se a chamada extinção global. “Para implantar áreas de conservação, precisamos pensar, justamente, as taxas de insubstituibilidade da espécie. A partir daí, definimos prioridades de preservação”, disse. Para explicar a evolução do ideal de preservação, Gustavo Fonseca comentou a realização do encontro Eco 92, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 17 mil participantes, 172 governos, 108 chefes de estado e 2.400 ONGs. No evento, houve definição de uma agenda de unidades protegidas. “No Rio, nasceu o compromisso para construção de sistemas representativos e abrangentes de áreas protegidas, que contribuam para reduzir as taxas de perda de espécies”. Estratégias Segundo o pesquisador, a grande meta dos cientistas é pensar estrategicamente "o que", "onde" e "como" preservar. A partir de tais definições, torna-se possível implementar sistemas de unidades de conservação. “Tais sistemas buscam proteger as espécies e a biodiversidade, conservar funções e serviços ecossistêmicos e disciplinar o uso predatório”, comentou. Neste ponto, Gustavo Fonseca apresentou os principais itens de planejamento sistemático de preservação, através da diferenciação entre conceitos como “representatividade” e “priorização”. “O primeiro termo define o que queremos conservar. O outro diz respeito ao que deve ser priorizado por estar em processo de iminente extinção”, completou. Ambientalista premiado Biólogo formado pela UnB, em 1978, Gustavo da Fonseca é mestre e doutor pela Universidade da Flórida. Sua tese de doutorado ganhou, em 1988, o prêmio Rodolpho von Iheringi, oferecido pela Sociedade Brasileira de Zoologia, como a melhor do ano. Pelo mesmo motivo, o estudo recebeu o prêmio Oliver Austin, concedido pela Universidade da Flórida. Na UFMG, foi um dos fundadores do curso de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre.
Em sua palestra, Gustavo Fonseca também discutiu o aumento de áreas habitadas pelo homem no planeta. Hoje, cerca de 1/3 da Terra abriga cidades ou comunidades rurais. “Além disso, 40% de toda a produtividade primária é hoje consumida pelos homens”, disse. Ao mesmo tempo em que o ser humano amplia seus domínios, aumenta o índice de espécies em risco de extinção. “Também por isso é vital a necessidade de áreas protegidas. Se não houver controle, em muito pouco tempo não haverá, por exemplo, a Amazônia de hoje”, alertou.
Apontado como um dos melhores gestores de projetos ambientais do mundo, Gustavo Fonseca recebeu, em 2001, o prêmio Arca Dourada, concedido pelo governo da Holanda. Trata-se uma das mais importantes condecorações mundiais destinada àqueles que se destacam na defesa do ecossistema terrestre.