Será enterrado, nesta segunda-feira, às 11h, no cemitério do Bonfim, o corpo de Carlos Alberto Pinto Fonseca. O maestro, que esteve à frente do Ars Nova Coral da UFMG, durante 41 anos, morreu no domingo, vítima de insuficiência cardíaca. O corpo do maestro encontra-se, no momento, no velório 1 do Bonfim. Apaixonado pela música, Carlos Alberto foi aposentado, aos 70 anos, compulsoriamente, em junho de 2003. À época, lamentou seu afastamento, em reportagem do Boletim UFMG. "Não é nada bom ser obrigado a aposentar por imposição da lei. Até porque sinto-me no auge de minhas potencialidades", declarou, então. No mesmo período, revelou que planejava gravar um CD com composições próprias. "Farei uma seleção entre as mais de cem obras que compus durante minha vida. A primeira parte será dedicada ao erudito e à música contemporânea, e a segunda, à música afro-brasileira", disse. Trajetória "Sugeri novo nome para o coral em 64, pois possibilitava interpretações diferentes: ao mesmo tempo que Ars Nova significa arte nova, é também uma referência ao período da história da música em que se começou a compor coral com três ou quatro vozes", revelou. O ano de 1964 foi dedicado à apresentação completa do Messias, do compositor clássico alemão naturalizado inglês Haendel. "A peça nunca havia sido interpretada integralmente no Brasil, porque é muito longa e necessita de 80 vozes", contou o maestro. Quando estourou o golpe militar em 31 de março, o coro já estava com todo o texto preparado, e a apresentação, em seus ajustes finais. "Naquele dia, não deixaram a gente ensaiar. Por causa do golpe, alguns patrocinadores desistiram, e pensei em abandonar o projeto, mas o pessoal do Ars Nova preferiu continuar enquanto houvesse apoio. Em junho, conseguimos realizar a apresentação na Igreja São José, e foi um sucesso", relatou Carlos Alberto, ao Boletim UFMG, em 2003. O processo de preparação foi tão cuidadoso e envolvente que o professor de inglês contratado pelo coral para treinar os cantores no sotaque inglês britânico resolveu participar também do coro. Ao longo de sua trajetória, o Ars Nova participou de vários eventos e concursos, como os festivais internacionais de Manila/Filipinas (1979) e Atenas (1981) e o 7o Concurso Internacional de Coros, em Atenas (1998), onde conquistou o Grande Prêmio, sempre com Carlos Alberto na batuta. "Em 1974, a Funarte organizou um concurso de coros, e nenhum outro coral quis participar, pois diziam que nós ganharíamos com certeza. Então, eles nos consideraram hors concours e realizaram a competição com os outros grupos", contava, com alegria, o maestro. Dedicação Enquanto foi maestro do Ars Nova, recebeu convites e regeu outros corais, como o da Rádio MEC e das Orquestras Sinfônicas do Recife, Salvador, Porto Alegre, Brasília e Campinas. Ele também foi um dos fundadores do Festival de Inverno de Ouro Preto. "Na época, era muito bom, o Festival só abrangia as áreas de música e artes plásticas, e os concertos eram bastante concorridos", declarou à reportagem do Boletim, o ex-professor da UFMG. Além do trabalho de regente, Carlos Alberto foi também compositor e atuou como professor, sendo responsável pela formação de um grande número de profissionais. (Com Boletim UFMG)
Carlos Alberto entrou para o Ars Nova em 1961, quando o grupo ainda se chamava Coral Estudantil, e assumiu a regência em outubro de 1962. O professor comandou a turnê do grupo pelo país em meados de 1963, com apresentações em diversas cidades, passando, inclusive, pelos teatros municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Carlos Alberto nasceu em Belo Horizonte e começou a estudar piano ainda criança com a professora Jupyra Duffles de Barreto. Depois, estudou música na Universidade Federal da Bahia, onde graduou-se em regência em 1960. Lá, formou o seu primeiro coral, o Renascença da Bahia, que interpretava repertório eclético, incluindo músicas eruditas e do cancioneiro popular do Nordeste.