O protótipo do primeiro avião-robô desenvolvido com tecnologia inteiramente nacional foi apresentado à comunidade científica e à imprensa na manhã desta sexta-feita, 13, em solenidade no galpão do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da UFMG, no campus Pampulha. Fruto das pesquisas do projeto multidisciplinar Sistemas de Desenvolvimento de Veículos Aéreos Autônomos e Não-Tripulados (SiDeVAAN) da UFMG, a aeronave apresenta-se como solução para atividades como monitoramento de fronteiras, pulverização de lavouras e inspeção de linhas de transmissão, necessárias especialmente em países de grande extensão territorial. “A primeira aeronave brasileira a realizar vôos autônomos e não-tripulados marca a competitividade instalada na UFMG”, afirmou o professor Paulo Iscold, um dos pesquisadores do SiDeVAAN. E completou: “Essa competência vai se transformar em tecnologia do nosso país”. O reitor Ronaldo Pena afirmou que este é um momento “de muito júbilo para a UFMG, que apresenta à sociedade um produto que terá forte impacto no desenvolvimento econômico do país”. E anunciou a construção, ainda este ano, de hangar do CEA na cidade de Conselheiro Lafaeite, para otimizar as condições físicas de desenvolvimento das próximas etapas da pesquisa. Ainda na solenidade, Ronaldo Pena prestou homenagem ao professor Cláudio Pinto de Barros, que fundou o CEA no início dos anos 60. Destacou a grande contribuição da Escola de Engenharia da UFMG na formação de pesquisadores na área de aeronáutica, e lembrou que, “depois do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, a nossa Escola é a que tem mais engenheiros na Embraer”. Na opinião de Ronaldo Pena, a criação de um curso de graduação em Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial na UFMG “é um resultado natural no desenvolvimento das pesquisas”. Segundo ele, o projeto do novo curso está pronto e deve seguir para apreciação nas instâncias de deliberação da Escola de Engenharia e da Universidade. “Eu gostaria que esse curso fosse oferecido já no Vestibular de 2008”, completou Ronaldo Pena. Autonomia Segundo ele, este tipo de aeronave pode ter aplicações em monitoração e inspeção – queimadas, agricultura e pecuária de precisão, cursos d'água, orla marítima -, supervisão e segurança de fronteiras e malhas viárias. Parceria “Do ponto de vista mais imediato, a empresa precisava de alguns itens desenvolvidos e adquiridos – inclusive da aeronave construída com recursos do projeto SiDeVAAN –, para nela embarcar um sistema desenvolvido pela própria Flight Solutions”, explica Mário Campos. Como primeiro resultado da parceria, a empresa irá expor, de 17 a 20 de abril, na feira Latin American Air and Defense (LAAD), no Rio de Janeiro, o avião FS01, veículo não-tripulado tático, de médio alcance e média altitude. A estrutura de material composto foi produzida na UFMG, e o sistema operacional na Flight Solutions. “A parceria representa uma excelente oportunidade para termos, quem sabe, a produção efetiva desse tipo de veículo no Brasil", pondera Mário Campos. Para o presidente da Flight Solutions, engenheiro Nei Brasil, este pode ser o início de uma nova indústria nacional, a chamada aviônica, que produz o sistemas operacionais de aeronaves.
O coordenador do SiDeVAAN, professor Mário Fernando Montenegro Campos, explicou que aeronaves não-tripuladas são todas aquelas que não levam consigo um piloto, como se fossem aeromodelos, dirigidos por controle remoto. E ressaltou que o grande salto em uma pesquisa desse tipo diz respeito a outro termo – autônomo –, que se refere à capacidade de o avião tomar decisões com base em informações sensoriais implantadas previamente em seu sistema.
O SiDeVAAN reúne pesquisadores de departamentos da Escola de Engenharia e do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) e desenvolve pesquisas transdisciplinares desde 2004. No final de 2006, o grupo foi procurado pela empresa Flight Solutions, especializada em desenvolvimento e integração de veículos aéreos não-tripulados.