Marcílio Lana, Cartagena das Índias (Colômbia) - O Mapa da Educação Superior (Mesalc), estudo desenvolvido pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior da América Latina e do Caribe (Iesalc), revela uma realidade de contrastes, desigualdades, mas também apresenta avanços. O estudo, coordenado pelo venezuelano Klaus Jaffé e o brasileiro José Renato Carvalho, foi apresentado esta tarde durante coletiva de imprensa realizada no Centro de Convenções de Cartagena das Índias, na Colômbia. Foto: Fernando Ruiz Cerca de 30 jornalistas acompanharam, durante aproximadamente duas horas, a apresentação da diretora do Iesalc e presidente da Conferência Regional para a Educação Superior (CRES 2008), Ana Lúcia Gazzola. Também participou da conferência de imprensa o vice-ministro de Educação Superior da Colômbia, Gabriel Burgos. Integram o estudo dados e estatísticas de 28 dos 33 países que integram a Unesco. Para a diretora do Iesalc, a realidade de contrastes impõe sérios desafios para governos, organismos e sociedade, incluindo as instituições de ensino. “É desafiador pensar em políticas regionais com o grau de diferenças que existe, com o grau de singularidades da região, mas é preciso pensar um conjunto de políticas integradas que dêem conta de promover a transformação e a igualdade entre os diversos sistemas de educação”, refletiu Ana Lúcia Gazzola. Os resultados, de acordo com a diretora do Iesalc, Ana Lúcia Gazzola, permitem apontar premissas para a educação superior na América Latina e no Caribe: a necessidade de aumento da capacidade de acesso à educação superior e da taxa de cobertura (relação entre as matrículas no ensino superior e a população entre 18 e 24 anos), aumento da qualidade da educação superior, necessidade de ampliação dos sistemas de acreditação e avaliação do ensino superior na região, aumento da produção científica e disseminação da produção em diversos países, redução da taxa de analfabetismo e a universalização da educação básica de qualidade. Ao mesmo tempo, segundo Ana Lúcia Gazzola o Mesalc vai permitir que a região se conheça melhor e, conhecendo, possa propor projetos e propostas factíveis de serem realizadas. “Esse conhecimento vai permitir a criação de redes de trabalho e cooperação”, explica a diretora do Iesalc. De acordo com as informações do Mesalc, na região da América Latina e do Caribe existem cerca de 8.910 instituições de ensino superior. Dessas, apenas 1.231 (13,81%) são universidades ou centros universitários. Para a diretora do Iesalc, este é um dado relevante. Para Ana Lúcia Gazzola, não é um dado frio, mas um indicativo de qualidade e, provavelmente, da inexistência da regulação dos sistemas em cada país. “Normalmente, são as universidades e centros universitários que passam por processos de avaliação e este é o processo que assegura a qualidade do ensino oferecido pelas instituições de ensino. Então, temos um sistema altamente desequilibrado”, destaca Ana Lúcia Gazzola. Contraste A realidade brasileira é um exemplo da situação de contrastes. O país tem o maior percentual de analfabetos, mas é o que tem o sistema de pós-graduação mais sólido, com a formação de aproximadamente 11 mil doutores no último ano. O Brasil é ainda o país com o maior número de instituições de educação superiores particulares. Setor estratégico “Na América Latina e no Caribe, as universidades respondem pela produção de 85 a 90% do conhecimento. “Portanto, é necessário que se discuta o papel da educação superior na produção do conhecimento na região, pois as instituições de ensino superior são atores estratégicos para o desenvolvimento dos paises”, determina. “Precisamos nos integrar à sociedade do conhecimento. As nações que não forem capazes de apoiar e desenvolver políticas permanentes de educação vão continuar dependentes”, sentencia. PingIfes O sistema já é utilizado pelo MEC há quatro anos. No próximo ano, será incluída a possibilidade de incluir no banco de dados as informações sobre os hospitais universitários. Confira síntese
Jornalistas de diversos veículos internacionais participaram da coletiva de imprensa, que aconteceu na tarde desta terça-feira
“Os dois países, México e Brasil, que possuem sistemas de pós-graduação mais sólidos da região, são aqueles que têm, juntos, os maiores índices de analfabetismo”, destacou Ana Lúcia Gazzola. No Brasil existem 14,3 milhões de analfabetos, no México, 6,3 milhões. O analfabetismo é, para a diretora do Iesalc, um dos mais graves problemas da região. São 37 milhões de analfabetos na América Latina e no Caribe. Para Ana Lúcia Gazzola, este é um problema que está possivelmente no centro dos baixos índices de desenvolvimento e uma das razões para a posição de dependência dos países da região em relação aos países do chamado Primeiro Mundo.
O estudo revela também a relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Produto Interno Bruto (PIB). Os dados são animadores, pois mostram uma tendência de aumento de investimentos na área de educação, mas para a presidente da CRES 2008, o percentual relativo ao PIB investido na educação ainda é insuficiente. “O ideal é que os países estivessem destinando mais recursos para a educação. Cuba, com 10% do PIB direcionados à educação, é um exemplo”, comparou Ana Lúcia Gazzola. Outra necessidade é o aumento de recursos para as áreas de ciência e tecnologia. “A região deveria, ao menos, destinar cerca de 1% do PIB para essas áreas, mas estamos muito longe disso”, lamentou.
O sistema utilizado para construir a base de dados do Mapa da Educação Superior (Mesalc) foi desenvolvido por uma equipe formada por cerca de 30 pessoas do Laboratório de Computação Ciêntífica (LCC) da UFMG. O sistema é responsável pela organização da base de dados que o Ministério da Educação do Brasil utiliza para definir os recursos destinados anualmente para as instituições federais de ensino superior (Ifes) e também para o projeto Reuni (Plano de Expansão e Reestruturação do Ensino Superior).
da apresentação do Mesalc.