Marcílio Lana, de Cartagena das Índias (Colômbia) – Para o secretário de Educação do Distrito Federal do México, Axel Didricksson, nos últimos dez anos, houve um crescimento significativo do sistema de educação superior na América Latina e no Caribe. Atualmente, o sistema é composto por 8.756 instituições dedicadas ao ensino superior. Dessas, 1.917 são privadas, 1.023 públicas e 5.816 (institutos de pesquisa públicos em sua maioria). O secretário de Educação do Distrito Federal do México reconhece que a expansão percebida na última década foi positiva para ampliar o acesso da população ao ensino superior em toda a região da América Latina e do Caribe. Mas Didricksson é enfático ao afirmar que o avanço é quantitativo e não qualitativo. “O perfil de cursos e carreiras criados pelas instituições de ensino, sobretudo pelas privadas, privilegiou necessidades do mercado. Muitos dos cursos surgem sob a influência direta de demandas mercadológicas e não no sentido de produzir conhecimento”, analisa. Público e privado Para ele, o grande problema é que a maioria das instituições privadas não tem um compromisso com a educação como bem público. “Infelizmente, a educação é tratada como uma mercadoria e os cursos não estão voltados para áreas capazes de promover o desenvolvimento humano”, avalia. Além disso, Didriksson acredita que é necessário que “os novos currículos, desde a educação básica, busquem uma formação transversal, uma formação cidadã”. Mais informações em "Conhecimento é a nova fronteira da soberania".
Para Didricksson, a educação, sobretudo a superior, tem um papel fundamental para a transformação da realidade, com o melhoramento da qualidade de vida das populações, a promoção do bem-estar social, a promoção da democracia e da igualdade de acesso à ciência, educação e cultura. Estes são objetivos que segundo Axel Didriksson definem o “compromisso social das universidades”.
O estudo mostra outro aspecto ressaltado pelo sociólogo mexicano: uma enorme concentração de matrículas. Brasil, Argentina e México detêm cerca de 60% das matriculas em instituições de ensino superior. “É um dos exemplos da desigualdade que encontramos na região”, confirma. O secretário de Educação do Distrito Federal do México também lamenta que o crescimento do sistema de educação superior tenha ocorrido, em especial, no setor privado.
Axel Didriksson, mestre em estudos latino-americanos e doutor em Economia, foi responsável pelo projeto “Tendências da Educação Superior na América Latina e no Caribe”, que integra diferentes temas no campo da educação superior. O documento foi preparado para a Conferência Regional da Educação Superior (CRES 2008), sessão realizada na manhã desta quinta-feira durante a CRES 2008.
A CRES 2008 é realizada pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior (Iesalc), em parceria com o Ministério da Educação da Colômbia. Também apóiam o evento a Associação Colombiana de Universidades (ASCUN) e o Convênio Andrés Bello (CAB). Os países que patrocinam a Conferência são Colômbia, Brasil, Venezuela, México e Espanha. O evento integra a agenda preparatória para a Conferência Mundial sobre a Educação Superior, que acontecerá no próximo ano, na França.