Marcílio Lana, de Cartagena das Índias (Colômbia) – Em 2008, o grande marco para o ensino superior na América Latina e no Caribe foi a Conferência Regional para a Educação Superior (CRES). Acadêmicos, investigadores, representantes dos governos, estudantes, políticos e outros atores vinculados ao ensino superior, ao todo 3.500 pessoas de 33 países, participaram de mesas-redondas, debates, conferências e eventos durante os dias 4, 5 e 6 de junho. Estiveram em pauta os cenários de mudança que deverão, a partir de agora, orientar os esforços de agentes, instituições e governos para a formulação de novas políticas regionais para a educação superior na América Latina e no Caribe. O resultado deste esforço está contido na Declaração da CRES 2008, conteúdo que foi ratificado em plenária na tarde desta sexta-feira, 6 de junho, no auditório Getsemani do Centro de Convenções e de Exposições de Cartagena das Índias, Colômbia. O documento é amplo, mas suas premissas podem basicamente ser sintetizadas pela necessidade de uma maior integração regional, nos campos da investigação científica e da formação de recursos humanos qualificados; a adoção de instrumentos que promovam a inclusão social (de gênero, étnica e dos portadores de necessidades especiais); o crescimento dos sistemas de educação superior em cada país, não apenas em número, mas em formas alternativas, como a educação a distância, capazes de cumprir a missão de democratizar o conhecimento e expandir o número de vagas; o incentivo à cooperação entre os diversos segmentos sociais, destinada à estimular a efetiva transferência do conhecimento para a sociedade; a implementação de efetivos instrumentos de cooperação, a fim de evitar a fuga de capital humano ou de “cérebros” da América Latina e do Caribe (transferência de alunos e profissionais para os países desenvolvidos); o respeito à autonomia universitária e o apoio governamental à educação superior. Foto: Fernando Ruiz Compromisso Social O tema central da Conferência, o desafio de fazer da educação superior um bem público, um direito social e universal, além de validar seu papel estratégico nos processos de desenvolvimento sustentável dos países latino-americanos e caribenhos, está presente na Declaração da CRES 2008. Nesse sentido, houve a recusa por parte da CRES 2008 à concepção da Organização Mundial do Comércio (OMC), que pretende transformar a educação superior em mercadoria. A CRES 2008 também conseguiu obter dos representantes dos governos, presentes ao evento, o compromisso de que a educação superior seja tratada como política de Estado, não de governo. Reunidos na tarde desta sexta-feira, 15 representantes dos governos reiteraram a importância da educação superior para o desenvolvimento sustentável. Para a diretora do Iesalc e presidente da CRES 2008, Ana Lúcia Gazzola, ex-reitora da UFMG, a América Latina e o Caribe têm pela frente um dos seus maiores desafios: colocar em prática as premissas contidas na Declaração da CRES 2008. “Agora, o grupo de relatores irá incorporar as últimas modificações, trabalhar na revisão do texto e, tão logo seja possível, vamos encaminhar a declaração para o diretor geral da Unesco, além de garantir o acesso ao conteúdo por meio do site do Iesalc”, esclarece Ana Lúcia Gazzola. Cooperação solidária As atividades propostas para a CRES 2008 foram orientadas a partir de estudos, realizados por consultores contratados pelo Iesalc, que oferecem um panorama da educação superior em toda a região, destacando conquistas e desafios que a América Latina e o Caribe têm pela frente para ampliar a qualidade e o acesso da população. São dez os eixos-temáticos da Conferência: Contexto local e global; A educação superior na sociedade do conhecimento; Qualidade e pertinência; Diversidade e diversificação; Igualdade e inclusão; Integração e internacionalização; Reformas da Educação Superior; Revalidação e avaliação; Governabilidade das instituições; e Financiamento. O Iesalc respondeu, em conjunto com o Ministério da Educação da Colômbia, pela organização do evento, além de ambos terem patrocinado a CRES 2008. Ainda patrocinaram o evento os governos do Brasil, Venezuela, México e Espanha e o apóiaram a Associação Colombiana de Universidades (ASCUN) e o Convênio Andrés Bello (CAB).
Durante a sessão de encerramento, o auditório, que tem capacidade para 1.400 pessoas, estava complementamente lotado
A CRES 2008 integra a agenda preparatória para a Conferência Mundial sobre a Educação Superior, programada para o próximo ano, em Paris, na França. “A América Latina e o Caribe organizaram o primeiro evento de caráter regional para o próximo fórum mundial de educação superior. Esta atitude pioneira impulsiona e estimula a Unesco a ratificar o encontro mundial”, destaca a diretora do Iesalc (Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e Caribe) e presidente da CRES 2008, Ana Lúcia Gazzola.
Também está no corpo da Declaração da CRES 2008 a concepção que fortalece, junto aos países da região, a noção de que é possível promover uma integração solidária, respeitando a diversidade e superando diferenças. Para a ministra da Educação Nacional da Colômbia, Cecília Maria Vélez, a CRES 2008 é um marco e a declaração final reflete essa necessidade: a de que os países da América Latina e do Caribe atuem em bloco, em redes integradas. “Acredito que o Iesalc tem um papel estratégico, junto aos governos e à sociedade, de catalisador para o encaminhamento dessas propostas. A atuação do instituto da Unesco será fundamental para que convertamos nossas idéias em ações efetivas”, declarou.