Em cerimônia na Academia Brasileira de Letras (ABL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem decreto que implementa o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no país. A reforma ortográfica, que prevê a padronização da língua, vem sendo discutida há 18 anos pelos países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa: Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste. O Brasil será o primeiro país a implementar as regras oficialmente. As mudanças serão realizadas gradualmente, devendo ser concluídas até 2013. Até lá, as palavras poderão ser grafadas tanto na forma nova como na antiga. O Brasil é ainda o país que sofrerá menos impacto com a reforma. Estima-se que apenas 0,5% das palavras ganharão nova grafia. A principal modificação no português brasileiro diz respeito à acentuação. As paroxítonas com ditongos abertos 'ei' e 'oi' (por exemplo, idéia e heróico) não mais serão acentuadas. Também sofrerão modificações palavras em que o 'i' e o 'u' são precedidos de ditongos abertos (por exemplo, feiúra). Além disso, o acento circunflexo desaparece das paroxítonas com duplos 'e' ou 'o' (por exemplo, vôo e dêem). O acordo estabelece também que o português brasileiro abolirá a trema e adotará o alfabeto de 26 letras, incluindo 'k', 'y' e'w'. Prevê ainda que o hífen será abolido de palavras compostas em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com vogal diferente (por exemplo, aero-espacial, que passará a ser grafada aeroespacial). Também será abolido o hífen nos casos em que a primeira palavra termina com vogal e a segunda começa com 'r' ou 's'. Nesses casos, a consoante deverá ser duplicada (por exemplo, anti-semita muda para antissemita). Reforma tímida Para exemplificar, ele cita o uso confuso do 'h'. Para muitos, seria incompreensível a presença da letra em 'herbívoro' e a ausência em 'erva'. A aplicação do 'x' e do 'ch' é outra questão que confunde. Estas situações não serão resolvidas pela reforma e continuarão dificultando a alfabetização. Implementação do acordo
Para o professor da Fale Luiz Carlos Rocha, o objetivo deste acordo ortográfico é positivo, pois unificar a grafia em todos os países de língua portuguesa facilita a edição de livros e contribui para a propagação do idioma. Entretanto, ela acha que a reforma foi tímida. “As mudanças estão focadas em aspectos que são menos importantes, como o uso do trema. Eu penso que a reforma poderia ser um instrumento para facilitar o processo de alfabetização”, explica Luiz Carlos.
O professor Luiz Carlos acredita que não haverá dificuldades na adoção das novas regras, mesmo quando se trata das mudanças na acentuação. “Naturalmente, as resistências existirão, sobretudo entre os mais velhos, mas elas serão superadas. Quando se aboliu o acento de palavras como governo e estrela, houve alguns protestos. Hoje em dia, porém, ninguém mais questiona a ausência da acentuação nesses casos”, diz o professor.