Universidade Federal de Minas Gerais

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Rodrigo Ednilson: nova
pirâmide de aspirações

Sociólogo fala das aspirações ocupacionais de jovens negros e brancos de Belo Horizonte

quarta-feira, 29 de abril de 2009, às 9h11

Na década de 1960, o sociólogo Florestan Fernandes registrava em sua obra Negros e brancos em São Paulo que a população negra não se propunha a ocupar postos de trabalho do “mundo dos brancos” porque receiava não ser bem-sucedida, preferindo “ficar em seu lugar”. Uma expressão forte, como observa o também sociólogo e doutorando pela UFMG Rodrigo Ednilson de Jesus. Negro, criado em Ibirité, foi o único de sua turma de ensino médio a tentar e passar no vestibular. Já na Universidade, lançou-se a investigar melhor a questão: por que para uns almejar uma profissão é natural e para outros não? Como são construídas as aspirações ocupacionais dos jovens negros e brancos, ricos e pobres?

“Há múltiplos fatores, e essas escolhas não são produto só de uma vontade individual”, diz ele, que concluiu, em 2006, dissertação intitulada O que ser aos trinta? Aspirações ocupacionais de jovens negros e brancos em Belo Horizonte. O trabalho completo pode ser acessado na Biblioteca de Teses e Dissertações da UFMG.

Em entrevista ao Boletim UFMG´- última edição - Rodrigo, que é pesquisador do Observatório da Juventude da Universidade revela um novo panorama entre os jovens negros: eles hoje já se recusam a ficar “em seus lugares”.

Como definiu esse tema de estudo e de que forma ele se liga à sua trajetória pessoal?
Surgiu quando cursava a graduação. Fui criado em Ibirité e, dos meus amigos da adolescência, fui o único a tentar o vestibular e a ser aprovado. Quando iniciei a monografia de final de curso, em 2002, quis saber o motivo como são construídas as aspirações ocupacionais dos jovens. Havia, como pano de fundo, uma argumentação do campo da educação que era a da autoexclusão. Ou seja, essas pessoas não entram na faculdade porque não querem. Isso se ligava à emergência do discurso sobre ações afirmativas: como implementar cotas ou bônus para quem não deseja isso? Mas eu me perguntava: por que entre determinado grupo socioeconômico essa aspiração é quase uma regra e para outros ela não existe?

O que extraiu desse primeiro estudo?
Percebi que havia expectativas entre eles influenciadas pela condição socioeconômica. Um ano depois do primeiro contato, voltei a entrevistar o mesmo grupo e verifiquei que, entre os 12 alunos, apenas um havia prestado o vestibular e não passou. Tinham entrado na vida adulta e a educação não era prioridade. Quando iniciei o mestrado, decidi então comparar jovens negros e brancos, de diferentes condições socioeconômicas, para verificar se havia diferença entre suas aspirações ocupacionais.

Com quais dados trabalhou?
Com uma questão específica sobre aspirações extraída do banco de dados de pesquisa feita em 2000 pelo Crisp. Ela abordava os impactos sociais da violência na escola. Aproveitei uma pergunta: o que você quer ser aos 30? Trabalhei com jovens entre 18 e 24 anos. Queria saber se os sonhos eram atravessados por questões objetivas e subjetivas.

Os jovens expressavam seus sonhos?
Em 1964, Florestan Fernandes fez uma pesquisa com a população negra de São Paulo para conhecer o processo de inserção dos negros no mundo dos brancos. Esse mundo era a sociedade capitalista recém-industrializada construída por ou em função deles. Uma das constatações de Florestan era de que alguns negros, com receio de não serem bem-sucedidos no mundo dos brancos, não se propunham a determinadas ocupações. Eles preferiam ficar “em seus lugares”. Perguntava-me então se, agora, esses jovens sabiam “de seu lugar”. Mas comecei a perceber que as aspirações eram construídas em função de condições socioeconômicas. Jovens mais pobres tinham, em média, aspirações mais modestas.

Quais são essas aspirações?
Utilizei o Código Brasileiro de Ocupações do IBGE para identificá-las. O Código possui pontuação para as ocupações, baseada na escolaridade necessária para exercê-las e na renda média que proporciona de retorno. Assim, quanto maior a escolaridade exigida e a renda de retorno, mais alta é a posição das ocupações nesse índice. O conjunto delas formaria uma pirâmide composta por faixas. No topo está a magistratura, e na base, as atividades manuais e rurais. A partir das respostas dos jovens, fui pontuando suas aspirações de acordo com o Código e identificando-as nas faixas. Somei os pontos de cada grupo e fiz a média, extraindo o percentual das ocupações entre eles. O resultado mostra que há diferenças. Todos sonham alto, mas no grupo branco houve mais respostas apontando ocupações que estão no extrato alto. A média percentual dos negros para essa faixa de ocupação é 36,5%, enquanto no caso dos brancos ela chega a 49,2%. Isso significa que grande parte deles almeja ser juiz, advogado, engenheiro, presidente da República, médico, aeromoça ou professor universitário. As diferenças, no entanto, aumentam para as profissões de faixas mais baixas. Assim, ocupações como as de auxiliar de escritório, policial civil e secretária encontram médias percentuais de 13,3% entre negros e 7,3% entre brancos.

Os brancos pobres são mais ambiciosos que os negros?
Sim. Fazendo um controle pelo tipo de escola ou pela ocupação dos pais, chega-se à constatação que, entre o negro pobre e o branco pobre, as aspirações são diferenciadas. Não é só a condição socioeconômica que faz diferença. Outras variáveis são importantes: as experiências passadas do indivíduo ou de seu grupo e a imagem que eles têm de si mesmos. Embora não se nomeie negro, um menino percebe que é mais escuro do que os outros. Que imagens de referencial ele tem em casa? E na televisão? E nos círculos de poder?

O que impulsiona o sujeito a romper uma condição desfavorável?
Para alguns desses jovens que quebram o círculo dos herdeiros, é preciso um fato novo. No meu caso, foi o trabalho em escritório de advocacia, que me fazia frequentar a Faculdade de Direito. Comecei a transitar em outro espaço que não era o da casa ou da vizinhança.

O fato de um ex-metalúrgico ocupar a Presidência da República teve algum impacto nesse processo?
Talvez sim. Mas os dados da pesquisa são anteriores a isso. Vivemos sob o signo das possibilidades abertas: bastaria força de vontade para concretizar os sonhos. Assim, ao mesmo tempo em que os jovens experimentam desigualdades, eles vivem embalados por essa mensagem. É como se ela fosse válida para todos, mas nem todos chegam no topo. Quando um jovem negro escolhe prestar vestibular para História, ele está fazendo um cálculo de suas possibilidades.

A pirâmide de aspirações que você identificou não sinaliza uma nova situação?
O sinal que eu vi foi o seguinte: os jovens negros de Belo Horizonte recusavam a máxima do “fique em seu lugar”. Estão aspirando a um lugar que não é deles. Isso pode gerar frustração, mas pode pressionar por novas mudanças. O bônus, por exemplo, só surgiu a partir de uma pressão social.

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