Eduardo Nakamura recebe hoje Grande Prêmio Capes de Teses

O cientista da computação Eduardo Freire Nakamura recebe hoje, em cerimônia em Brasília, o Grande Prêmio Capes de Teses 2008. O trabalho foi defendido em 2007 no programa de pós-graduação do Departamento de Ciência da Computação do ICEx, UFMG, orientado pelo professor Antônio Alfredo Ferreira Loureiro. Denominada Fusão de dados em redes de sensores sem fio, a tese de doutorado propõe discussão geral e nova metodologia na área. Leia abaixo, entrevista concedida por Nakamura ao Boletim UFMG, logo após receber a notícia de sua premiação pela Capes, no início de junho.

A cerimônia em Brasília terá a participação do ministro da Educação, Fernando Haddad. Serão premiados 38 autores das melhores teses de doutorado defendidas em 2007 nas diversas áreas do conhecimento. A solenidade terá início às 18h, no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no Setor Bancário Norte.

Das 38 teses do Prêmio Capes, três foram selecionadas para o Grande Prêmio nas grandes áreas de ciências da saúde, ciências exatas e da terra, e ciências humanas. Os prêmios foram instituídos em 2005 para distinguir as melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas em cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação, considerados os quesitos originalidade e qualidade.

Além do trabalho de Nakamura, a tese de Manuel Valente Mangue, defendida pelo programa de pós-graduação em Ciência da Informação da UFMG, também foi incluída no rol das selecionadas para o Prêmio Capes de Tese de 2008. O trabalho foi orientado pela professora Helena Maria Tarchi Crivellari, sob o título: Consolidação do processo de informatização em sistemas de bibliotecas universitárias da África do Sul, Brasil e Moçambique.

Outras seis teses da UFMG receberam ainda o Prêmio, na categoria Menção Honrosa. Na área de Ciências Biológicas, Kezia Katiani Scopel foi premiada com o trabalho Diversidade genética e reconhecimento imune de proteinas de superficie de merozoitos de Plasmodium Falciparum (MSP-1 e MSP-2) em indivíduos expostos à malária no Brasil. O estudante Eduardo Gonçalves, com a tese Firma e território: três ensaios sobre inovação em ambientes periféricos, foi agraciaddo com menção honrosa da área de Economia.

Também receberam o prêmio, na área de Engenharia, o estudante Leonardo Castro, autor de Proposição de metodologia para avaliação dos efeitos da urbanização nos corpos de água; na área de Letras, Aléxia Duchowny, autora de De magia: edição e estudo; na área de Veterinária, Alcina Carvaho Neta, autora de Perfil de Expressão Gênica em Células Trofoblásticas Bovinas Durante a Infecção por Brucella abortus; e na área de Planejamento Urbano, Adriana Ribeiro, autora de Reconstrução de Histórias de Nascimentos a partir de Dados Censitários: Aspectos teóricos e evidências empíricas.

A divulgação dos selecionados foi feita pela Capes em 29 de maio. Esta é a terceira edição do Prêmio. Segundo informações divulgadas pela assessoria do órgão, foram inscritas 487 teses. Das 44 áreas do conhecimento, foram selecionadas pela comissão de premiação teses de 38. Do total de teses, a região Sudeste teve 388 inscritas; a Sul, 65; Centro-Oeste, 17; Nordeste, 16; e Norte, apenas uma.

O Prêmio Capes de Teses e o Grande Prêmio Capes de Tese foram instituídos no ano de 2005, com o objetivo de outorgar distinção às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) considerando os quesitos originalidade e qualidade.

Interesse alinhado
Em depoimento feito à reportagem do Boletim UFMG, em 9 de junho, Nakamura expôs uma síntese de seu trabalho e do interesse em "contribuir para os avanços da tecnologia de forma alinahda às questões ambientais". Sua contribuição, ainda que marcadamente teórica, já encontra repercussões significativas. Leia a íntegra da entrevista:

Por que o interesse em pesquisar redes de sensores sem fio (RSSF)? A metodologia proposta em sua tese já é objeto de alguma aplicação?
Redes de sensores possuem aplicações em diversos setores como indústria, ecologia, automação residencial, vilância de fronteiras, etc. Particularmente, para nosso país, a integração desta tecnologia com aplicações na área de meio ambiente possui um forte apelo e potencial devido as riquezas naturais do Brazil. No meu caso, sou amazonense, nascido em Manaus e tenho forte interesse em contribuir para os avanços da tecnologia de forma alinhada às questões ambientais. Atualmente, após o meu retorno à minha terra natal, estamos, junto com um grupo de professores e alunos (ligados à Fucapi, instituição onde atuo, e à Ufam, onde sou colaborador), desenvolvendo diversos projetos e orientando trabalhos com o foco em aplicações práticas voltadas para as particularidades da floresta amazônica. Alguns destes trabalhos, que tenho acompanhado de perto como orientador, envolvem rastreamento de animais e detecção de incêndios. Em ambos os projetos, desenvolvemos e utilizamos técnicas e conceitos diretamente relacionados com a minha tese de doutorado, que são as técnicas de fusão de dados.

O que é a fusão de dados?
De maneira simplificada podemos dizer que fusão de dados lida com o processamento de vários dados de entrada numa rede com o objetivo de extrair uma informação mais relevante. Por exemplo, no caso do rastreamento, os sensores nos oferecem dados de distância e pontos de referências e, através destas técnicas, podemos calcular onde exatamente um animal está na floresta e para onde ele está indo (em tempo real). Esta seria uma importante ferramenta para o acompanhamento de espécies em seu habitat, dispensando a presença (invasiva) humana. No caso da detecção de incêndios, aplicamos outras técnicas de fusão de dados para tentarmos "adivinhar" se está ocorrendo incêndios com base em informações simples de temperatura, luminosidade e umidade, coletadas pelos sensores. Estes trabalhos, ainda estão em fase inicial e como tudo na pesquisa, ainda levará um tempo para que tenhamos implementações estáveis e confiáveis em ambiente real. Entretanto, creio que estejamos no caminho certo.

Saberia avaliar as repercussões no meio acadêmico e no mercado de seu trabalho? Parece-me que a teoria desenvolvida no país está muito à frente do potencial da indústria nesse segmento...
Como este é um tema que permeia a fronteira do conhecimento, ainda existe uma distância considerável entre a indústria e a academia, principalmente em relação à indústrial nacional. Nosso trabalho foi e continua sendo apresentado em importantes congressos internacionais, onde temos a chance de trocar experiências com pesquisadores do mundo inteiro. Além dos diversos artigos resultantes do trabalho, tivemos dois tutoriais em duas grandes conferências, uma em Sidney, Austrália, e outra em Vancouver, Canadá; esta última (ACM Sigmod) é considerada uma das mais importantes conferências da ciência da computação. Embora já existam algumas empresas nos EUA que comercializem esta tecnologia, quando trabalhamos na fronteira do conhecimento, estamos sempre a frente da indústria. De fato, o mercado só aquece após o amadurecimento científico que cumina com a transferência de conhecimento da academia para a indústria. Em termos de citações, o conjunto de todos os trabalhos que tive a oportunidade de colaborar, com os resultados e conhecimentos resultantes de minha tese, temos uma quantidade significativa de trabalhos e citações. Ao acessarmos a base do Google Scholar, tenho 38 trabalhos, relacionados com o tema da tese, que somam (até a primeira semana de junho) 215 citações. Vale ressaltar que parte da tese foi publicada em 2007 como um survey no ACM Computing Surveys, que é o periódico de maior fator de impacto nos últimos cinco anos. Surveu é uma análise critica e minunciosa do estado-da-arte, onde levantamos os problemas em aberto e os desafios, no caso, relacionados a fusão de dados em redes de sensores sem fios.

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