O subcoordenador geral e coordenador de eventos do 41º Festival de Inverno da UFMG, Ernani Maletta, vê o evento diante de um dilema: ao mesmo tempo em que deve se abrir para atingir um público maior e conseguir patrocínio, não pode cair no mero entretenimento. Em sua opinião, as aulas abertas, nas ruas desde 2006, ainda que não representem a solução integral para o problema, podem ser um dos caminhos. Confira a entrevista. Como você vê a proposta das aulas abertas, que foram incorporadas há pouco tempo ao Festival? As aulas abertas e oficinas podem dar o tom da rota ser trilhada pelo Festival a partir de agora? Qual a relação disso com o fato de o Festival, hoje, não priorizar grandes eventos?
O projeto é fruto da convicção de que o Festival tem que invadir a cidade e alterar a rotina urbana. Com o tempo, ele perdeu recursos, diminuiu de tamanho e passou a afetar menos o dia-a-dia de Diamantina, a ficar muito fechado na sala de aula. Surgiu um desejo de abrir o Festival para a cidade, além dos eventos e espetáculos. Em 2005, ainda que informalmente, alguns professores saíram da sala de aula e participaram de oficinas nas ruas. Isso chamava muita atenção das pessoas. Desde 2006, estruturamos esse projeto de aulas abertas, muito bem recebido pela cidade.
Essa solução não vai atacar todos os complicadores que o Festival enfrenta. Qual o problema do festival? Ele não tem recursos. A gente tem que convencer que vale a pena investir recursos no Festival. Uma das maneiras de se fazer isso é mostrar como ele pode alterar o dia-a-dia da cidade, transformando-a num polo de criação cultural. Mostrar como um morador pode viver uma experiência definidora, transformadora da sua vida, independentemente de ser artista. Quanto mais o Festival estiver aberto à população, ao turista e ao patrocinador, mais chance ele terá de sobreviver, de atrair o grande patrocinador.
Quando eu falo em abrir o Festival, em momento algum quero falar de espetáculos comerciais. Não estou preocupado com o entretenimento. Ele é um elemento fundamental, não a prioridade. Ele pode estar ao lado da filosofia do festival, que é formativa. Mas a aposta do Festival na formação e na oficina não implica clausura. Deve haver espaço para as oficinas fechadas, não há dúvida. Mas defendo um espaço igual para outro tipo de oficina, aberta para a população e que alcance a cidade.