Um dos personagens mais tradicionais do Festival de Inverno, com mais de 20 anos de experiência na condução de oficinas, o artista plástico e professor Mário Zavagli aborda, nesta entrevista, o fio condutor da área de Artes Visuais I, baseado no tema da memória. E lembra que o Festival, a despeito do cenário de crise e transformações, não deve abrir mão de seu caráter de experimentação. A mesma lógica vale para as oficinas? A partir das discussões do “Seminário Festival de Inverno – Perspectivas da Cultura em um Cenário de Transformações”, que caminho a área de artes visuais pode tomar nos próximos anos?
Qual o fio condutor da área de Artes Visuais I este ano?
É a questão da memória, tema do projeto das oficinas e das duas exposições. Uma delas, “Gravuras Recentes”, de Clébio Maduro, reflete sobre uma arte baseada no realismo consolidada ao longo dos anos aqui em Diamantina. O outro trabalho, na mesma linha, é a pequena perspectiva de xilogravuras de Rubem Grilo – trouxemos 50 obras para cá. O objetivo é promover uma releitura da ideia de tradução e memória.
Nas oficinas está sendo discutido tudo o que foi realizado na história do Festival com relação aos lugares por onde ele passou e às linguagens de desenho e pintura. Uma das oficinas se chama “Cadernos de Viagem” e baseia-se em aquarelas inspiradas nas obras dos artistas viajantes do século XIX. A oficina vai funcionar ao ar livre, o dia todo, em vários lugares e no entorno da cidade. Outra oficina, que se conecta a oficinas de outras áreas, relaciona vestimenta e memória. Roupas serão confeccionadas a partir de elementos impregnados da memória particular de cada participante e da memória da cidade – a atividade tenta criar uma ponte entre a memória pessoal e a história de Diamantina, a presença da vida que emana dessa cidade e todo o seu passado e, com isso, criar vestimentas. É um misto de tradução e memória.
As possilidades estão abertas, pois o Festival deve ser, antes de mais nada, um laboratório fértil de mudanças e experimentações. Não há entre nós uma convicção arraigada, a não ser aquela que defende a liberdade de criar, tentar e praticar. Aqui é o lugar para errar, acertar e fazer as coisas. Não buscamos o resultado como um fim. O processo, se bem construído e trabalhado, vai gerar resultados.