O coordenador da área de Artes Visuais II do 41º Festival de Inverno, Rodrigo Minelli, professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG, defende a interatividade aluno-professor como recurso para ampliar a capacidade criativa das oficinas do evento. “A ideia da oficina como um lugar de ensino e aprendizado, o lugar do professor, que sabe, e dos alunos, que vão aprender, está esgotada”, afirma ele nesta entrevista, na qual também aposta no potencial das novas tecnologias como forma de representar o mundo e estabelecer novas conexões entre o real e o imaginário. Como o tema Traduções é trabalhado nas oficinas da área de Artes Visuais do Festival? Como vê a possibilidade de mudança no formato do Festival e o reflexo que ela causaria nas oficinas que ocorrem no evento? Como os novos recursos tecnológicos entram nas oficinas e produções artísticas visuais?
Todas as oficinas lidam com o que é concreto, material, real, histórico, geográfico e urbano e com as ideias de lembrança, memória, interpretação, subjetividade, sonho e lenda, presentes na dimensão do imaterial. Há um diálogo das lembranças, da subjetividade e da construção simbólica com o espaço urbano, concreto e real. O desafio é traduzir a primeira dimensão na segunda e a segunda na primeira. As ideias estão condicionadas ao local onde nasceram. Ao mesmo tempo, o próprio lugar é construído pelas ideias. Tentei estruturar as oficinas de artes visuais exatamente a partir da força desse diálogo.
Há algum tempo, tenho andado um pouco desacreditado do modelo de oficinas que adotamos, ou seja a ideia da oficina como um lugar de ensino e aprendizado – o lugar do professor, que sabe, e dos alunos, que vão aprender. Esse modelo está um tanto quanto esgotado, não só em relação ao Festival, mas também no que diz respeito à educação como um todo. Nos últimos festivais, realizamos o que chamamos de “Oficinão”, atividade interdisciplinar com várias áreas colaborando na execução de um projeto. Creio que é o modelo que pode trazer nova dinâmica ao Festival. Mais do que ensinar e aprender, acredito em uma relação de trabalho e colaboração conjunta, que faz com que as pessoas possam continuar aprendendo e ensinando, mas desierarquizando a relação professor-aluno.
Quando eu penso nas oficinas, penso em contemplar não só as áreas mais clássicas, como também introduzir novas tecnologias e mídias. Sempre procuro fazer, na medida do possível, o diálogo entre elas. Temos este ano a oficina do Cícero Silva e do Brett Stalbaum (Mídias Locativas: Produzindo Arte Digital com Celulares – Projeto Walkingtools), que lida com a questão da geolocalização, utilizando o GPS para aportar nele dados como sons, imagens e textos. André Hallak e Sagi Groner oferecem a oficina I-Google, que dialoga um pouco com a maneira pela qual utilizamos essas ferramentas para gerar conhecimento e que tipo de apropriação fazemos e de que maneira isso modifica nossa relação com a realidade. Eles propõem uma busca física em vez simplesmente de uma busca por palavras e pelo sentido delas. Você irá buscar objetos e imagens desses objetos, o que também faz essa relação do mundo real e com o virtual.
E, finalmente, a oficina do Bruno Vianna, Cinema ao Vivo, que representa um espaço para onde tudo isso pode convergir. A grande diferença do cinema ao vivo é que ele pode ter a resposta do público àquilo que está sendo exibido, como um elemento a mais na construção da narrativa. As tecnologias entram nas produções não como simples gadgets interessantes, mas como formas expressivas e novas maneiras de pensarmos e representarmos o mundo.