Existe algo que se possa classificar como uma essência feminina “menos corrupta”? A tentativa de responder a essa questão rendeu o prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, edição 2009, à socióloga Ana Luíza Melo Aranha, aluna de mestrado em Ciência Política da UFMG. Os resultados da premiação foram divulgados nesta segunda-feira, 22, em Brasília, e o trabalho Discursos femininos – um estudo sobre a relação entre mulheres e corrupção foi o ganhador da categoria Graduado, Especialista e Estudante de Mestrado. Orientada pela professora Marlise Matos, do Departamento de Ciência Política (DCP) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, Ana Luíza Melo Aranha é a terceira aluna do Departamento a vencer ou conquistar menção honrosa na premiação, que este ano chegou à sua quinta edição. O Prêmio é resultado de parceria entre CNPq, Ministério da Ciência e Tecnologia, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Ministério da Educação e do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. “É muito gratificante ver nossos alunos entre os vencedores, sobretudo porque essa iniciativa demonstra que se começa a valorizar uma área acadêmica que por muito tempo esteve fora do rol das ideias hegemônicas dos vários campos do saber”, analisa a professora Marlise Matos. Corrupção e gênero “Nossa percepção é a de que se realmente existir um diferencial de gênero no que diz respeito à corrupção, sua causa não deve ser buscada em uma ‘essência’ natural feminina ou masculina”, conclui, ao ressaltar que outros fatores podem influenciar na maneira como os dois sexos constroem a relação com o que é público, como trajetória de vida, participação em movimentos sociais e ligação com setores dominantes da sociedade. Ana Luíza Melo Aranha explica que a análise empírica mostrou que as entrevistadas “ainda fazem uma defesa da presença das mulheres no campo político, ressaltando as características morais femininas diferentes das masculinas”. Para a autora, uma possível explicação é a possibilidade de que as mulheres, em um ambiente político muito masculinizado como o brasileiro, optem por um discurso mais enfático, ressaltando as características diferentes entre elas e os homens “para se destacarem na multidão dos políticos”. O artigo Discursos femininos – um estudo sobre a relação entre mulheres e corrupção pode ser lido na íntegra.
Segundo a autora do artigo, seu ponto de partida foi a maneira como a Ciência Política, principalmente no campo internacional, tem tratado a relação entre corrupção e gênero. “Tendo em vista essa discussão teórica, investigamos a percepção que as mulheres – candidatas e eleitas – têm sobre a relação entre mulheres e corrupção”, comenta Ana Luíza Melo Aranha.