Metodologia desenvolvida no Instituto de Geociências da UFMG (IGC) e utilizada pela Prefeitura de Belo Horizonte para subsidiar intervenções em vilas e favelas é tema de artigo publicado na última edição da Revista Brasileira de Cartografia. A metodologia permitiu diagnóstico integrado, através de geoprocessamento, dos 219 conjuntos de assentamentos precários da cidade, e segundo os autores do trabalho pode ser usada em outras metrópoles, como Rio e São Paulo, com número muito maior de favelas. Sob o título Geoprocessamento no apoio a políticas do programa Vila Viva em Belo Horizonte (MG): intervenções em assentamentos urbanos precários, o artigo é assinado pela professora e arquiteta Ana Clara Mourão Moura, hoje na Escola de Arquitetura da UFMG, pelos então mestrandos Renata Oliveira, Sheyla Santana, América Soares e Gerson Freire, pelo engenheiro Marcilio Pereira, da Aluvial Engenharia (contratada pela prefeitura) e pela socióloga Vera Lucia Voll, da Fundação João Pinheiro. As vilas e favelas foram analisadas ao mesmo tempo, e o diagnóstico levou em consideração fatores como instabilidade geológico-geotécnica, erosão e situação das encostas, situação socioeconômica das populações, acesso a infraestrutura de água e esgoto e proximidade de vias asfaltadas. A coleta de dados utilizou imagens de satélite, o que viabilizou a classificação da cobertura vegetal, e fontes como o IBGE e a Fundação João Pinheiro. O trabalho foi concluído e 2008 e desde então orienta ações da prefeitura “O cruzamento das informações gerou subsídios para que a prefeitura, por meio da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), definisse hierarquia de prioridades relacionadas às intervenções”, explica o engenheiro e mestre pela UFMG Gerson Freire. Ele destaca ainda, como subproduto do trabalho, o impacto positivo que as mudanças de condições das favelas causam sobre as regiões no entorno. “Esses benefícios são monitorados ao longo do tempo. O entorno da Vila São José, no Aglomerado da Serra, por exemplo, já começa a perceber melhorias”, ele acrescenta. A chefe da Divisão de Projetos e Orçamentos da Urbel, Andrea Scalon Afonso, conta que a aplicação dos estudos da equipe formada no IGC possibilitou, num primeiro momento, a concessão da licença ambiental para o Programa Vila Viva como um todo. “Temos trabalhado muito bem com a metodologia, que foi alternativa inédita na área de diagnósticos de assentamentos, e recentemente houve redefinição das prioridades em função de decisões relacionadas ao orçamento participativo”, explica Andrea Scalon. Maturidade social
A professora Ana Clara Mourão Moura vem trabalhando há alguns anos na metodologia, já divulgada em livro. Ela conta que o trabalho da prefeitura de Belo Horizonte se baseou em enorme gama de variáveis, sintetizadas para a avaliação das vilas e favelas. “A escolha dos locais leva em consideração principalmente o nível de risco em que se encontra a comunidade e a maturidade social, ou seja, a condição que tem a comunidade de receber e participar da ação”, ela explica. A arquiteta e urbanista ressalta ainda a importância da aplicação prática de teorias e métodos. “Quando saio dos muros da Universidade, ganho mais segurança, como professora, para transmitir o conhecimento”, ela completa.