“A vizinhança interfere diretamente na capacidade de os idosos viverem bem”, afirma a fisioterapeuta Fabiane Ribeiro Ferreira, autora da tese de doutorado Envelhecimento e urbanização: o papel da vizinhança na funcionalidade do idoso da região metropolitana de Belo Horizonte, defendida em março, na Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo a pesquisadora, as condições físicas e sociais do lugar onde o idoso mora podem tanto promover sua independência e mobilidade quanto impedir que ele consiga realizar suas atividades de vida diária - tomar banho, pentear os cabelos ou sair para trabalhar -, tecnicamente chamadas de AVD. Ela chegou a esta conclusão após entrevistar 1611 pessoas, com mais de 60 anos de idade, todos moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte. (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG)
De acordo com estudo, a maioria dos idosos entrevistados na capital tem como preocupação o medo da violência. Oito em cada dez da amostra declararam que o receio de assaltos é o mais recorrente quando pensam em sair às ruas.
Além disso, quase 50% deles afirmaram que temem cair em decorrência de defeitos e obstáculos existentes nos passeios públicos - o que demonstra, segundo a pesquisa que, embora Belo Horizonte seja considerada uma cidade com boa infraestrutura, não está completamente adaptata a essa parcela da população. Por outro lado, o fato de residir em regiões da cidade com melhor estrutura básica, pode aumentar a independência dos idosos em 4,2 vezes.
O estudo revela ainda que a presença de pelo menos uma doença crônica diminui a chance de o idoso ser independente e eleva o número de atividades de vida diária realizadas com dificuldade.
Dificuldades
Foram avaliadas 15 diferentes atividades de vida diárias, como caminhar dois ou três quarteirões, subir dez degraus de escadas, sair de ônibus, entre outras. Entre os idosos entrevistados, 46% declararam ter dificuldades de realizar pelo menos uma das AVD’s estudadas. A mais difícil, na opinião geral, é subir dez degraus de escadas.
“Quando o idoso não sai de casa, ele pratica menos atividades físicas e tem mais dificuldades para se socializar”, alerta Fabiane Ferreira. Ser uma pessoa ativa é um dos meios de prevenir e tratar várias doenças como, por exemplo: osteoporose, diabetes, hipertensão arterial e, inclusive, depressão.
“Para evitar que os idosos de hoje e do futuro fiquem expostos a essas condições desfavoráveis é preciso melhorar a acessibilidade aos serviços, além de lazer, saúde e as condições da saúde física e mental dessas pessoas”, orienta a pesquisadora.
Realizada em 2003, a pesquisa também utilizou dados da Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte, como o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU), para avaliar a qualidade da infraestrutura na capital mineira.
As informações foram reunidas a partir de um inquérito de saúde desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento, Nespe-Fiocruz/UFMG, e pela Fundação João Pinheiro. A tese foi defendida em 3 de março, pelo programa de pós-graduação em saúde pública da Faculdade de Medicina da UFMG.