A autoralidade, a subjetividade, a análise de diferentes discursos sociais – entre os quais o religioso, o político, o jornalístico e o literário –, a hermenêutica e a gestão das fronteiras entre os discursos são alguns dos temas pertinentes ao campo Análise do Discurso, que tem mobilizado profissionais de áreas diversas. Essas e outras abordagens, presentes nas atividades do Núcleo de Análise do Discurso e em disciplinas do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PosLin), ambos da Faculdade de Letras (Fale), serão tema de minicurso ministrado esta semana no campus Pampulha pelo professor Dominique Maingueneau, da Universidade Paris XII. Um dos expoentes mundiais do tema, Maingueneau discutirá Problemáticas emergentes na análise do discurso com um público de 170 pessoas, entre alunos do PosLin e outros especialistas. As vagas para o curso já estão preenchidas. Dominique Maingueneau é autor de diversos livros, entre os quais Discurso Literário e Novas tendências em Análise do Discurso, ambos publicados também no Brasil. Sua vinda à UFMG foi organizada pelos professores Ida Lucia Machado e Wander Emediato de Souza, vice-diretor da Fale e coordenador do Núcleo de Análise do Discurso. Campo multidisciplinar Atualmente a área recebe demandas de vários campos do conhecimento, até mesmo de profissionais da saúde que desejam estudar, por exemplo, a relação médico-paciente como um discurso. A questão da interpretação de textos entre jovens brasileiros – a dificuldade nessa área é constatada frequentemente por pesquisas – tem grandes contribuições a receber da Análise do Discurso, que pode propor uma leitura crítica, capaz de fazer conexões com aspectos simbólicos dos textos, que ultrapasse a simples leitura informacional. "Isso é possível não só nas aulas de português e literatura, mas em diversas disciplinas, como a história", explica Wander Emediato, ao lembrar que até o estímulo para que os alunos leiam jornais e revistas deve ter como base a percepção de que a informação jornalística está relacionada a sistemas de valores, nem sempre explícitos no texto. Na verdade, ressalva Emediato, "o texto jornalístico é bem mais do que a sua informação explícita", há diferentes aspectos simbólicos envolvidos em todo tipo de informação. Cabe portanto ao leitor analisar criticamente as informações e entender por que determinado assunto se tornou notícia e a que ele remete como uma problemática social e ideológica mais ampla. Manipulação, influência ou jogos de linguagem? Assim, a suposta manipulação do leitor, por meio de palavras, expressões e opiniões, deve ser analisada e melhor investigada. “As comunidades discursivas partilham pontos de vista, modos de dizer e de ver o mundo, se deixam guiar por contratos de comunicação. Ou seja, os discursos sociais são inter-regulados, e os sujeitos, assim como os veículos de comunicação, elaboram seus discursos para serem reconhecidos e legitimados por sua própria comunidade”, explica o professor.
Segundo Wander Emediato, o campo da Análise do Discurso é multidisciplinar. Surgiu na França nos anos 1960 com o intuito de romper a hegemonia dos estudos da língua como sistema abstrato que se preocupava apenas com estruturas gramaticais e formais, sem relacionar a linguagem à sociedade e aos sujeitos que interagem através dela. À Análise do Discurso interessa compreender as condições de produção dos textos e das práticas de comunicação em todas as situações possíveis.
Ao destacar a capacidade do leitor de deduzir, inferir, estabelecer relações lógicas e tentar enxergar uma estratégia de persuasão no texto, a Análise do Discurso relativiza a questão da influência e se interessa também pelo estudo da argumentação nos discursos sociais. "Através de uma leitura crítica, o leitor deve ser capaz de ativar suas estratégias de contrainfluência, deixando de ser passivo para assumir uma posição dentro desses jogos de linguagem", acredita Emediato.