Diogo Domingues |
“O futuro do planeta depende dos países que ainda não estão completamente desenvolvidos, como o Brasil, a Índia e a Indonésia”, afirmou Yuan Tseh Lee, vencedor do Prêmio Nobel de Química em 1986, durante conferência no auditório da Reitoria nesta terça-feira, 3. Para o pesquisador, é preciso rever o conceito de desenvolvimento vigente, que é comumente associado ao american way of life. Segundo Lee, se todas as pessoas consumissem como os norte-americanos, seria necessário 5,4 planetas Terras para sustentar toda a população mundial. “Se vivéssemos como os indianos, precisaríamos apenas de 0,4 planeta Terra”, comparou. Nascido em Taiwan, Lee afirmou que cientistas do mundo todo devem trabalhar juntos para buscar alternativas de desenvolvimento sustentável e destacou a produção de biocombustíveis que vem sendo realizada no Brasil. “Sustentabilidade é desenvolver a sociedade sem comprometer as necessidades das gerações seguintes”, esclareceu. O pesquisador lembrou também a importância de se fortalecer o uso de materiais recicláveis e de fontes renováveis de energia, desenvolver geradores de energia nuclear mais eficientes, proteger ecossistemas, mantendo a biodiversidade e aprender a viver de forma saudável, em harmonia com a natureza. “Cientificamente, nós sabemos o que é preciso ser feito”, disse. O grande problema, segundo Lee, é o conflito de interesses entre cientistas e políticos. “Os políticos pensam a curto prazo, porque são eleitos e têm pouco tempo para acelerar a economia”, afirmou. Mas se os políticos não compreendem questões científicas, é preciso, na visão de Lee, que os cientistas também tentem entender como as decisões políticas são tomadas, sendo necessária uma “educação mútua”. Além disso, é preciso que a população escolha melhor seus representantes e cobre mais deles. Luz do Sol Na visão do pesquisador, todos querem imitar os Estados Unidos, inclusive Taiwan, cujos níveis de emissão de gás carbônico já preocupam. “Estamos diante de um dilema, pois chegamos a um ponto de saturação desse modelo de desenvolvimento”, alfinetou. À medida que o processo de globalização se acelera, argumentou Lee, fica evidente a necessidade de se criar uma espécie de “governo global”, capaz de resolver interesses de todo o mundo, além de conflitos entre países. “A União Europeia está indo muito bem nesse sentido”, exemplificou. Ele pontuou ainda a atuação do Conselho Internacional de Ciência, do qual é membro, cujo objetivo é promover interação científica internacional em benefício da humanidade. “Os cientistas têm que se envolver (com questões ambientais). Nós temos que acordar”, afirmou. Por fim, Lee relembrou que cabe aos países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, apontar modelos de vida que demandem menos consumo. “Vocês têm um futuro brilhante e uma grande responsabilidade”, concluiu.
Nascido em 1936, o pesquisador precisou aguardar o fim da Segunda Guerra Mundial para retornar às aulas, no terceiro ano do ensino fundamental. “Quando eu tinha 9 anos de idade, vivi nas motanhas, dependendo totalmente da luz do sol, mas eu era completamente feliz”, contou Lee, argumentando que o modelo de felicidade vendido por Hollywood é questionável.