É pouco provável que se reproduza no Brasil no curto prazo o padrão de campanha via web utilizado por Barack Obama nos Estados Unidos, mas isso não significa que as novas tecnologias não impactem as campanhas eleitorais e sejam meras reproduções de antigas mídias existentes fora do espaço virtual. Com essa observação, o pesquisador Sérgio Braga sintetiza a resposta à questão colocada em seu artigo Podemos ter um novo Obama? Perspectivas do uso da web no próximo pleito eleitoral brasileiro, publicado no periódico eletrônico Em Debate, do Departamento de Ciência Política da UFMG. Professor da Universidade Federal do Paraná, Braga chega a essa conclusão após fornecer em seu estudo rápido panorama do debate que o tema impôs entre cientistas políticos, comunicadores e estrategistas de campanhas políticas. Conforme registra o autor, antes do fenômeno Obama, a discussão entre esses grupos "se estruturava em torno dos potenciais da Web de gerar novas formas de democracia, para além das democracias representativas realmente existentes, dando origem a uma polarização radical entre os 'ciberpessimistas' ou 'cibercéticos' (para os quais a internet pouco altera as formas tradicionais de fazer política, apenas reproduzindo a 'política como usual' e os 'ciberotimistas' mais exultantes (para os quais a internet seria capaz de gerar novas formas de democracia 'deliberativa, direta, ou participativa' capazes mesmo de promover uma superação histórica, no longo prazo, das formas de democracia representativa realmente existentes). Foi a experiência de mobilização via web usada na campanha do atual presidente norte-americano que mudou o eixo do problema. Hoje, apesar do grande número de artigos publicados na imprensa, pouco se sabe sobre a nova dinâmica que o ambiente virtual estabeleceu em diferentes sociedades em períodos eleitorais. Nesse aspecto, Braga identifica pelo menos cinco situações para as quais se busca maior compreensão. Elas se referem a "como as novas tecnologias e a web influenciam a escolha dos candidatos e são utilizadas pelos partidos nas convenções partidárias; como a internet está sendo empregada pelos postulantes a cargos eletivos na definição e implementação das estratégias discursivas das campanhas e no processo de construção de imagem dos candidatos; como estão sendo efetivamente usados os espaços de participação e interação abertos pela internet ao longo das campanhas e pré-candidaturas; e como está sendo a recepção da internet pelo eleitorado e qual o seu peso na definição de suas preferências e decisões de voto". Rede fraca? Um deles refere-se à cultura política e cívica dos brasileiros e a suas especificidades em relação aos cidadãos norte-americanos, que estariam, ao contrários dos tupininquins, mais "envolvidos numa teia prévia de associativismo e redes sociais que os tornariam mais receptivos aos apelos das linguagens utilizadas pelas novas mídias. Ele exemplifica lembrando que na campanha de Obama isso se tornou evidente com o "alto índice de recrutamento de militantes para a campanha e arrecadação de contribuições financeiras voluntárias". Um segundo fator identificado por Braga é o contexto sociopolítico de determinadas sociedades, que condicionaria o uso da internet como mero extensor das antigas mídias, não provocando uma ruptura com o modelo tradicional de “espetacularização da politica” e sem abrir espaços significativos para o debate, conforme registra em seu texto. Por fim, o pesquisador da UFPR lembra que o "conjunto desses fatores, associados em última análise ao baixo grau de acesso da população brasileira às novas tecnologias e a internet, torna a maior parcela do eleitorado (ainda sob a influência de antigas formas de organização de campanha) pouco afeito à influência das novas tecnologias de comunicação em suas decisões de voto". Apesar desses aspectos e do que denomina "estágio embrionário" do uso dessas ferramentas por candidatos, em eleições já ocorridas no país, Sérgio Braga considera que elas abrem e indicam potencialidades que podem surpreender e "muito provavelmente devem se concretizar nos próximos pleitos". Tal perspectiva, no entanto, não é exclusiva ao Brasil. Como esquadrinha o autor, estudos sobre impactos das novas tecnologias em países de realidade socioinstitucional diferente da norte-americana mostram que o fenômeno Obama assume a posição de um outlier – "um parâmetro ou horizonte longínquo de ser alcançado", escreve. Leia aqui o texto completo do autor. Acompanhe, ainda, o comportamento das redes sociais nas eleições brasileiras pelo Observatório da Web, projeto liderado pela UFMG.
Como constata Braga, argumentos utilizados por cientistas sociais, jornalistas e profissionais do marketing político relativos a essas novas questões destacam fatores que impedem, no Brasil, que a web seja um recurso tão relevante em campanhas eleitorais como é nos Estados Unidos e em outros países democráticos e com maior inclusão digital de sua população.