Autora de livros – na forma de cadernos de anotações – que põem em destaque pequenos escritos e depoimentos do poeta brasileiro Manoel de Barros e da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, a professora da UFMG e escritora Lucia Castelo Branco, que não assina as obras na capa e na lombada, enfrenta problemas de direitos autorais. A Editora UFMG, responsável pelas edições, vai produzir uma sobrecapa em que não figure apenas o nome de Manoel de Barros – o que configura autoria, segundo os agentes do poeta. O episódio tem muito a ver com o tema de debate que será realizado neste sábado, 22, na Bienal do Livro de Minas. Convidada a participar com os escritores Cíntia Moskovich e Carlos de Britto e Melo – a mediação será de Vera Casa Nova, também escritora e professora da UFMG –, Lucia pretende responder à pergunta proposta (O autor pode ser devorado pela própria literatura?) com discussão sobre o papel do autor na contemporaneidade. A professora da Faculdade de Letras lembra, nesse sentido, a postura dos próprios Manoel de Barros, amigo de longa data, e Maria Gabriella Llansol, de quem também se tornou próxima. “Eles se colocam sujeitados a sua obra”, define Lucia. “Manoel gosta de se dizer o ‘sujeito ordinário’, ‘meio atrapalhado’, inclusive com relação a questões como os direitos autorais”, ela exemplifica. Os cadernos em que Lucia Castelo Branco homenageia os dois escritores – que foram objetos também de documentários concebidos por ela – estariam na contracorrente da pós-modernidade, que reconhece com muito mais intensidade o nome do autor. “O escritor aparece nos jornais, tem exposta sua vida íntima, mas ninguém conhece seus textos”, diz ela, descrevendo o que chama de “fenômeno da contemporaneidade”. A propósito, Lucia reproduz frase emblemática de Maria Gabriela Llansol, antes de se tornar reconhecida por um público mais amplo: “Se o meu texto não tiver a sua força, de nada adianta eu me dar a ver nos jornais”. O foco no valor dos escritos e da arte vai caracterizar também o planejado terceiro caderno da série de Lucia Castelo Branco (em parceria com a designer Maria José Boaventura), sobre a cantora Maria Bethania. O debate de sábado, com entrada franca, terá início às 15h30, e a Bienal do Livro de Minas se realiza no Expominas (avenida Amazonas, 6030, região da Gameleira, em Belo Horizonte).
Lucia Castelo Branco ressalta que já há algumas décadas pensadores como Michel Foucault e Roland Barthes questionavam o status do autor. “O campo do direito autoral não acompanha o debate teórico no que se refere ao estatuto da obra”, lamenta a professora, que diz preferir em sua produção a direção do conceito de Maurice Blanchot, que pregou o desaparecimento do autor em relação à própria obra.