Universidade Federal de Minas Gerais

Foca Lisboa
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Quem deve prevalecer, o autor ou a obra?, pergunta Lucia Castelo Branco

sexta-feira, 21 de maio de 2010, às 7h14

Autora de livros – na forma de cadernos de anotações – que põem em destaque pequenos escritos e depoimentos do poeta brasileiro Manoel de Barros e da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, a professora da UFMG e escritora Lucia Castelo Branco, que não assina as obras na capa e na lombada, enfrenta problemas de direitos autorais. A Editora UFMG, responsável pelas edições, vai produzir uma sobrecapa em que não figure apenas o nome de Manoel de Barros – o que configura autoria, segundo os agentes do poeta.

O episódio tem muito a ver com o tema de debate que será realizado neste sábado, 22, na Bienal do Livro de Minas. Convidada a participar com os escritores Cíntia Moskovich e Carlos de Britto e Melo – a mediação será de Vera Casa Nova, também escritora e professora da UFMG –, Lucia pretende responder à pergunta proposta (O autor pode ser devorado pela própria literatura?) com discussão sobre o papel do autor na contemporaneidade.

Lucia Castelo Branco ressalta que já há algumas décadas pensadores como Michel Foucault e Roland Barthes questionavam o status do autor. “O campo do direito autoral não acompanha o debate teórico no que se refere ao estatuto da obra”, lamenta a professora, que diz preferir em sua produção a direção do conceito de Maurice Blanchot, que pregou o desaparecimento do autor em relação à própria obra.

A professora da Faculdade de Letras lembra, nesse sentido, a postura dos próprios Manoel de Barros, amigo de longa data, e Maria Gabriella Llansol, de quem também se tornou próxima. “Eles se colocam sujeitados a sua obra”, define Lucia. “Manoel gosta de se dizer o ‘sujeito ordinário’, ‘meio atrapalhado’, inclusive com relação a questões como os direitos autorais”, ela exemplifica.

Os cadernos em que Lucia Castelo Branco homenageia os dois escritores – que foram objetos também de documentários concebidos por ela – estariam na contracorrente da pós-modernidade, que reconhece com muito mais intensidade o nome do autor. “O escritor aparece nos jornais, tem exposta sua vida íntima, mas ninguém conhece seus textos”, diz ela, descrevendo o que chama de “fenômeno da contemporaneidade”. A propósito, Lucia reproduz frase emblemática de Maria Gabriela Llansol, antes de se tornar reconhecida por um público mais amplo: “Se o meu texto não tiver a sua força, de nada adianta eu me dar a ver nos jornais”. O foco no valor dos escritos e da arte vai caracterizar também o planejado terceiro caderno da série de Lucia Castelo Branco (em parceria com a designer Maria José Boaventura), sobre a cantora Maria Bethania.

O debate de sábado, com entrada franca, terá início às 15h30, e a Bienal do Livro de Minas se realiza no Expominas (avenida Amazonas, 6030, região da Gameleira, em Belo Horizonte).