As mulheres superam os homens no que se refere a acesso, permanência e conclusão de cursos universitários, mas ainda são minoria nos cargos de destaque em instituições de ciência e tecnologia, desfrutam menos prestígio e ganham salários menores. Por que isso acontece e o que fazer para mudar esse quadro é o que investiga o Grupo de Estudos em Gênero, Sexualidade e Sexo em Educação (GSS), da Faculdade de Educação da UFMG (FaE). Financiado pela CNPq e com a participação da Universidade de Lyon, o projeto envolve estudo qualitativo sobre as trajetórias pessoais e acadêmicas das mulheres que quebraram barreiras e mantêm posições de destaque nas instituições. Objetivos e alguns resultados iniciais do estudo serão abordados em encontro hoje, a partir das 14h, na FaE, promovido pelo GSS e conduzido pela coordenadora do grupo, professora Adla Betsaida Martins Teixeira. O primeiro momento da pesquisa inclui a área de Física de dois centros universitários no país (que não podem ser revelados por razões éticas), e o próximo campo de estudo será o da engenharia. Além de mulheres consideradas bem-sucedidas, são entrevistados colegas e alunos de ambos os sexos. “Nosso objetivo é um estudo da micropolítica das organizações, focando sempre em questões de gênero. As entrevistas buscam um universo amplo porque as mulheres que conseguiram chegar mais longe influenciam e são influenciadas por outas mulheres e homens”, explica Adla Teixeira. Segundo ela, as mulheres bem-sucedidas relatam em suas histórias um elemento (pai, professor ou uma mulher interessante) que ajudou a quebrar estereótipos na área das ciências. Ainda de acordo com Adla Teixeira, dados do Relatório Pisa (estudo internacional no campo de educação) têm mostrado que, nas séries iniciais da escola, não há diferença entre crianças dos sexos masculino e feminino no que se refere ao interesse pela ciência. “O desinteresse das moças se manifesta a partir dos 15 anos. Algo aconteceu na escola para provocar esse estranhamento. Se a escola é decisiva, ela poderá atuar também para ajudar a romper essa segregação de papéis”, afirma a coordenadora. Dados já disponíveis revelam ainda que mesmo as mulheres de maior sucesso sofrem discriminação em suas instituições, envolvendo de diferenças de remuneração a dificuldades de conciliação com a vida familiar, passando por episódios de assédio de naturezas diversas. Reeducação Ainda segundo Adla Teixeira, esse processo de inclusão trata, no fim das contas, de ampliação de acesso ao conhecimento e, por consequência, de promoção de direitos humanos. “O acesso à informação evita a marginalização e a manipulação dos indivíduos”, completa a professora da FaE. O encontro do GSS será na sala de teleconferências da FaE, aberto ao público. Outras informações pelo telefone 3409-6192.
Entre os resultados mais importantes do projeto de pesquisa, Adla Teixeira vislumbra a elaboração de propostas de uma nova linguagem para os cursos e de criação de políticas institucionais baseadas em ações afirmativas de gênero. “Essas políticas vão possibilitar o questionamento de comportamentos discriminatórios e o empoderamento das vítimas”, diz a pesquisadora. “As gestões deverão ser capazes de criar maneiras de proteger os indivíduos e reeducar os violadores.”