Ao mesmo tempo em que busca resgatar sua identidade e fortalecer práticas culturais tradicionais em aspectos tão diversos quanto vestimentas, alimentação e língua, o povo xacriabá precisa aprender a lidar com problemas decorrentes da inexorável entrada do mercado nas aldeias. Parte dessa experiência será relatada no Seminário de Diamantina, nesta quinta-feira, 27, pelos professores Ana Maria Gomes, da Faculdade de Educação, e Roberto Monte-Mór, da Faculdade de Ciências Econômicas. Ao falar sobre o tema Conhecendo a economia xakriabá: lições a partir de uma pesquisa participativa em terra indígena, os professores fornecerão dados sobre o trabalho que vem sendo realizado pela UFMG, desde 2004, com o intuito de ajudar o povo xacriabá a conviver com essa contraditória realidade. Com uma população de aproximadamente oito mil pessoas, os xacriabás moram em cerca de 50 aldeias, em reserva no município de São João das Missões, no Norte de Minas Gerais, e há alguns anos vêm se mobilizando para obter apoio de ministérios e de instituições de ensino, como a UFMG, para fazer frente às demandas colocadas pelo mundo contemporâneo. Diagnóstico “Também montamos projeto de formas alternativas de economia, que resultou, por exemplo, na construção de uma Casa de Cultura, para que a comunidade possa retomar o artesanato”, relata Monte-Mór. “A primeira já está em fase de conclusão, e serão construídas mais três, em outras aldeias”, acrescenta. Outra vertente na busca pela geração de renda está voltada para a produção de tijolos de solo-cimento, mistura prensada de terra com cimento, sem que haja necessidade do processo de queima. “Eles têm uma variedade muito grande de argilas e solos”, comenta o professor, ao dizer que também há investimento na produção de telhas, para evitar a compra do produto fora das aldeias. Além disso, com apoio da UFMG, há estudos de formas de vedação com a utilização de palhas. “Trata-se de um resgate e de uma modernização de técnicas construtivas, para uso local e, eventualmente, a produção voltada para o mercado externo”. Os recursos para os projetos vêm do governo federal, por meio de alguns ministérios, e até de fontes externas, a exemplo da província de Módena (Itália), que custeou parte da obra da Casa de Cultura. Além disso, a comunidade xacriabá elegeu em 2004 e reelegeu em 2008, como prefeito de São João das Missões, o antigo diretor das escolas xacriabá, José Nunes de Oliveira. “A cidade tem cinco vereadores e alguns secretários xacriabás, que apoiam e fortalecem os projetos da comunidade”, conta Roberto Monte-Mór.
Segundo Roberto Monte-Mór, o diagnóstico da economia xacriabá foi realizado pelos índios mais jovens, com acompanhamento das lideranças locais. Com o apoio da UFMG, uma série de projetos foi desenvolvida nos últimos anos, como recuperação de nascentes e construção de reservatórios para água de chuva.
Os xacriabás também têm investido na agricultura alternativa – com o uso frutos do cerrado para a produção de polpa e doces – e no resgate de práticas antigas, como a construção de casa coletiva de produção de farinha em algumas aldeias.