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Diversas escritoras mineiras com ótima recepção de crítica em suas respectivas épocas – como as irmãs Maria Lucia e Maria Ângela Alvim, premiadas nos anos 1940 – não têm suas obras reeditadas e acabam esquecidas. O resgate desses nomes – ao lado da pesquisa e da valorização da literatura feminina – está entre as preocupações do Grupo de Estudos Letras de Minas, formado por professores e alunos da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG. “Nosso objetivo é conhecer a literatura brasileira de autoria feminina, uma produção rica e intrigante que ainda é muito pouco estudada”, afirma a professora Constância Lima Duarte, coordenadora do grupo. Depois de publicar o livro Mulheres em letras – Antologia de escritoras mineiras (Editora Mulheres), o grupo promove esta semana (dias 10 e 11, no auditório 2001 da Fale) a segunda edição de seu colóquio anual destinado a divulgar pesquisas e reunir depoimentos de escritoras. O evento vai receber Tânia Diniz, Cidinha da Silva, Maria Esther Maciel e Branca Maria de Paula. Os estudos envolvem desde dados biográficos e contextuais até questões de estilo e abordagem literária. “Além da qualidade do trabalho, estamos atentos a como as escritoras se posicionam com relação a diversos temas, sobretudo as questões femininas, como identidades e comportamento”, diz a coordenadora, que lembra outro caso de resgate envolvendo irmãs. Quando pesquisavam sobre Laís Corrêa de Araújo Ávila – que morreu em 2006 –, integrantes do Grupo Letras de Minas tiveram a oportunidade de estreitar contato com as obras de Zilah e Maria Lísia. “O esquecimento a que muitas escritoras acabam relegadas tem muito a ver com o fato de serem mulheres”, ressalta a professora Constância Duarte. Pesquisa instigante Mesmo escritoras consagradas são alvos das pesquisas. Foi o caso, mais uma vez, de Laís Corrêa de Araújo, mais conhecida como ensaísta e crítica, e que teve “iluminado” seu lado poeta. E o grupo está sempre atento também, segundo Constância Duarte, ao surgimento de novidades na literatura feminina. “Hoje se destaca, por exemplo, um grupo de escritoras mineiras que denuncia a condição subalterna da mulher negra. São nomes como Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves e Cidinha da Silva”, enumera a pesquisadora. O II Colóquio Mulheres em Letras: Poesia, Ficção, Crítica acontece hoje e amanhã (quinta e sexta-feira) das 9h às 11h30 e das 19h às 21h30.
O trabalho do Grupo Letras de Minas não é fácil. A doutoranda (em Literatura Brasileira) Maria do Rosário Alves Pereira conta que a pesquisa começa com a busca de pistas em dicionários de autores e comentários de historiadores, e passa por bibliotecas e sebos. “É difícil encontrar material, e muitas vezes nem as próprias escritoras têm exemplares de toda a sua obra. Isso torna a pesquisa mais instigante e útil, uma vez que recupera literatura de qualidade avalizada por críticos de outras épocas e desconhecida por muitos atuais”, diz uma das 16 integrantes do grupo de estudos da Fale, que publica o jornal impresso Letras de Minas.